La double vie de Véronique, Krzysztof Kieślowski, 1991
paisagem
Vedes essa perna humana dependurada da lua
Como uma árvore crescendo para baixo
Essa perna temível que flutua no vazio
Iluminada apenas pelos raios
Da lua e o ar do esquecimento?
Nicanor Parra, trad. Albano Martins
Como uma árvore crescendo para baixo
Essa perna temível que flutua no vazio
Iluminada apenas pelos raios
Da lua e o ar do esquecimento?
Nicanor Parra, trad. Albano Martins
ou a empatia
Há-de haver um fundo inesperado no extremo oposto onde
morrem os sonhos, sob os pés onde procuramos a própria
sombra, fundida talvez à luz que um dia ameaçou o regresso
das dores passadas, logo a seguir à infância, muito antes da
poesia.
António Quadros Ferro
morrem os sonhos, sob os pés onde procuramos a própria
sombra, fundida talvez à luz que um dia ameaçou o regresso
das dores passadas, logo a seguir à infância, muito antes da
poesia.
António Quadros Ferro
o espelho
O céu inteiriçou-se a todo o comprimento
Do vidro ao levantar a persiana.
Levou as mãos ao rosto, atravessou a sala, ao canto
Da qual reinava o espelho, e aproximou-se
Dele como o não fazia há muitos anos.
Luís Miguel Nava
Do vidro ao levantar a persiana.
Levou as mãos ao rosto, atravessou a sala, ao canto
Da qual reinava o espelho, e aproximou-se
Dele como o não fazia há muitos anos.
Luís Miguel Nava
momento de poesia
Se escrevo ou leio ou desenho ou pinto
logo me sinto tão atrasado
no que devo à eternidade,
que começo a empurrar p’ra diante o tempo
e empurro-o, empurro-o à bruta
como empurra um atrasado
até que cansado me julgo satisfeito.
(Tão gémeos são
a fadiga e a satisfação!)
Em troca, se vou por aí
sou tão inteligente a ver tudo o que não é comigo,
compreendo tão bem o que não me diz respeito,
sinto-me tão chefe do que está fora de mim,
dou conselhos tão bíblicos aos aflitos de uma aflição
que não a minha,
que, sinceramente, não sei qual é melhor:
se estar sozinho em casa a dar à manivela da vida,
se ir por ai e ser Rei de tudo o que não é meu.
Almada Negreiros
logo me sinto tão atrasado
no que devo à eternidade,
que começo a empurrar p’ra diante o tempo
e empurro-o, empurro-o à bruta
como empurra um atrasado
até que cansado me julgo satisfeito.
(Tão gémeos são
a fadiga e a satisfação!)
Em troca, se vou por aí
sou tão inteligente a ver tudo o que não é comigo,
compreendo tão bem o que não me diz respeito,
sinto-me tão chefe do que está fora de mim,
dou conselhos tão bíblicos aos aflitos de uma aflição
que não a minha,
que, sinceramente, não sei qual é melhor:
se estar sozinho em casa a dar à manivela da vida,
se ir por ai e ser Rei de tudo o que não é meu.
Almada Negreiros
madrugadas do amor
Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus, em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma beberá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.
Sophia de Mello Breyner Andresen
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus, em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma beberá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.
Sophia de Mello Breyner Andresen
haven be a xanax
When people say how are you
I say good
It is a rule no one can answer
Crying in The Gap by my therapist’s office
or I am still angry with my parents
for traumatizing me
through organized sports
Dangerous and satisfying body of water
I can almost remember heaven
or Still a woman slaughtered for wonder
or Unfortunately misplaced grip
I am not doing a good job waiting
When I get to heaven I’m going
to wear my good bra
so no one can stay mad at me
I won’t have any feelings to hurt just
cheeseburgers on cheeseburgers on
deep colored slumber
Just men offering their golden bodies
And I will take the offering on my tongue
And it will not be a vault
And someone will not invade me
And I will kneel to pray
And I will address the prayer to myself
And I will be allowed
Morgan Parker
I say good
It is a rule no one can answer
Crying in The Gap by my therapist’s office
or I am still angry with my parents
for traumatizing me
through organized sports
Dangerous and satisfying body of water
I can almost remember heaven
or Still a woman slaughtered for wonder
or Unfortunately misplaced grip
I am not doing a good job waiting
When I get to heaven I’m going
to wear my good bra
so no one can stay mad at me
I won’t have any feelings to hurt just
cheeseburgers on cheeseburgers on
deep colored slumber
Just men offering their golden bodies
And I will take the offering on my tongue
And it will not be a vault
And someone will not invade me
And I will kneel to pray
And I will address the prayer to myself
And I will be allowed
Morgan Parker
autobiografia
A vida que levo é muto sossegada.
Passo os dias no café do Mike
a admirar os campeões
do Grupo Dante de Bilhar
e os viciados dos matraquilhos.
A vida que levo é muito sossegada
na zona leste da Broadway.
Sou americano.
Sempre fui um rapaz tipicamente americano.
Lia o Magazine dos Rapazes Americanos
e tornei-me escuteiro
nos subúrbios.
Sentia-me o Tom Sawyer
ao pescar caranguejos do rio na Bronx
mas a pensar no Mississípi.
Tive uma luva de baseball
e uma bicicleta American Flyer.
Distribuí o Woman´s Home Companion
às cinco da tarde
e o Herald Tribune
às cinco da manhã.
Ainda julgo estar a ouvir o barulho do jornal ao cair
nos terraços para onde eu o atirava.
Tive uma infância infeliz.
Vi Lindberg aterrar.
Olhei com saudade para o meu torrão natal
mas não vi nenhum anjo, ao contrário do Thomas Wolfe.
Fui apanhado a roubar lápis
no supermercado
no mesmo mês em que fui promovido a Escuteiro-Chefe.
Derrubei árvores para o Departamento da Agricultura
e sentei-me nelas.
Desembarquei na Normandia
num barco a remos que se voltou.
Vi os exércitos tão cultos
na praia de Dover.
Vi pilotos egípcios em nuvens púrpura
lojistas a correrem os taipais
ao meio-dia
salada de batatas e flores
em piqueniques anarquistas.
Estou a ler «Lorna Doone»
e uma biografia do João Máximo
que era o terror dos capitães de indústria
e tinha sempre uma bomba na gaveta da secretária.
Vi os homens da limpeza desfilarem
no dia comemorativo de Colombo
atrás das fanfarras ruidosas
e malcheirosas.
