se eu fosse um vídeo

I will keep broken things

I will keep
Broken
Things:
The big clay
Pot
With raised
Iguanas
Chasing
Their
Tails;
Two
Of their
Wise

Heads
Sheared
Off;

I will keep
Broken
things:
The old
Slave
Market
Basket
Brought
To my
Door

By Mississippi
A jagged
Hole
Gouged
In its sturdy
Dark
Oak
Side.

I will keep
Broken
things:
The memory
Of
Those
Long
Delicious
Nig ht
Swims
With
You;

I will keep
Broken
things:
In my house
There
Remains
An

Honored
Shelf
On which
I will
Keep
Broken
Things.

Their beauty
Is
They
Need
Not
Ever
Be
'fixed.'

I will keep
Your
Wild
Free
Laughter
Thoug h
It is now
Missing
Its
Reassuring
And
Gra ceful
Hinge.

I will keep
Broken
Things:

Thank you
So much!

I will keep
Broken
Things.

I will keep
You:

Pilgrim
Of
Sorrow.

I will keep
Myself.


Alice Walker

feliz compleaños leonor


you're my summer lover
A minha madrasta era mais baixa do que eu; chegava-me um tudo nada mais acima do ombro. Tinha o cabelo preto e puxado, a menina do olho um pouco verde. E o cantinho do olho acabava num leque de linhas finas. Tinha-as também nos dois lados da testa e em cada ângulo da boca. Como uma velhinha. Nos dias em que andava preocupada porque tinha de pôr o vaso na janela, diante da cortina, as linhas vincavam-se e ficavam um pouco mais escuras.

Quando nos sentávamos no degrau da entrada eu gostava de ver as unhas dos pés dela: tinha-as bem colocadas sobre a carne e pareciam de vidro. Às vezes o sol salpicava-as de cores. Tinham todas as que se vêem depois da chuva entre uma montanha e outra fazendo um arco no céu.

(...)

Era gulosa: bebia a água da fonte fazendo uma concha com as mãos e, antes de a encher, esfregava as mãos com erva-doce.

Um dia apanhei-a a comer uma abelha. Quando se deu conta de que eu olhava cuspiu-a e disse que a abelha é que se tinha metido na boca dela. Mas eu sabia que ela comia abelhas. Escolhia as que tinham bebido mais suco de glicínia e mantinha-as vivas durante algum tempo dentro da boca. Antes de as engolir, deixava-as brincar.

(...)

e disse-me que saíra da aldeia porque preferia o calor amplo ao calor apertado entre muros e entre casas. Perguntou-me do que gostava eu mais, se do dia ou da noite... As mãos voltaram a transpirar e esfreguei a palma das mãos no tronco de madeira que fazia de varanda e era áspero, e disse-lhe que não sabia mas que quando era muito pequeno, embora a noite me metesse medo, gostava mais dela do que do dia porque com a claridade as coisas viam-se demasiado e havia coisas muito feias e disse-lhe então que eu tinha vindo porque a vira partir e que a seguira e que um homem olhara para mim numa janela e que eu sentira medo... ela disse-me que o medo não era nada... perguntou-me se eu tinha reparado que havia dois medos: um a sério e outro a fingir. Ela tivera um medo a sério: o medo das mãos porque as mãos agarram. E o medo a fingir do meu medo do homem que olhara para mim da janela porque de dentro não se podia fazer mal algum...

 (...)

Assim que acordávamos ela contava-me o que vira enquanto dormia e uma noite vira que um dedo dela se transformara em lagarta e da ponta saía uma borboleta vermelha e assim que nascia morria logo. Outra noite tinha visto que as abelhas faziam uma coroa sobre a cabeça dos cavalos, e os cavalos viviam com uma coroa de abelhas, e depois as abelhas tinham feito uma coroa sobre a cabeça dos velhos e, quando os velhos matavam os cavalos, os cavalos e os velhos tinham coroas de abelhas. E outra noite vira um monte de olhos de cavalo e chegavam os de luto e apanhavam-nos com o bico e levavam-nos voando muito alto e quando já não podiam subir mais alto largavam os olhos de cavalo em cima do rio e a água levava-os e passavam pelos lavadouros e as mulheres diziam, olhem, estão a passar umas coisas brilhantes...


Mercè Rodoreda, A Morte e a Primavera
Por vezes, quando estava na cama e não conseguia adormecer, eu pensava que gostaria de fazer o senhor de cima cair, sobretudo no inverno, quando tudo estava nevado, ou ajudar as raízes a puxar as casas para cima, ou passear os cavalos na Maraldina, onde nunca tinha ido... Com os olhos fechados pensava em coisas assim até que adormecia. A última coisa que eu ouvia era o rio que ia descalçando as pedras que sustinham a aldeia, enquanto toda a gente descansava com os olhos fechados.

(...)

Senti maior angústia que a angústia que me metiam os que dormem.

Senti medo da aldeia, tão quieta lá em baixo, com as casas cheias de adormecidos.

(...)

As pernas é que nos aproximavam dos outros e sem as pernas tudo viveria mais separado e pensei nisto das pernas porque sentia medo.

(...)

ia pensando em coisas em que já tinha pensado outras vezes: que as pessoas estão fechadas e que se vão abrindo quando nos aproximamos delas. E sem querer abri a boca bem aberta para entender aquilo e fechei-a lentamente porque uma boca aberta mete-me sempre medo.