Há que tempos que não vou visitar os Claustros
ou as Tulherias
mas continuo a fazer tenção
de lá ir.
Vi os homens da limpeza desfilarem
debaixo da neve que caía.
Comi cachorros quentes nas feiras.
Ouvi o Discurso de Gettysburg
e os discursos de Ginsberg.
Gosto disto aqui
e não voltarei
para donde vim.
Também eu, como o Ginsberg,
viajei em vagões-jota vagões-jota vagões-jota.
Também eu viajei no meio de desconhecidos.
Estive na Ásia.
Estive com Noé na Arca.
Quando Roma foi construída
estava eu na Índia.
Estive na Manjedoura
com o Burro.
Da Montanha Branca
ao sul de São Francisco
vi o Distribuidor Eterno
e no Luna Parque vi a Mulher que Ri
na Barraca das Gargalhadas
sob uma bátega de água
mas sempre a rir.
Tenho ouvido à noite os ruídos
das grandes pândegas.
Tenho vagueado tão solitário
como as solitárias multidões.
A vida que levo é muito sossegada.
Passo os dias à porta do café do Mike
a ver o mundo passar por mim
em tão variados sapatos.
Empreendi uma vez
uma viagem a pé à volta do mundo
mas quando dei por mim estava em Brooklyn.
Não consegui fugir à Ponte de Brooklyn.
Em silêncio maquinei
exílio e engenho.
Voei demasiado perto do sol
e as minhas asas de cera derreteram-se.
Ando à procura do meu Velho
que nunca conheci.
Ando à procura do Chefe Perdido
com quem voei.
Os jovens deviam ser exploradores.
O lar é o lugar donde se parte.
Mas a minha Mãe nunca me preveniu
de que havia cenas como esta.
Cansado do útero materno
descanso.
Tenho viajado.
Visitei a cidade dos Fantasmas.
Conheço a maçada das massas.
Ouvi chorar o Kid Ory.
Ouvi um trombone a pregar.
Ouvi Debussy
filtrado pelo meu lençol.
Dormi numa centena de ilhas
onde os livros eram árvores.
Ouvi pássaros
cujo chilreio parecia o dobrar dos sinos.
Usei calças de flanela
e passeei-me pela praia do inferno.
Vivi numa centena de cidades
onde as árvores eram livros.
Que metropolitanos que táxis que cafés!
Que mulheres de seios cegos
e membros perdidos no meio de arranha-céus!
Nas encruzilhadas
vi estátuas dos heróis.
Danton em lágrimas na entrada de um metropolitano
Colombo em Barcelona
a apontar nas Ramblas para o Ocidente
na direcção do American Express
Lincoln no seu trono de pedra
E um enorme Rosto de Pedra
no Dacota do Norte.
Bem sei que o Colombo
não inventou a América.
Ouvi uma centena de Ezra Pounds domesticados.
Deviam ser todos libertados.
Já passou imenso tempo desde que fui guardador de rebanhos.
A vida que levo é muito sossegada.
Passo os dias no café do Mike
a ler os anúncios classificados.
Li de ponta a ponta
as Selecções do Reader´s Digest
e notei a perfeita identificação
entre os Estados Unidos e a Terra Prometida
onde todas as moedas têm a inscrição
«Em Deus Confiamos»
mas as notas de dólar não a têm
porque elas próprias já são Deus.
Todos os dias leio os anúncios da secção «Precisa-se»
à procura de uma pedra uma folha
uma porta jamais encontrada.
Nas Páginas Amarelas
ouço a América a cantar.
Ninguém diria
que a alma passa crises.
Todos os dias leio os anúncios
e noto a ausência da humanidade
nessa triste pletora de caracteres de imprensa.
Vejo que esvaziaram o Lago de Walden
para no sue lugar construírem um parque de diversões.
Vejo que estão a obrigar o Melville
a comer a sua própria baleia.
Vejo que vem aí uma nova guerra
mas quando ela vier não estarei eu cá para tomar parte.
Li os desígnios do destino
escritos nas paredes do telheiro.
Fui eu quem ajudou o Kilroy a escrevê-los.
Marchei pela Quinta Avenida acima
tocando clarim num pelotão cerrado
mas apressei-me a voltar para o Casbah
à procura do meu cão.
Noto que há uma certa semelhança
entre os cães e eu.
Os cães são os verdadeiros observadores
dos altos e baixos
da terra de Molloy.
Calcorreei becos e vielas
Estreitas de mais para Chryslers.
Vi uma centena de carroças do leite sem cavalos
num lote de terreno devoluto em Astoria.
Tenho ouvido o solo do ferro-velho.
Tenho percorrido as auto-estradas
e acreditado nas promessas dos cartazes
Atravessado as planícies de Jersey
e visto as Cidades Planas
E sulcado as terras ermas de Westchester
cruzando-me com bandos errantes de nativos
em station wagons.
Tenho-os visto.
Eu sou o Homem.
Estive lá.
Sofri
um tanto ou quanto.
Sou Americano.
Tenho passaporte.
Mas não sofri em público.
E sou novo de mais para morrer.
Sou um homem que se fez a si-próprio.
E tenho projectos para o futuro.
Estou na bicha
para um bom emprego.
Talvez me mude
para Detroit.
Ando a vender gravatas, mas isso
não passa de um trabalho temporário.
Sou um tipo às direitas.
Sou um livro aberto
para o meu patrão.
Sou um mistério impenetrável
para os meus amigos mais íntimos.
A vida que levo é muito sossegada.
Passo os dias no café do Mike
a contemplar o umbigo.
Sou uma parte
da longa loucura deste corpo.
Tenho vagueado em vários bosques nocturnos.
Tenho-me amparado em portais embriagados.
Tenho escrito contos despenteados
sem qualquer pontuação.
Eu sou o Homem.
Sofri
um tanto ou quanto.
Sentei-me em cadeiras de cansaço.
Sou uma lágrima do sol.
Sou uma colina
onde os poetas correm.
Inventei o alfabeto
depois de observar o voo das gruas
que fazem letras com as pernas.
Sou um lago numa planície.
Sou uma palavra
numa árvore.
Sou uma colina de poesia.
Sou uma operação de «comandos»
na zona do inarticulado
como o Elliot.
Sonhei
que os dentes todos me caíam
mas a minha língua sobrevivia
para contar como foi.
Porque sou um silêncio
poético.
Sou um banco de canções.