Mercè Rodoreda, A Morte e a Primavera
À luz das fogueiras todos os homens e todas as mulheres eram parecidos. De dia eram muito diferentes porque havia altos e baixos e magros e gordos e alguns tinham mais cabelo do que outros ou o nariz mais largo ou mais comprido e os olhos de cores diferentes. Mas à luz das fogueiras todos eram parecidos.

(...)

Perto das canas onde eu estava escondido, afastadas do lume, sujas e despenteadas, havia algumas mulheres sentadas no chão e com os olhos vendados: eram as grávidas. Tapavam-lhes os olhos para que ao olharem para os outros homens as crianças que levavam no ventre não olhassem também para eles e se fossem parecendo com eles; porque diziam que as mulheres se apaixonavam por todos os homens e, há quanto mais tempo estivessem grávidas, mais depressa se apaixonavam.

(...)

Bebiam a sopa do mesmo prato. comiam em irmandade. Os homens sem rosto, numa outra mesa, na margem do rio. Os homens sem nariz ou com a testa comida ou sem orelha, podiam sentar-se à mesa de todos e viver como toda a gente vivia. Mas os homens sem rosto queriam estar sós.

(...)

Mas morriam tal como os outros: ao vivo e com a boca cheia de cimento até ao ventre.

(...)

As grávidas levantaram-se para dançar. Dançavam sozinhas como se cada uma estivesse plantada num buraco. E para poderem dançar elas próprias cantavam. Inclinavam a cabeça até ao peito, levantavam-na para o alto, deitavam-na para trás e giravam como se toda a vida tivessem de girar daquela forma entre as sombras e chamas, sem homem e sós, com o vetre todo para a frente e despenteadas. Com todo o ventre para a frente, que já se desgarrava por dentro.


Mercè Rodoreda, A Morte e a Primavera
(...) aquela tristeza que as paredes tinham por se tornarem velhas quando as pessoas as deixavam sozinhas. E o que ele me disse das coisas era verdade: envelheciam a toda a pressa quando ficavam sozinhas, mas quando estavam bem acompanhadas pelas pessoas demoravam mais e faziam-se velhas de uma forma muito diferente, como se em vez de ficarem feias se tornassem bonitas.

(...)

Os pássaros vinham sempre do lado da montanha partida. Os de luto eram os primeiros a chegar. Iam direitos ao prado dos cavalos e passavam lá o dia a voar e a piar. No dia seguinte caíam sobre as casas, perseguiam-se, voavam muito alto e desciam fazendo um grande barulho. Eram negros de penas e de bico e tinham o cantinho do olho mais negro ainda com um círculo muito branco. As penas da cauda e as penas das asas separavam-se: quando voavam quase que se podia contá-las. Elevavam-se poupo a pouco e de repente começavam a dar voltas furiosas, com as patas incrustadas no ventre, bem esticadas para trás, como se as tivessem perdido.

(...)

No pátio, debaixo das glicínias que já não tinham flores, abriam-se ainda algumas flores que não tinham sabido florescer a tempo. Eram flores com pouca cor, escondidas entre as folhas,. Às vezes um vento destapava-as um nadinha, como se tivesse vergonha de as pôr à vista.

(...)

 A flor branca era igual à flor vermelha: só eram diferentes na cor. Tinham cinco folhas pequenas e cinco folhas maiores debaixo das pequenas: no centro nascia-lhes um raminho de fios amarelos que acabavam num disco. Eram flores de todo o ano. Quando uma murchava, em seguida saía uma nova de dentro da que tinha morrido: a morte puxava pela viva, Verão e Inverno, sem cessar.

 (...)

As Montanhas Roxas pareciam ao alcance da mão, mas estavam muito longe, cinzentas no Inverno e azuis na Primavera porque mudavam de cor e não se sabia de que cor eram; tão diferentes da Meraldina, de um verde-escuro que ficava sarapintado de um roxo que atirava para o rosa quando as urzes floresciam.
 
(...)

E não nos fomos enquanto não nos pareceu que éramos árvores, porque nas plantas dos pés sentíamos nascer e crescer raízes de frio de geada que nos atavam ao lugar em que estávamos.

De vez em quando caía neve de um ramo como se o ramo tivesse respirado.


Mercè Rodoreda, A Morte e a Primavera
Então tirei a roupa, deixei-a ao pé dum lódão junto à pedra do louco e, antes de me meter na água, olhei bem para a cor que o céu projectava nela, e toda a luz que o sol lhe dava era diferente porque tinha começado a Primavera que nascia outra vez depois de ter vivido debaixo da terra e dentro dos ramos... Entrei na água muito lentamente e sem me atrever a respirar, porque tinha sempre medo, quando entrava no mundo da água, de que o ar, liberto do estorvo que eu era, ficasse furioso e, convertido em vento, soprasse tão forte como soprava no Inverno, que quase levava as casas, as árvores e as pessoas.

(...)

Quando descíamos da Maraldina com os sacos ao ombro, o vento, que nos empurrava para baixo quando subíamos, empurrava-nos para cima. Quer subíssemos quer descêssemos, empurrava-nos sempre, como se nos pusesse as largas mãos no peito. E os velhos contavam que o vento da Maraldina, acocorado entre os matagais quando não havia ninguém na serra, era um vento carregado de almas que davam voltas pela serra somente para fazerem com que o vento fosse mais forte quando chegava a hora de ir buscar o pó, para tornar o nosso trabalho mais pesado e para nos dizer que tudo aquilo que fazíamos melhor seria não tê-lo feito, porque não servia para nada. E como as almas não tinham boca, diziam-nos aquilo com a voz do vento.

(...)

 O vento da Meraldina não era como o outro vento. Não era um vento que ia e vinha, era um vento de sempre, um vento cansado e raivoso por ter de correr sem parar para cima e para baixo pelas urzes. Quando subia, o vento arrancava arbustos e deixava-os um bocado no ar e eram como manchas da luz. Assim que os primeiros homens desceram à gruta, começaram a ouvir-se os gritos. Quase não havia pó. E um homem disse que gritar não servia para nada. Que só servia para pôr as almas contentes. Disse-lhes que se calassem, que não sabiam o que estavam a dizer, que as almas de todos os enterrados sem nome se riam ao ver que eles gritavam e que ele as ouvia rir.

(...) 

De noite ouvia-se o gemido do rio debaixo das camas como se fosse um gemido da terra e tivesse de levar tudo de rastos, como se tudo tivesse de ir com a água. Mas não. A aldeia ficava e só fugia a água escondida. Entrava lisa e saía louca de espumaradas pelo tempo que tivera de viver às escuras. Como se tivesse medo de ficar fechada.

(...)

A seguir à ponte o caminho era a descer. Quando eu era pequeno, aquele caminho levava-me inteirinho, mais vazio do que um precipício, porque o precipício mete medo e faz-nos parar mas quando é a descer cala-se e leva-nos. Numa descida encontraram-se o homem e a sombra e nunca mais se separaram. E fizeram a aldeia.

A aldeia nascera de uma grande mágoa da terra. E a montanha partira-se e caíra no rio, esparramada.

Não no fundo duma encosta, mas sim sobre a terra e as pedras despenhadas, uma noite de luar deixou duas sombras que se uniram pela boca. E choveu sangue. E assim começou tudo.

(...)

A água da Fonte da Jonquilha tinha de ser filtrada. Tinha vermes pequenos que se enroscavam e desenroscavam muito depressa. E se se metiam dentro duma pessoa, para conseguirem sair dela esburacavam os ossos, as veias e a pele. Assim que saíam ficavam mortos porque não podiam viver sem água.

(...) 

E no último dia, e porque era cedo, fomo-nos sentar no relógio de sol e dali ouvíamos o vento e ela disse que não era o vento que ouvíamos, mas sim a dor dos mortos.


Mercè Rodoreda, A Morte e a Primavera

DOMINGO DE LISBOA

Uma palavra branca
No arco retesado deste dia,
Um alvoroço de pureza
Uma ameaça de sonho e poesia.

Apetece sair, seguir, sondar
O segredo das pedras e dos passos
Nelas amortecidos.

O Tejo esplende entre navios.
Lisboa é boa e matinal;
Flutuam barcos, casarios
Na mesma onda musical.

Celeste archeiro
Dirige a desferida seta.
Caia redonda a nossa angústia.
Hoje é domingo. Vida quieta.


João Maia, 20 Anos de Poesia Portuguesa, Círculo de Poesia, Moraes Editores

se eu fosse um vídeo

summertime*

Summertime and the living is
extraordinarily difficult. The sunset

seems unimportant. It becomes
a calm. Sunglasses, white

wine spritzers. Would you hate yourself
less if you picked your fruit from trees.

You prefer friends to remain
in train stations. What side the mountain

is home. You were not invited
into the orange groves.

Sometimes you go outside
and control is possible.

Everybody has an opinion.
Everything rolls off your shoulders.


Morgan Parker, There Are More Beautiful Things Than Beyoncé

*Summertime, Nina Simone

#loopdasemana

maria who WAS mad

Anna who was mad,
I have a knife in my armpit.
When I stand on tiptoe I tap out messages.
Am I some sort of infection?
Did I make you go insane?
Did I make the sounds go sour?
Did I tell you to climb out the window?
Forgive. Forgive.
Say not I did.
Say not.
Say.

Speak Mary-words into our pillow.
Take me the gangling twelve-year-old
into your sunken lap.
Whisper like a buttercup.
Eat me. Eat me up like cream pudding.
Take me in.
Take me.
Take.

Give me a report on the condition of my soul.
Give me a complete statement of my actions.
Hand me a jack-in-the-pulpit and let me listen in.
Put me in the stirrups and bring a tour group through.
Number my sins on the grocery list and let me buy.
Did I make you go insane?
Did I turn up your earphone and let a siren drive through?
Did I open the door for the mustached psychiatrist
who dragged you out like a gold cart?
Did I make you go insane?
From the grave write me, Anna!
You are nothing but ashes but nevertheless
pick up the Parker Pen I gave you.
Write me.
Write.


Anne Sexton

velvet gloves and spit



But I once saw the touch of your velvet hand upon my face
I recall velvet gloves and spit and your embrace
And I wanted nothing else

The haunted hotel room, the two-bit manchild
I could not simply fall asleep next to you every night
Our castle in the sand, built too high too soon
And under waving palms and waving sails and waves
Goodbye
- Estou a pensar - disse, com certa exaltação - que um fotógrafo é um homem que olha para as coisas para as fotografar. Ou talvez um homem que, quando olha para as coisas, vê onde há uma boa fotografia.

- É o que eu chamo o olho profissional - exclamou Lo Pietro. - Uma pessoa acaba por adquiri-lo. Eu, quando vejo uma pessoa pela primeira vez, calculo o tamanho do seu caixão.