Sou uma pianola mecânica
num casino abandonado
numa esplanada à beira-mar
num nevoeiro espesso
mas sempre a tocar.
Noto que há uma certa semelhança
entre a Mulher que Ri
e eu.
Tenho ouvido o som do Verão
na chuva.
Tenho visto raparigas nas faixas de paragem
vítimas de complicadas sensações.
Percebo as suas hesitações.
Sou um colhedor de frutos.
Tenho visto como os beijos
têm consequências de euforia.
Tenho-me arriscado
a ficar encantado.
Vi a Virgem
numa macieira em Chartres
e Santa Joana a arder
na Bela Union.
Tenho visto girafas em selvas e ginásios
com os pescoços como o amor
entrelaçados nas circunstâncias de ferro forjado
deste mundo.
Tenho visto a Venus Afrodite
sem braços no corredor cheio
de correntes de ar.
Ouvi uma sereia a cantar
no número um da Quinta Avenida.
Vi a Deusa Branca a dançar
na Rue des Beaux Arts
no dia Catorze de Julho
e a Bela Dama sem Mercê
a tirar macacos do nariz no Chumley´s.
Ela não falava inglês.
Tinha cabelo amarelo
e voz rouca
e não se ouvia o canto de nenhuma ave.
A vida que levo é muito sossegada.
Passo os dias no café do Mike
a observar os jogadores de bilhar de bolsas
integrado naquele cenário
devorando macarroni
e li algures
o Significado da Existência
mas esqueci
exactamente onde.
Mas sou o Homem
E estarei lá.
E talvez ainda faça falar
os lábios da gente adormecida.
E talvez transforme em relva
os meus cadernos de apontamentos.
E talvez ainda escreva o meu
anónimo epitáfio
pedindo aos cavaleiros
que se não detenham.
Lawrence Ferlinghetti, trad. José Palla e Carmo
Passo os dias no café do Mike
a admirar os campeões
do Grupo Dante de Bilhar
e os viciados dos matraquilhos.
A vida que levo é muito sossegada
na zona leste da Broadway.
Sou americano.
Sempre fui um rapaz tipicamente americano.
Lia o Magazine dos Rapazes Americanos
e tornei-me escuteiro
nos subúrbios.
Sentia-me o Tom Sawyer
ao pescar caranguejos do rio na Bronx
mas a pensar no Mississípi.
Tive uma luva de baseball
e uma bicicleta American Flyer.
Distribuí o Woman´s Home Companion
às cinco da tarde
e o Herald Tribune
às cinco da manhã.
Ainda julgo estar a ouvir o barulho do jornal ao cair
nos terraços para onde eu o atirava.
Tive uma infância infeliz.
Vi Lindberg aterrar.
Olhei com saudade para o meu torrão natal
mas não vi nenhum anjo, ao contrário do Thomas Wolfe.
Fui apanhado a roubar lápis
no supermercado
no mesmo mês em que fui promovido a Escuteiro-Chefe.
Derrubei árvores para o Departamento da Agricultura
e sentei-me nelas.
Desembarquei na Normandia
num barco a remos que se voltou.
Vi os exércitos tão cultos
na praia de Dover.
Vi pilotos egípcios em nuvens púrpura
lojistas a correrem os taipais
ao meio-dia
salada de batatas e flores
em piqueniques anarquistas.
Estou a ler «Lorna Doone»
e uma biografia do João Máximo
que era o terror dos capitães de indústria
e tinha sempre uma bomba na gaveta da secretária.
Vi os homens da limpeza desfilarem
no dia comemorativo de Colombo
atrás das fanfarras ruidosas
e malcheirosas.
Há que tempos que não vou visitar os Claustros
ou as Tulherias
mas continuo a fazer tenção
de lá ir.
Vi os homens da limpeza desfilarem
debaixo da neve que caía.
Comi cachorros quentes nas feiras.
Ouvi o Discurso de Gettysburg
e os discursos de Ginsberg.
Gosto disto aqui
e não voltarei
para donde vim.
Também eu, como o Ginsberg,
viajei em vagões-jota vagões-jota vagões-jota.
Também eu viajei no meio de desconhecidos.
Estive na Ásia.
Estive com Noé na Arca.
Quando Roma foi construída
estava eu na Índia.
Estive na Manjedoura
com o Burro.
Da Montanha Branca
ao sul de São Francisco
vi o Distribuidor Eterno
e no Luna Parque vi a Mulher que Ri
na Barraca das Gargalhadas
sob uma bátega de água
mas sempre a rir.
Tenho ouvido à noite os ruídos
das grandes pândegas.
Tenho vagueado tão solitário
como as solitárias multidões.
A vida que levo é muito sossegada.
Passo os dias à porta do café do Mike
a ver o mundo passar por mim
em tão variados sapatos.
Empreendi uma vez
uma viagem a pé à volta do mundo
mas quando dei por mim estava em Brooklyn.
Não consegui fugir à Ponte de Brooklyn.
Em silêncio maquinei
exílio e engenho.
Voei demasiado perto do sol
e as minhas asas de cera derreteram-se.
Ando à procura do meu Velho
que nunca conheci.
Ando à procura do Chefe Perdido
com quem voei.
Os jovens deviam ser exploradores.
O lar é o lugar donde se parte.
Mas a minha Mãe nunca me preveniu
de que havia cenas como esta.
Cansado do útero materno
descanso.
Tenho viajado.
Visitei a cidade dos Fantasmas.
Conheço a maçada das massas.
Ouvi chorar o Kid Ory.
Ouvi um trombone a pregar.
Ouvi Debussy
filtrado pelo meu lençol.
Dormi numa centena de ilhas
onde os livros eram árvores.
Ouvi pássaros
cujo chilreio parecia o dobrar dos sinos.
Usei calças de flanela
e passeei-me pela praia do inferno.
Vivi numa centena de cidades
onde as árvores eram livros.
Que metropolitanos que táxis que cafés!
Que mulheres de seios cegos
e membros perdidos no meio de arranha-céus!
Nas encruzilhadas
vi estátuas dos heróis.
Danton em lágrimas na entrada de um metropolitano
Colombo em Barcelona
a apontar nas Ramblas para o Ocidente
na direcção do American Express
Lincoln no seu trono de pedra
E um enorme Rosto de Pedra
no Dacota do Norte.
Bem sei que o Colombo
não inventou a América.
Ouvi uma centena de Ezra Pounds domesticados.
Deviam ser todos libertados.
Já passou imenso tempo desde que fui guardador de rebanhos.