Adolfo Bioy Casares, A Aventura de um Fotógrafo em La Plata
A mulher passou a explicar então que, precisamente por amar tanto o marido, tinha uma liberdade que as outras mulheres não têm, menos seguras sobre o que sentem. Continuou:

- Eu sei que não há qualquer problema quando o meu marido, numa das suas muitas viagens, encontra uma mulher de quem gosta. De acordo?

- É claro, sim, mas não estou certo de estar a compreender.

- Tudo o que pode acontecer são uns amassos, mas depois volta para mim, como sempre. E se por acaso eu fizesse o mesmo, o resultado não seria diferente. É claro que para ele as coisas são fáceis, porque as mulheres são mais naturais. E mais vivas. Não se deixam enganar pelo que dizem, não sei se me entende. Quer uma prova de que são mais vivas? Governam o mundo. Os homens limitam-se a repetir o que elas neles inculcaram. Repare, os homens sempre foram vagabundos e mulherengos, inimigos das algemas. Desde que há memória, as mulheres procuram o casamento e os homens evitam-no como podem. Agora tudo isso mudou. Não se atreva a falar a um homem de uma aventura passageira. Quer formar casal e construir algo, não sabe o quê. Repetem o que as mulheres lhes disseram. O resultado está à vista. Hoje em dia a mulher que pretende uma aventura passageira é uma sobrevivente de outra época. Já não há homens para ela. Entre os que querem construir algo e os maricas não sobra um homem. O senhor o que pensa?

(...)

Porque nunca uma mulher tinha falado assim com ele, lamentou que esta conversa tivesse ficado a meio.


Adolfo Bioy Casares, A Aventura de um Fotógrafo em La Plata

te extraño madrid #2

Com algum orgulho, disse para si mesmo que já conhecia o caminho entre a pensão e o laboratório. Entretinha-se a enunciar mentalmente os edifícios, os detalhes dos edifícios, antes de lhe surgirem à frente dos olhos. «Agora vem a esquina da cúpula», dizia de si para si, «agora a pequena barbearia, agora a fachada com varandas como tanques quadrados.» E, mais ainda do que o caminho, conhecia o bairro das pensões. Tinha a certeza de que poucos amigos de Las Flores se podiam gabar de terem visitado a capital e, menos ainda, de a conhecerem tão bem como ele. «Neste momento, se não me tirarem de um ou dois bairros deste percurso, sou platense de uma ponta a outra, ou começo a sê-lo. Que pena», disse para si próprio, como que adivinhando o futuro, «se um dia me esquecer destas coisas que hoje sei e que me deixam tão satisfeito.»


Adolfo Bioy Casares, A Aventura de um Fotógrafo em La Plata
Anunciaram a partida para Balcarce, Tandil e Azul.

- É melhor ires.

Obedeceu. Não conseguindo abrir a janela, bateu no vidro e começou a gritar em direção a ela:

- Queria dizer-te...

Julia tapava a cara com as mãos, para que não a visse chorar, e dizia-lhe qualquer coisa, que não ouviu.


Adolfo Bioy Casares, A Aventura de um Fotógrafo em La Plata

na minha morte

Na noite da minha morte
Tudo voltará silenciosamente ao encanto antigo...
E os campos libertos enfim da sua mágoa
Serão tão surdos como o menino acabado de esquecer.

Na noite da minha morte
Ninguém sentirá o encanto antigo
Que voltou e anda no ar como um perfume...
Há-de haver velas pela casa
E chales negros e um silêncio que eu
Poderia entender.

Mãe: talvez os teus olhos cansados de chorar
Vejam subitamente...
Talvez os teus ouvidos, só eles ouçam, no silêncio da casa velando,
Uma voz serena de infância, tão clara e tão longínqua...
E mesmo que não saibas de onde vem nem porque vem
Talvez só tu a não esqueças.


Cristovam Pavia, 20 Anos de Poesia Portuguesa, Círculo de Poesia, Moraes Editores

se eu fosse um vídeo



but I somehow slowly love you
and wanna keep you the same
well, I somehow slowly know you
and wanna keep you away
Somos cinco irmãos. Vivemos em cidades diferentes, alguns de nós no estrangeiro, e não nos escrevemos muitas vezes. Quando nos encontramos, podemos ser, uns para os outros, indiferentes ou descontraídos. Mas basta, entre nós, uma palavra. Basta uma palavra, uma frase: uma dessas frases antigas, ouvidas e repetidas infinitas vezes, no tempo da nossa infância. Basta dizermos: "Não viemos a Bérgamo para passear" ou "a que é que fede o ácido sulfídrico", para redescobrirmos no mesmo instante as nossas relações de outrora, e a nossa infância e a nossa juventude, indissoluvelmente ligadas a essas frases, a essas palavras. Uma dessas frases ou palavras faria que nos reconhecêssemos mutuamente, como os irmãos que somos, na escuridão de uma gruta, entre milhões de pessoas. Essas frases são o nosso latim, o vocabulário dos nossos dias idos, são, como os hieróglifos dos egípcios ou dos assírio-babilónios, o testemunho de um núcleo vital que deixou de existir, mas que sobrevive nos seus textos, salvos da fúria das águas, da corrosão do tempo. Essas frases são o fundamento da nossa unidade familiar, que subsistirá enquanto estivermos no mundo, recriando-se e ressuscitando nos pontos mais diversos da terra, quando um de nós disser "Ilustre signor Lipmann", e ressoar então nos nossos ouvidos a voz impaciente do meu pai: - Deixa lá essa história! Quantas vezes não a ouvi já!


Natalia Ginzburg, Léxico Familiar
Pessoas ou mortas, ou em todo o caso antiquíssimas, se bem que vivas ainda, porque participantes de tempos longínquos, de acontecimentos remotos, quando a minha mãe era ainda pequena, e ouvira dizer "a irmã da minha cadela" e "a que é que fede o aço sulfírico?"; pessoas que era agora impossível encontrar, que era impossível tocar, e que, ainda que as encontrássemos e tocássemos, não seriam as mesmas que quando eu pensara nelas, e que, ainda que continuassem vivas, tinham já sido contagiadas pela vizinhança dos mortos, com os quais moravam na minha alma: tinham tomado, dos mortos, o passo inalcançável e ligeiro.


Natalia Ginzburg, Léxico Familiar
A mim, parecia-me igualmente belíssima a poesia das rochas negras, e roía-me de inveja por não ter sido eu a escrevê-la. Era simples: prados verdes, rochas negras, também eu os vira muitas vezes, na montanha. E não me passara pela cabeça que se pudesse fazer fosse o que fosse com isso: vira-o, e nada mais. Portanto, as poesias eram assim: simples, feitas de nada - feitas das coisas que se olhavam. E eu punha-me a olhar à minha volta com os olhos atentos: procurava coisas que pudessem assemelhar-se àquelas rochas negras, àqueles prados verdes, e doravante não deixaria que ninguém mas levasse.


Natalia Ginzburg, Léxico Familiar
Pavese, naquela primavera, costumava chegar a nossa casa a comer cerejas. Gostava das primeiras cerejas, ainda pequenas e sumarentas, que, dizia ele, "sabiam a céu". Víamo-lo da janela aparecer ao fundo da rua, alto, com o seu passo rápido: comia cerejas e atirava os caroços contra as paredes com um tiro seco e fulminante. A derrota de França, para mim, ficou para sempre ligada àquelas cerejas, que, ao chegar a nossa casa, ele nos dava a provar, tirando-as uma a uma do bolso com a sua mão parcimoniosa e esquiva.

(...)

Pavese não falava quase nunca de Leone. Não gostava de falar dos ausentes, e dos mortos. E dizia-o. Dizia: - Quando alguém se vai embora, ou morre, procuro não pensar nele, porque não gosto de sofrer.

Todavia, talvez, por vezes, sofresse a sua perda. Leone fora o seu melhor amigo. Talvez a sua perda se contasse entre as coisas que o dilaceravam. E a verdade é que era incapaz de se poupar ao sofrimento, de mergulhar no sofrimento mais amargo e mais cruel, de cada vez que se apaixonava.

O amor tomava-o e trabalhava-o como uma febre. Durava um ano, dois anos; a seguir, ficava curado, mas transtornado e exausto, como quem sai de uma doença grave.

(...)

Tinha sempre, nas suas relações connosco, seus amigos, um fundo irónico, ao mesmo tempo que, aos seus amigos, endereçava observações que nos descreviam com ironia: a sua ironia talvez fosse o que nele havia de mais belo, Pavese não a assumia nunca perante as coisas que levava mais a peito, como as suas relações com as mulheres pelas quais se apaixonava ou como os seus livros - usava-a somente na amizade, porque a amizade era, nele, um sentimento natural e de certo modo despreocupado, qualquer coisa a que, por isso, não dava excessiva importância. No amor, e também na escrita, lançava-se com um ardor febril e de cálculo tais, que excluíam por completo o riso e o impediam de ser plenamente como era, e, por vezes, quando penso nele hoje, a sua ironia é o que recordo e mais lamento que tenha deixado de existir: não ficou rasto dela nos seus livros, e não há, fora do relâmpago do seu sorriso malicioso, outro lugar onde seja possível reencontrá-la.


Natalia Ginzburg, Léxico Familiar
Pavase matou-se num verão em que nenhum de nós estava em Turim. Preparara e calculara as circunstâncias relativas à sua morte, como alguém que prepara e antecipa o itinerário de um passeio ou de um serão, nada deixando ao imprevisto ou ao acaso.

(...)

Falara, durante anos, de matar-se. Ninguém acreditou nunca nisso.

(...)

Tinha medo da guerra, mas não o suficiente para se matar por causa da guerra. Mas continuou a ter medo da guerra, já depois de a guerra ter acabado havia muito tempo - como, de resto, todos nós. Porque isso aconteceu connosco, assim que a guerra acabou, começámos logo a temer uma nova guerra, e a pensar nela a todo o momento. E ele temia, mais do que todos nós, uma nova guerra. E o medo que nele havia era maior do que o nosso: nele, o medo era o turbilhão do imprevisto e do incognoscível, que parecia horrível à lucidez do seu pensamento; um turbilhão de águas escuras e tóxicas sobre as margens nuas da sua vida.

Não tinha, no fundo, para matar-se, qualquer motivo real. Mas combinou vários motivos e calculou a soma, com uma precisão fulminante, depois, combinou-os de novo e de novo viu, verificando-o com o seu sorriso malicioso, que o resultado continuava a ser o mesmo, exatamente calculado. Olhou a seguir para lá da sua vida, os nossos dias futuros, viu como se comportariam as outras pessoas em relação aos seus livros e à sua memória. Olhou para lá da morte, como fazem aqueles que amam a vida e não sabem separar-se dela, e que, embora pensem na morte, continuam a imaginar a vida e não a morte, mas o seu olhar para lá da sua própria morte não era amor à vida, mas um rápido cálculo de circunstâncias, para que nada, nem mesmo depois de morto, pudesse apanhá-lo de surpresa.