A vida que levo é muito sossegada.
Passo os dias no café do Mike
a ler os anúncios classificados.
Li de ponta a ponta
as Selecções do Reader´s Digest
e notei a perfeita identificação
entre os Estados Unidos e a Terra Prometida
onde todas as moedas têm a inscrição
«Em Deus Confiamos»
mas as notas de dólar não a têm
porque elas próprias já são Deus.
Todos os dias leio os anúncios da secção «Precisa-se»
à procura de uma pedra uma folha
uma porta jamais encontrada.
Nas Páginas Amarelas
ouço a América a cantar.
Ninguém diria
que a alma passa crises.
Todos os dias leio os anúncios
e noto a ausência da humanidade
nessa triste pletora de caracteres de imprensa.
Vejo que esvaziaram o Lago de Walden
para no sue lugar construírem um parque de diversões.
Vejo que estão a obrigar o Melville
a comer a sua própria baleia.
Vejo que vem aí uma nova guerra
mas quando ela vier não estarei eu cá para tomar parte.
Li os desígnios do destino
escritos nas paredes do telheiro.
Fui eu quem ajudou o Kilroy a escrevê-los.
Marchei pela Quinta Avenida acima
tocando clarim num pelotão cerrado
mas apressei-me a voltar para o Casbah
à procura do meu cão.
Noto que há uma certa semelhança
entre os cães e eu.
Os cães são os verdadeiros observadores
dos altos e baixos
da terra de Molloy.
Calcorreei becos e vielas
Estreitas de mais para Chryslers.
Vi uma centena de carroças do leite sem cavalos
num lote de terreno devoluto em Astoria.
Tenho ouvido o solo do ferro-velho.
Tenho percorrido as auto-estradas
e acreditado nas promessas dos cartazes
Atravessado as planícies de Jersey
e visto as Cidades Planas
E sulcado as terras ermas de Westchester
cruzando-me com bandos errantes de nativos
em station wagons.
Tenho-os visto.
Eu sou o Homem.
Estive lá.
Sofri
um tanto ou quanto.
Sou Americano.
Tenho passaporte.
Mas não sofri em público.
E sou novo de mais para morrer.
Sou um homem que se fez a si-próprio.
E tenho projectos para o futuro.
Estou na bicha
para um bom emprego.
Talvez me mude
para Detroit.
Ando a vender gravatas, mas isso
não passa de um trabalho temporário.
Sou um tipo às direitas.
Sou um livro aberto
para o meu patrão.
Sou um mistério impenetrável
para os meus amigos mais íntimos.
A vida que levo é muito sossegada.
Passo os dias no café do Mike
a contemplar o umbigo.
Sou uma parte
da longa loucura deste corpo.
Tenho vagueado em vários bosques nocturnos.
Tenho-me amparado em portais embriagados.
Tenho escrito contos despenteados
sem qualquer pontuação.
Eu sou o Homem.
Sofri
um tanto ou quanto.
Sentei-me em cadeiras de cansaço.
Sou uma lágrima do sol.
Sou uma colina
onde os poetas correm.
Inventei o alfabeto
depois de observar o voo das gruas
que fazem letras com as pernas.
Sou um lago numa planície.
Sou uma palavra
numa árvore.
Sou uma colina de poesia.
Sou uma operação de «comandos»
na zona do inarticulado
como o Elliot.
Sonhei
que os dentes todos me caíam
mas a minha língua sobrevivia
para contar como foi.
Porque sou um silêncio
poético.
Sou um banco de canções.
Sou uma pianola mecânica
num casino abandonado
numa esplanada à beira-mar
num nevoeiro espesso
mas sempre a tocar.
Noto que há uma certa semelhança
entre a Mulher que Ri
e eu.
Tenho ouvido o som do Verão
na chuva.
Tenho visto raparigas nas faixas de paragem
vítimas de complicadas sensações.
Percebo as suas hesitações.
Sou um colhedor de frutos.
Tenho visto como os beijos
têm consequências de euforia.
Tenho-me arriscado
a ficar encantado.
Vi a Virgem
numa macieira em Chartres
e Santa Joana a arder
na Bela Union.
Tenho visto girafas em selvas e ginásios
com os pescoços como o amor
entrelaçados nas circunstâncias de ferro forjado
deste mundo.
Tenho visto a Venus Afrodite
sem braços no corredor cheio
de correntes de ar.
Ouvi uma sereia a cantar
no número um da Quinta Avenida.
Vi a Deusa Branca a dançar
na Rue des Beaux Arts
no dia Catorze de Julho
e a Bela Dama sem Mercê
a tirar macacos do nariz no Chumley´s.
Ela não falava inglês.
Tinha cabelo amarelo
e voz rouca
e não se ouvia o canto de nenhuma ave.
A vida que levo é muito sossegada.
Passo os dias no café do Mike
a observar os jogadores de bilhar de bolsas
integrado naquele cenário
devorando macarroni
e li algures
o Significado da Existência
mas esqueci
exactamente onde.
Mas sou o Homem
E estarei lá.
E talvez ainda faça falar
os lábios da gente adormecida.
E talvez transforme em relva
os meus cadernos de apontamentos.
E talvez ainda escreva o meu
anónimo epitáfio
pedindo aos cavaleiros
que se não detenham.
Lawrence Ferlinghetti, trad. José Palla e Carmo
as árvores
As folhas rebentam nas árvores
Como algo que quase se diz;
Os novos botões espreguiçam-se,
O verde é uma forma de mágoa.
Será que renascem, e nós
A envelhecer? Não, também morrem.
O truque que as faz parecer tão novas
Está escrito no grão dos anéis.
Porém os castelos inquietos
Adensam e crescem com o Maio.
Dizem: “passou, morreu o ano –
Recomecem, recomecem…”
Philip Larkin, trad. Rui Carvalho Homem
Como algo que quase se diz;
Os novos botões espreguiçam-se,
O verde é uma forma de mágoa.
Será que renascem, e nós
A envelhecer? Não, também morrem.
O truque que as faz parecer tão novas
Está escrito no grão dos anéis.
Porém os castelos inquietos
Adensam e crescem com o Maio.
Dizem: “passou, morreu o ano –
Recomecem, recomecem…”
Philip Larkin, trad. Rui Carvalho Homem
movimento imóvel
Passavam mil anos. Seres extraordinários
saíam da terra ou nela penetravam e
desapareciam. Guerras arrasavam
o que se erguia por cima de outras guerras.