Natalia Ginzburg, Léxico Familiar
O editor já não era tímido, ou melhor, a sua timidez tornava a despertar só ocasionalmente, quando tinha entrevistas com estranhos, e já não parecia timidez, mas um mistério frio e silencioso. Assim, a sua timidez intimidava esses estranhos, que se sentiam envoltos num olhar azul, luminoso e glacial, que os interrogava e sopesava do outro lado da grande mesa de vidro, a uma distância glacial e luminosa. A sua timidez tornara-se, portanto, um excelente instrumento de trabalho. A sua timidez tornara-se uma força, na qual os estranhos embatiam como borboletas embatem contra uma luz, e depois de chegarem seguros de si carregados de propostas e de projetos, viam-se no fim da entrevista estranhamente desapossados e desconcertados, com a desagradável impressão de talvez terem sido um tanto estúpidos e ingénuos, e de terem produzido projetos mal fundamentados, confrontados com um frio exame que os sondara e reconhecera em silêncio.


Natalia Ginzburg, Léxico Familiar
Pensámos que a guerra arruinaria e transtornaria por completo a vida de tudo e todos. Mas aconteceu, pelo contrário, que muita gente se manteve em sua casa, sem perturbação, continuando, de ano para ano, a fazer o que sempre fizera. Depois, quando todos pensavam que não tinham sofrido demasiado e que não haveria nem muito caos, nem casas destruídas, nem fugas ou perseguições, começaram de repente a explodir bombas e minas por toda a parte, enquanto as casas caíam, e as ruas encheram-se de escombros, de soldados e de fugitivos. Já ninguém podia fingir que nada acontecera, fechar os olhos e tapar os ouvidos e esconder a cabeça debaixo da almofada, ninguém. Em Itália foi assim a guerra.

(...)

Pensei então, pela primeira vez na minha vida, que não havia para mim outra proteção possível, que teria de arranjar-me sozinha. Compreendi que houvera sempre em mim, no meu afeto pela minha mãe, a impressão de que ela, nas adversidades, me protegeria e defenderia. Mas agora, em mim, restava somente o afeto, e desaparecera desse afeto todo o pedido e toda a expectativa de proteção, e eu pensava que talvez devesse ser eu no futuro a protegê-la e a defendê-la, porque, doravante, ela, a minha mãe, estava muito velha, abatida e indefesa.

(...)

A guerra confundira por completo a sua geografia. Já não era possível evocar-se tranquilamente Grassi e o signor Polikar. Eles tinham tido noutro tempo o poder de transformar, aos olhos da minha mãe, países longínquos e desconhecidos em qualquer coisa de doméstico, de habitual e repousante, de fazer do mundo uma povoação ou uma rua que o pensamento era capaz de percorrer num segundo, no rasto de uns poucos nomes habituais e tranquilizadores.

O mundo parecia-lhe agora, depois da guerra, enorme, incognoscível e sem limites.


Natalia Ginzburg, Léxico Familiar


ADVERTÊNCIA 

«Lugares, factos e pessoas são, neste livro, reais. Não inventei nada, e sempre que, na esteira do meu velho costume de romanciasta, inventava, sentia-me imediatamente impelida a destruir quando inventara.

Os nomes são também reais. Sentindo, ao escrever este livro, uma intolerância tão profunda fosse por que invenção fosse, foi-me impossível mudar os nomes verdadeiros, que me pareceram indissolúveis das pessoas verdadeiras. Talvez haja quem não goste de se descobrir assim, com o seu nome e apelido, num livro. Mas a isso nada tenho a responder.» 