E este movimento era imóvel. As pedras
lá estavam, não mentiam, com os astros
as únicas fautoras do silêncio.
Havia qualquer coisa como o vento que erodia.
Mas passavam mil anos. Os povos contavam
pelos dedos. A morte não vinha mais depressa.
Carlos Poças Falcão
saíam da terra ou nela penetravam e
desapareciam. Guerras arrasavam
o que se erguia por cima de outras guerras.
E este movimento era imóvel. As pedras
lá estavam, não mentiam, com os astros
as únicas fautoras do silêncio.
Havia qualquer coisa como o vento que erodia.
Mas passavam mil anos. Os povos contavam
pelos dedos. A morte não vinha mais depressa.
Carlos Poças Falcão
imóvel espécie de negrura
Da nossa própria noite se levanta
aquela imóvel espécie de negrura
onde tudo é possível – as galáxias,
ou pulsar nulo de galáxia alguma.
E até a expansão, a criar alta
Invisibilidade. Mas que suga,
quando o assunto for mais denso, a graça
de um maior brio de altura.
E a outra noite pela nossa canta,
não luzes de prestígio, a só penúria
que, quase instrumental, se exerce. Instaura
um dentro fora de dimensão alguma.
E é de aí que a noite se levanta
e o mundo da insistência continua.
Fernando Echevarría
aquela imóvel espécie de negrura
onde tudo é possível – as galáxias,
ou pulsar nulo de galáxia alguma.
E até a expansão, a criar alta
Invisibilidade. Mas que suga,
quando o assunto for mais denso, a graça
de um maior brio de altura.
E a outra noite pela nossa canta,
não luzes de prestígio, a só penúria
que, quase instrumental, se exerce. Instaura
um dentro fora de dimensão alguma.
E é de aí que a noite se levanta
e o mundo da insistência continua.
Fernando Echevarría
esa sensación
La vida es como esa sensación
que tienes cuando lees un libro
o ves una película
o descubres una canción
y piensas, estoy segura:
me va a encantar;
sin haberlo leído,
sin haberlo visto,
sin haberla escuchado.
Rosa Aliaga Ibañez
que tienes cuando lees un libro
o ves una película
o descubres una canción
y piensas, estoy segura:
me va a encantar;
sin haberlo leído,
sin haberlo visto,
sin haberla escuchado.
Rosa Aliaga Ibañez
epístola à memória
Escrevi muitas cartas. Algumas parecidas
à bela suavidade das lágrimas, amplas
como a noite que nos arranca o amor e o adormece.
Outras tiveram a eternidade da paixão.
Umas poucas páginas serviram para soltar
o próprio consolo, escondê-lo num envelope branco
e deixá-lo voar, junto com o passado, esquecê-lo
por fim, pois já ficou escrito: ficou o mundo triste
pelo poderoso infinito das palavras.
Os sentimentos vão-se desfazendo atrás de cada
letra, e tem-se saudade do que a ausência apagou
já da alma séria, murcha pala paciência,
o profundo vazio, a distância, o amor
impossível (o amor tão grande que não conheceu
outra noite além da sobra que sepulta a terra).
O resto de cartas nasceu quando chovia
dentro do outro mundo: no centro do coração
que sonha converter-se em pedra. E ser memória.
Toni Montesinos Gilbert, trad. Joaquim Manuel Magalhães
à bela suavidade das lágrimas, amplas
como a noite que nos arranca o amor e o adormece.
Outras tiveram a eternidade da paixão.
Umas poucas páginas serviram para soltar
o próprio consolo, escondê-lo num envelope branco
e deixá-lo voar, junto com o passado, esquecê-lo
por fim, pois já ficou escrito: ficou o mundo triste
pelo poderoso infinito das palavras.
Os sentimentos vão-se desfazendo atrás de cada
letra, e tem-se saudade do que a ausência apagou
já da alma séria, murcha pala paciência,
o profundo vazio, a distância, o amor
impossível (o amor tão grande que não conheceu
outra noite além da sobra que sepulta a terra).
O resto de cartas nasceu quando chovia
dentro do outro mundo: no centro do coração
que sonha converter-se em pedra. E ser memória.
Toni Montesinos Gilbert, trad. Joaquim Manuel Magalhães
let me handle my business, damn
Took me awhile to learn the good words
make the rain on my window grown
and sexy now I’m in the tub holding down
that on-sale Bordeaux pretending
to be well adjusted I am on that real
jazz shit sometimes I run the streets
sometimes they run me I’m the body
of the queen of my hood filled up
with bad wine bad drugs mu shu pork
sick beats what more can I say to you
I open my stylish legs I get my swagger
back let men with gold teeth bow to my tits
and the blisters on my feet I become electric
I’m a patch of grass the stringy roots
you call home or sister if you want
I could scratch your eyes make hip-hop die again
I’m on that grown woman shit before I break
the bottle’s neck I pour a little out: I am fallen
Morgan Parker
make the rain on my window grown
and sexy now I’m in the tub holding down
that on-sale Bordeaux pretending
to be well adjusted I am on that real
jazz shit sometimes I run the streets
sometimes they run me I’m the body
of the queen of my hood filled up
with bad wine bad drugs mu shu pork
sick beats what more can I say to you
I open my stylish legs I get my swagger
back let men with gold teeth bow to my tits
and the blisters on my feet I become electric
I’m a patch of grass the stringy roots
you call home or sister if you want
I could scratch your eyes make hip-hop die again
I’m on that grown woman shit before I break
the bottle’s neck I pour a little out: I am fallen
Morgan Parker
curativos
Sim, senhora enfermeira,
porei a compressa depois de lavar
com betadine-espuma e sem esquecer
a pomada de óxido de zinco. Mas o que vou
lembrar doravante é a sua informação de que o ânus
é menos sujo do que a boca, apesar dos poetas
há tantos séculos cantarem e exaltação das bocas
onde nascem versos e beijos, para
chegarmos a essas histórias de bactétrias
que nos condenam a esta mortal assepsia.
Inês Lourenço
porei a compressa depois de lavar
com betadine-espuma e sem esquecer
a pomada de óxido de zinco. Mas o que vou
lembrar doravante é a sua informação de que o ânus
é menos sujo do que a boca, apesar dos poetas
há tantos séculos cantarem e exaltação das bocas
onde nascem versos e beijos, para
chegarmos a essas histórias de bactétrias
que nos condenam a esta mortal assepsia.
Inês Lourenço
Subscrever:
Mensagens (Atom)
Arquivo
~
poemário daqui
A. M. Pires Cabral
Abel Neves
Adília Lopes
Adolfo Casais Monteiro
Agustina Bessa-Luís
Al Berto
Albano Martins
Alberto Pimenta
Alexandra Malheiro
Alexandre Nave
Alexandre O'Neill
Alice Turvo
Alice Vieira
Almada Negreiros
Américo António Lindeza Diogo
Ana Bessa Carvalho
Ana C.
Ana Caeiro
Ana Cristina César
Ana Duarte
Ana Hatherly
Ana Luísa Amaral
Ana Marques Gastão
Ana Martins Marques
Ana Paula Inácio
Ana Salomé
Ana Tecedeiro
Ana Teresa Pereira
Ana Tinoco
André Tomé
Andreia C. Faria
Angélica Freitas
Ângelo de Lima
Aníbal Fernandes
António Amaral Tavares
António Botto
António Dacosta
António Franco Alexandre
António Gancho
António Gedeão
António Gregório
António José Forte
António Manuel Pires Cabral
António Maria Lisboa
António Mega Ferreira
António Osório
António Pedro
António Quadros Ferro
António Ramos Pereira
António Ramos Rosa
António Rebordão Navarro
António Reis
António S. Ribeiro
Armando Baptista-Bastos
Armando Silva Carvalho
Artur do Cruzeiro Seixas
Bénédicte Houart
Bruno Béu
Bruno Sousa Villar
Camilo Castelo Branco
Camilo Pessanha
Carlos Alberto Machado
Carlos Bessa
Carlos de Oliveira
Carlos Eurico da Costa
Carlos Mota de Oliveira
Carlos Poças Falcão
Carlos Soares
Casimiro de Brito
Catarina Nunes de Almeida
Cesário Verde
Cláudia R. Sampaio
Cruzeiro Seixas
Daniel Faria
Daniel Filipe
David Mourão-Ferreira
David Teles Pereira
Delfim Lopes
Dulce Maria Cardoso
Eastwood da Silva
Eduarda Chiote
Egito Gonçalves
Ernesto Sampaio
Eugénio de Andrade
Eugénio Lisboa
Fernando Assis Pacheco
Fernando Esteves Pinto
Fernando Lemos
Fernando Pessoa
Fernando Pinto do Amaral
Fiama Hasse Pais Brandão
Filipa Leal
Filipe Homem Fonseca
Florbela Espanca
Frederico Pedreira
gil t. sousa
Golgona Anghel
Gonçalo M. Tavares
Helder Moura Pereira
Helena Carvalho
Helga Moreira
Hélia Correia
Henrique Manuel Bento Fialho
Henrique Risques Pereira
Herberto Hélder
Inês Dias
Inês Fonseca Santos
Inês Lourenço
Isabel Meyrelles
Joana Morais Varela
Joana Serrado
João Almeida
João Bénard da Costa
João Cabral de Melo Neto
João Camilo
João Damasceno
João Ferreira Oliveira
João Habitualmente
João Luís Barreto Guimarães
João Maia
João Manuel Ribeiro
João Miguel Henriques
João Pacheco
João Pereira Coutinho
João Rodrigues
João Vasco Coelho
Joaquim Manuel Magalhães
Joaquim Pessoa
Jorge Carrera Andrade
Jorge de Sena
Jorge Gomes Miranda
Jorge Melícias
Jorge Roque
Jorge Sousa Braga
José Agostinho Baptista
José Alberto Oliveira
José Amaro Dionísio
José António Franco
José Cardoso Pires
José Carlos Barros
José Carlos Soares
José Efe
José Gomes Ferreira
José Manuel de Vasconcelos
José Mário Silva
José Miguel Silva
José Pascoal
José Ricardo Nunes
José Rui Teixeira
José Saramago
José Sebag
José Tolentino Mendonça
Judith Teixeira
Leitão de Barros
Leonor Castro Nunes
Luís Miguel Nava
Luís Quintais
Luiza Neto Jorge
Madalena de Castro Campos
Mafalda Gomes
Manuel A. Domingos
Manuel António Pina
Manuel Cintra
Manuel da Silva Ramos
Manuel de Castro
Manuel de Freitas
Manuel Fúria
Manuel Gusmão
Marcelino Vespeira
Margarida Vale de Gato
Maria Ângela Alvim
Maria Azenha
Maria do Rosário Pedreira
Maria Gabriela Llansol
Maria João Lopes Fernandes
Maria Judite de Carvalho
Maria Keil
Maria Mergulhão
Maria Sousa
Maria Teresa Horta
Maria Velho da Costa
Mário Cesariny
Mário Contumélias
Mário de Sá-Carneiro
Mário Dionísio
Mário Quintana
Mário Rui de Oliveira
Mário-Henrique Leiria
Marta Chaves
Matilde Campilho
Mendes de Carvalho
Miguel Cardoso
Miguel Martins
Miguel Sousa Tavares
Miguel Torga
Miguel-Manso
Nuno Araújo
Nuno Bragança
Nuno Júdice
Nuno Moura
Nuno Ramos
Nuno Travanca
Patrícia Baltazar
Paulo José Miranda
Pedro Jordão
Pedro Loureiro
Pedro Mexia
Pedro Oom
Pedro Santo Tirso
Pedro Sena-Lino
Pedro Tamen
Pedro Tiago
Piedade Araujo Sol
Raquel Nobre Guerra
Raquel Serejo Martins
Raul de Carvalho
Raul Malaquias Marques
Regina Guimarães