Natalia Ginzburg

se eu fosse um vídeo

poemário daqui

A. M. Pires Cabral Abel Neves Adília Lopes Adolfo Casais Monteiro Agustina Bessa-Luís Al Berto Albano Martins Alberto Pimenta Alexandra Malheiro Alexandre Nave Alexandre O'Neill Alice Turvo Alice Vieira Almada Negreiros Américo António Lindeza Diogo Ana Bessa Carvalho Ana C. Ana Caeiro Ana Cristina César Ana Duarte Ana Hatherly Ana Luísa Amaral Ana Marques Gastão Ana Martins Marques Ana Paula Inácio Ana Salomé Ana Tecedeiro Ana Teresa Pereira Ana Tinoco André Tomé Andreia C. Faria Angélica Freitas Ângelo de Lima Aníbal Fernandes António Amaral Tavares António Botto António Dacosta António Franco Alexandre António Gancho António Gedeão António Gregório António José Forte António Manuel Pires Cabral António Maria Lisboa António Mega Ferreira António Osório António Pedro António Quadros Ferro António Ramos Pereira António Ramos Rosa António Rebordão Navarro António Reis António S. Ribeiro Armando Baptista-Bastos Armando Silva Carvalho Artur do Cruzeiro Seixas Bénédicte Houart Bruno Béu Bruno Sousa Villar Camilo Castelo Branco Camilo Pessanha Carlos Alberto Machado Carlos Bessa Carlos de Oliveira Carlos Eurico da Costa Carlos Mota de Oliveira Carlos Poças Falcão Carlos Soares Casimiro de Brito Catarina Nunes de Almeida Cesário Verde Cláudia R. Sampaio Cruzeiro Seixas Daniel Faria Daniel Filipe David Mourão-Ferreira David Teles Pereira Delfim Lopes Dulce Maria Cardoso Eastwood da Silva Eduarda Chiote Egito Gonçalves Ernesto Sampaio Eugénio de Andrade Eugénio Lisboa Fernando Assis Pacheco Fernando Esteves Pinto Fernando Lemos Fernando Pessoa Fernando Pinto do Amaral Fiama Hasse Pais Brandão Filipa Leal Filipe Homem Fonseca Florbela Espanca Frederico Pedreira gil t. sousa Golgona Anghel Gonçalo M. Tavares Helder Moura Pereira Helena Carvalho Helga Moreira Hélia Correia Henrique Manuel Bento Fialho Henrique Risques Pereira Herberto Hélder Inês Dias Inês Fonseca Santos Inês Lourenço Isabel Meyrelles Joana Morais Varela Joana Serrado João Almeida João Bénard da Costa João Cabral de Melo Neto João Camilo João Damasceno João Ferreira Oliveira João Habitualmente João Luís Barreto Guimarães João Maia João Manuel Ribeiro João Miguel Henriques João Pacheco João Pereira Coutinho João Rodrigues João Vasco Coelho Joaquim Manuel Magalhães Joaquim Pessoa Jorge Carrera Andrade Jorge de Sena Jorge Gomes Miranda Jorge Melícias Jorge Roque Jorge Sousa Braga José Agostinho Baptista José Alberto Oliveira José Amaro Dionísio José António Franco José Cardoso Pires José Carlos Barros José Carlos Soares José Efe José Gomes Ferreira José Manuel de Vasconcelos José Mário Silva José Miguel Silva José Pascoal José Ricardo Nunes José Rui Teixeira José Saramago José Sebag José Tolentino Mendonça Judith Teixeira Leitão de Barros Leonor Castro Nunes Luís Miguel Nava Luís Quintais Luiza Neto Jorge Madalena de Castro Campos Mafalda Gomes Manuel A. Domingos Manuel António Pina Manuel Cintra Manuel da Silva Ramos Manuel de Castro Manuel de Freitas Manuel Fúria Manuel Gusmão Marcelino Vespeira Margarida Vale de Gato Maria Ângela Alvim Maria Azenha Maria do Rosário Pedreira Maria Gabriela Llansol Maria João Lopes Fernandes Maria Judite de Carvalho Maria Keil Maria Mergulhão Maria Sousa Maria Teresa Horta Maria Velho da Costa Mário Cesariny Mário Contumélias Mário de Sá-Carneiro Mário Dionísio Mário Quintana Mário Rui de Oliveira Mário-Henrique Leiria Marta Chaves Matilde Campilho Mendes de Carvalho Miguel Cardoso Miguel Martins Miguel Sousa Tavares Miguel Torga Miguel-Manso Nuno Araújo Nuno Bragança Nuno Júdice Nuno Moura Nuno Ramos Nuno Travanca Patrícia Baltazar Paulo José Miranda Pedro Jordão Pedro Loureiro Pedro Mexia Pedro Oom Pedro Santo Tirso Pedro Sena-Lino Pedro Tamen Pedro Tiago Piedade Araujo Sol Raquel Nobre Guerra Raquel Serejo Martins Raul de Carvalho Raul Malaquias Marques Regina Guimarães Reinaldo Ferreira Renata Correia Botelho Ricardo Adolfo Rosa Alice Branco Rosa Maria Martelo Rui Almeida Rui Baião Rui Caeiro Rui Cóias Rui Costa Rui Knopfli Rui Lage Rui Manuel Amaral Rui Nunes Rui Pedro Gonçalves Rui Pires Cabral Rute Mota Ruy Belo Ruy Cinatti Ruy Ventura Samuel Úria Sandra Andrade Sandra Costa Sebastião Alba Sílvio Mendes Soares de Passos Sofia Crespo Sofia Leal Sophia de Mello Breyner Andresen Tatiana Faia Teixeira de Pascoaes Teresa Balté Teresa M. G. Jardim Tiago Araújo Tiago Gomes valter hugo mãe Vasco Gato Vasco Graça Moura Vítor Nogueira Yvette K. Centeno