Reinaldo Ferreira
Renata Correia Botelho
Ricardo Adolfo
Rosa Alice Branco
Rosa Maria Martelo
Rui Almeida
Rui Baião
Rui Caeiro
Rui Cóias
Rui Costa
Rui Knopfli
Rui Lage
Rui Manuel Amaral
Rui Nunes
Rui Pedro Gonçalves
Rui Pires Cabral
Rute Mota
Ruy Belo
Ruy Cinatti
Ruy Ventura
Samuel Úria
Sandra Andrade
Sandra Costa
Sebastião Alba
Sílvio Mendes
Soares de Passos
Sofia Crespo
Sofia Leal
Sophia de Mello Breyner Andresen
Tatiana Faia
Teixeira de Pascoaes
Teresa Balté
Teresa M. G. Jardim
Tiago Araújo
Tiago Gomes
valter hugo mãe
Vasco Gato
Vasco Graça Moura
Vítor Nogueira
Yvette K. Centeno
poemário dali
A. E. Housman
Abbas Kiarostami
Abel Feu
Adelaide Ivánova
Adélia Prado
Adrienne Rich
Agota Kristof
Al Purdy
Alberto Tugues
Alda Merini
Aldous Huxley
Alejandra Pizarnik
Alejandro Jodorowsky
Alexander Demidov
Alfredo Veiravé
Alice Walker
Allen Ginsberg
Amalia Bautista
Amiri Baraka
Amy Lowell
Amy M. Homes
Ana Merino
André Breton
Andrés Trapiello
Angela Carter
Anis Mojgani
Anna Akhmatova
Anna Kamienska
Anne Carson
Anne Perrier
Anne Sexton
Antonia Pozzi
Antonin Artaud
Antonio Gamoneda
Antonio Orihuela
Antonio Pérez Morte
Antonio Sáez Delgado
Arnold Lobel
Arseny Tarkovsky
Arthur Rimbaud
Basilio Sánchez
Benjamín Prado
Bernard-Marie Koltès
Billy Collins
Boris Vian
Brett Elizabeth Jenkins
Brian Andreas
Brian Patten
Carl Phillips
Carl Sandburg
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Edmundo de Ory
Carlos Marzal
Carmen Gloria Berríos
Carol Ann Duffy
Cecília Meireles
Cesare Pavese
Charles Baudelaire
Charles Bukowski
Charles Dana Gibson
Charles M. Schulz
Chen Bolan
Christoph Wilhelm Aigner
Clarice Lispector
Constantino Cavafy
Corey Zeller
Countee Cullen
Cristopher Painter
Cristovam Pavia
Czesław Miłosz
Damien Sevhac
Daniel Clowes
Daniel Francoy
Daniel Pennac
Daphne Gottlieb
David Bowie
David Lagmanovich
David Lehman
Delia Brown
Delmore Schwarts
Derek Walcott
Derrick Brown
Diamanda Galás
Diane Ackerman
Djuna Barnes
Don Herold
Dorianne Laux
Dorothea Lasky
Dorothy Parker
Douglas Huebler
Dylan Thomas
E. E. Cummings
E. Ethelbert Miller
E. M. Cioran
Edgar Allan Poe
Edna O'Brien
Eduarda Chiote
Eduardo Bechara
Eeva-Liisa Manner
Egito Gonçalves
Eleanor Farjeon
Elías Moro
Elie Wiesel
Elis Regina
Elizabeth Bishop
Elizabeth Ross Taylor
Else Lasker-Schuler
Elsie Wood
Emily Dickinson
Emily Kagan Trenchard
Erin Dorsey
Eunice de Souza
Fabiano Calixto
Federico Díaz-Granados
Federico García Lorca
Félix Grande
Fernando Arrabal
Fernando Caio de Abreu
Fernando Echevarría
Fernando Gandra
Ferreira Gular
Forough Farrokhzad
Francisco Madariaga
Frank O'Hara
Frederico Pedreira
G. K. Chesterton
Gabriel Celaya
Geir Gulliksen
Georges Bataille
Gerrit Komrij
Giánnis Ritsos
Giovanny Gómez
Glória Gervitz
Gottfried Benn
Guillaume Apollinaire
Günter Kunert
Gustavo Adolfo Bécquer
Gustavo Ortiz
H. P. Lovecraft
Hal Sirowitz
Hans-Ulrich Treichel
Harold Pinter
Harvey Shapiro
Heiner Müller
Heinrich Heine
Helen Mort
Henri Béhar
Henri Michaux
Henry Rollins
Hermann Hesse
Hilda Hilst
Hilde Domin
Hoa Nguyen
Hugh Mackay
Hugo von Hofmannsthal
Hugo Williams
Ingeborg Bachmann
Ingmar Heytze
Isabel Meyrelles
Isabelle McNeill
J. M. Fonollosa
J. R. R. Tolkien
Jack Gilbert
Jack Kerouac
Jack Winter
Jacques Lacan
Jacques Prévert
James L. White
James Rogers
James Tate
Jane Hirshfield
Janet Frame
Jean Baudrillard
Jean Day
Jeanette Winterson
Jenny Joseph
Jenny Schecter
Jesús Llorente
Jim Carroll
Joan Julier Buck
Joan Margarit
Jodi Picoult
Johann Wolfgang Goethe
Johannes Bobrowski
John Ashbery
John Giorno
John Keats
John Mateer
John Updike
Jonathan Littell
Jonathan Safran Foer
Jonathan Swift
Jorge Amado
Jorge Luis Borges
José Eduardo Agualusa
José Gardeazabal
José Mateos
Joseph Brodsky
Joseph Cervavolo
József Attila
Juan José Millás
Juan Ramón Jiménez
Judith Herzberg
Junko Takahashi
Justine Hermitage
Katerina Angheláki-Rooke
Kathy Acker
Kendra Grant
Kenneth Patchen
Kenneth Traynor
Kosntandinos Kavafis
Kristina H.
Langston Hughes
Larissa Szporluk
Lauren Mendinueta
Laurie Anderson
Lawrence Ferlinghetti
Lêdo Ivo
Leila Miccolis
Leonard Cohen
Leonardo Chioda
Leonardo Da Vinci
Leopoldo María Panero
Lewis Carroll
liam ryan
Lígia Reyes
Lord Byron
Lou Andreas-Salomé
Lou Reed
Louis Aragon
Louis Buisseret
Lourdes Espínola
Lucía Estrada
Luis Alberto de Cuenca
Luís Filipe Parrado
Luis García Montero
Malcolm Lowry
Manoel de Barros
Manuel Arana
Marco Mackaaij
Margaret Atwood
María Sánchez
Marianne Boruch
Mariano Peyrou
Marin Sorescu
Marina Colasanti
Martha Carolina Dávila
Martin Amis
Mary Elizabeth Frye
Mary Jo Salter
Mary Oliver
Mary Ruefle
Max Porter
Medlar Lucan & Durian Gray
Melissa Witcombe
Mia Couto
Michael Drayton
Michel Carpassou
Michel Houellebecq
Miguel de Cervantes
Miriam Reyes
Mitch Albom
Morgan Parker
Muhammad al-Maghut
Muriel Rukeyser
Natsume Soseki
Neil Gaiman
Nicanor Parra
Nichita Stanescu
Nicole Blackman
Nina Rizzi
Octavio Paz
Olga Orozco
Omar Khayyam
Osho
Otávio Campos
Pablo Fidalgo Lareo
Pablo García Casado
Pablo Neruda
Pat Boran
Patricia Beer
Patti Smith
Paul Éluard
Paul Géraldy
Paul Theroux
Paulo Leminski
Pentti Saaritsa
Per Aage Brandt
Pere Gimferrer
Philip Larkin
Philip Roth
Philippe Wollney
Pia Tafdrup
Pier Paolo Pasolini
Pierre Reverdy
Piotr Sommer
Rafael Alberti
Rainer Maria Rilke
Ramón Gómez de la Serna
Raúl Gustavo Aguirre
Raymond Carver
Raymond Queneau
Reinaldo Ferreira
Reiner Kunze
Richard Brautigan
Richard Burton
Roald Dahl
Robert Creeley
Robert Frost
Roberto Bolaño
Roberto Fernández Retamar
Roberto Juarroz
Robin Robertson
Rod McKuen
Roger Wolfe
Ron Padgett
Rosa Aliaga Ibañez
Rosemarie Urquico
Rubens Borba de Moraes
Rudyard Kipling
Russell Edson
Ruth Stone
Ryan Montanti
Saiónji Sanekane
Salman Rushdie
Salvador Novo
Sam Shepard
Samuel Beckett
Sandro Penna
Santiago Nazarian
Sei Shonagon
Serge Gainsbourg
Sharon Olds
Shel Silverstein
Silvia Chueire
Silvia Ugidos
Simone de Beauvoir
Somerset Maugham
Stephen Crane
Stephen Wright
Steve Mccaffery
Stevie Smith
Stuart Dischell
Sue Goyette
Susana Cabuchi
Sylvia Plath
T. S. Eliot
Tai Fu Ku
Tanya Davis
Tati Bernard
Tatianna Rei Moonshadow
Tennessee Williams
Thom Gunn
Tiago Fabris Rendelli
Tilly Strauss
Tom Baker
Tom Waits
Toni Montesinos Gilbert
Ulla Hahn
Valentine de Saint-Point
Vicente Aleixandre
Victor Heringer
Victor Prado
Vincenzo Cardarelli
Vinicius de Moraes
Vladimir Maiakovski
Vladimir Nabokov
W. H. Auden
Walt Whitman
Warsan Shire
William Blake
William Butler Yeats
William Carlos Williams
William Shakespeare
Winnie Meisler
Winona Baker
Wislawa Szymborska
Yehuda Amichai
Yohji Yamamoto
Yoko Ono
Yorgos Seferis
Zee Avi
livraria
. A Sul de Nenhum Norte .
. Granta .
Adolfo Bioy Casares .
Al Berto .
Alexandre O'Neill .
Algernon Blackwood .
Ali Smith .
Alice Munro .
Alice Turvo .
Almanaque do Dr. Thackery .
Anaïs Nin .
Anita Brookner .
Ann Beattie .
Annemarie Schwarzenbach .
Anton Tchekhov .
António Ferra .
António Lobo Antunes .
Arthur Miller .
Boris Vian .
Bret Easton Ellis .
Carlos de Oliveira .
Carson McCullers .
Charles Bukowski .
Chuck Palahniuk .
Clarice Lispector .
Conde de Lautréamont .
Cormac McCarthy .
Cristiane Lisbôa .
Donald Barthelme .
Doris Lessing .
Dulce Maria Cardoso .
Edith Wharton .
Eileen Chang .
Elena Ferrante .
Enrique Vila-Matas .
Erasmo de Roterdão .
Ernest Hemingway .
Ernesto Sampaio .
F. Scott Fitzgerald .
Fernando Pessoa .
Flannery O'Connor .
Florbela Espanca .
Françoise Sagan .
Franz Kafka .
Frida Kahlo .
Gabriel García Márquez .
Gonçalo M. Tavares .
Graça Pina de Morais .
Gustave Flaubert .
Guy de Maupassant .
Harold Pinter .
Haruki Murakami .
Henri Michaux .
Herberto Hélder .
Hunter S. Thompson .
Irene Lisboa .
Irène Némirovsky .
Italo Calvino .
J. D. Salinger .
Jack Kerouac .
James Joyce .
Jean Cocteau .
Jean Genet .
Jean Meckert .
Jean-Paul Sartre .
Jeffrey Eugenides .
Jim Cartwright .
Joan Didion .
John Cheever .
José Jorge Letria .
José Saramago .
Josep Pla .
Julian Barnes .
Julio Cortázar .
Karen Blixen .
Kate Chopin .
Katherine Mansfield .
Kurt Vonnegut .
Lázaro Covadlo .
Lillian Hellman .
Luís de Sttau Monteiro .
Luís Miguel Nava .
Luiz Pacheco .
Lydia Davis .
Lygia Fagundes Telles .
Malcolm Lowry .
Manuel Hermínio Monteiro .
Manuel Jorge Marmelo .
Marcel Proust .
Margaret Atwood .
Marguerite Duras .
Marguerite Yourcenar .
Marina Tsvetáeva .
Mário C. Brum .
Mário-Henrique Leiria .
Mark Lindquist .
Marquis de Sade .
Max Aub .
Miguel Castro Henriques .
Miguel Esteves Cardoso .
Miguel Martins .
Milan Kundera .
Natalia Ginzburg .
Neil Gaiman .
Nick Cave .
Norman Rush .
Orhan Pamuk .
Oscar Wilde .
Paul Auster .
Paulo Rodrigues Ferreira .
Pedro Mexia .
Penelope Fitzgerald .
Pierre Louÿs .
Rainer Maria Rilke .
Rainer Werner Fassbinder .
Raul Brandão .
Ray Bradbury .
Rebecca West .
Regina Guimarães .
Richard Yates .
Roland Barthes .
Roland Topor .
Rolf Dieter Brinkmann .
Rui Nunes .
S. E. Hinton .
Sam Shepard .
Samuel Beckett .
Sarah Kane .
Sebastian Barry .
Shirley Jackson .
Stig Dagerman .
Susan Sontag .
Susana Moreira Marques .
Sylvia Plath .
Tennessee Williams .
Teresa Veiga .
Tom Baker .
Truman Capote .
valter hugo mãe .
Vasco Gato .
Vera Lagoa .
Vergílio Ferreira .
Virginia Woolf .
Vladimir Nabokov .
William Faulkner .
Woody Allen .
Yasunari Kawabata .
Yukio Mishima .