poemário dali

A. E. Housman Abbas Kiarostami Abel Feu Adelaide Ivánova Adélia Prado Adrienne Rich Agota Kristof Al Purdy Alberto Tugues Alda Merini Aldous Huxley Alejandra Pizarnik Alejandro Jodorowsky Alexander Demidov Alfredo Veiravé Alice Walker Allen Ginsberg Amalia Bautista Amiri Baraka Amy Lowell Amy M. Homes Ana Merino André Breton Andrés Trapiello Angela Carter Anis Mojgani Anna Akhmatova Anna Kamienska Anne Carson Anne Perrier Anne Sexton Antonia Pozzi Antonin Artaud Antonio Gamoneda Antonio Orihuela Antonio Pérez Morte Antonio Sáez Delgado Arnold Lobel Arseny Tarkovsky Arthur Rimbaud Basilio Sánchez Benjamín Prado Bernard-Marie Koltès Billy Collins Boris Vian Brett Elizabeth Jenkins Brian Andreas Brian Patten Carl Phillips Carl Sandburg Carlos Drummond de Andrade Carlos Edmundo de Ory Carlos Marzal Carmen Gloria Berríos Carol Ann Duffy Cecília Meireles Cesare Pavese Charles Baudelaire Charles Bukowski Charles Dana Gibson Charles M. Schulz Chen Bolan Christoph Wilhelm Aigner Clarice Lispector Constantino Cavafy Corey Zeller Countee Cullen Cristopher Painter Cristovam Pavia Czesław Miłosz Damien Sevhac Daniel Clowes Daniel Francoy Daniel Pennac Daphne Gottlieb David Bowie David Lagmanovich David Lehman Delia Brown Delmore Schwarts Derek Walcott Derrick Brown Diamanda Galás Diane Ackerman Djuna Barnes Don Herold Dorianne Laux Dorothea Lasky Dorothy Parker Douglas Huebler Dylan Thomas E. E. Cummings E. Ethelbert Miller E. M. Cioran Edgar Allan Poe Edna O'Brien Eduarda Chiote Eduardo Bechara Eeva-Liisa Manner Egito Gonçalves Eleanor Farjeon Elías Moro Elie Wiesel Elis Regina Elizabeth Bishop Elizabeth Ross Taylor Else Lasker-Schuler Elsie Wood Emily Dickinson Emily Kagan Trenchard Erin Dorsey Eunice de Souza Fabiano Calixto Federico Díaz-Granados Federico García Lorca Félix Grande Fernando Arrabal Fernando Caio de Abreu Fernando Echevarría Fernando Gandra Ferreira Gular Forough Farrokhzad Francisco Madariaga Frank O'Hara Frederico Pedreira G. K. Chesterton Gabriel Celaya Geir Gulliksen Georges Bataille Gerrit Komrij Giánnis Ritsos Giovanny Gómez Glória Gervitz Gottfried Benn Guillaume Apollinaire Günter Kunert Gustavo Adolfo Bécquer Gustavo Ortiz H. P. Lovecraft Hal Sirowitz Hans-Ulrich Treichel Harold Pinter Harvey Shapiro Heiner Müller Heinrich Heine Helen Mort Henri Béhar Henri Michaux Henry Rollins Hermann Hesse Hilda Hilst Hilde Domin Hoa Nguyen Hugh Mackay Hugo von Hofmannsthal Hugo Williams Ingeborg Bachmann Ingmar Heytze Isabel Meyrelles Isabelle McNeill J. M. Fonollosa J. R. R. Tolkien Jack Gilbert Jack Kerouac Jack Winter Jacques Lacan Jacques Prévert James L. White James Rogers James Tate Jane Hirshfield Janet Frame Jean Baudrillard Jean Day Jeanette Winterson Jenny Joseph Jenny Schecter Jesús Llorente Jim Carroll Joan Julier Buck Joan Margarit Jodi Picoult Johann Wolfgang Goethe Johannes Bobrowski John Ashbery John Giorno John Keats John Mateer John Updike Jonathan Littell Jonathan Safran Foer Jonathan Swift Jorge Amado Jorge Luis Borges José Eduardo Agualusa José Gardeazabal José Mateos Joseph Brodsky Joseph Cervavolo József Attila Juan José Millás Juan Ramón Jiménez Judith Herzberg Junko Takahashi Justine Hermitage Katerina Angheláki-Rooke Kathy Acker Kendra Grant Kenneth Patchen Kenneth Traynor Kosntandinos Kavafis Kristina H. Langston Hughes Larissa Szporluk Lauren Mendinueta Laurie Anderson Lawrence Ferlinghetti Lêdo Ivo Leila Miccolis Leonard Cohen Leonardo Chioda Leonardo Da Vinci Leopoldo María Panero Lewis Carroll liam ryan Lígia Reyes Lord Byron Lou Andreas-Salomé Lou Reed Louis Aragon Louis Buisseret Lourdes Espínola Lucía Estrada Luis Alberto de Cuenca Luís Filipe Parrado Luis García Montero Malcolm Lowry Manoel de Barros Manuel Arana Marco Mackaaij Margaret Atwood María Sánchez Marianne Boruch Mariano Peyrou Marin Sorescu Marina Colasanti Martha Carolina Dávila Martin Amis Mary Elizabeth Frye Mary Jo Salter Mary Oliver Mary Ruefle Max Porter Medlar Lucan & Durian Gray Melissa Witcombe Mia Couto Michael Drayton Michel Carpassou Michel Houellebecq Miguel de Cervantes Miriam Reyes Mitch Albom Morgan Parker Muhammad al-Maghut Muriel Rukeyser Natsume Soseki Neil Gaiman Nicanor Parra Nichita Stanescu Nicole Blackman Nina Rizzi Octavio Paz Olga Orozco Omar Khayyam Osho Otávio Campos Pablo Fidalgo Lareo Pablo García Casado Pablo Neruda Pat Boran Patricia Beer Patti Smith Paul Éluard Paul Géraldy Paul Theroux Paulo Leminski Pentti Saaritsa Per Aage Brandt Pere Gimferrer Philip Larkin Philip Roth Philippe Wollney Pia Tafdrup Pier Paolo Pasolini Pierre Reverdy Piotr Sommer Rafael Alberti Rainer Maria Rilke Ramón Gómez de la Serna Raúl Gustavo Aguirre Raymond Carver Raymond Queneau Reinaldo Ferreira Reiner Kunze Richard Brautigan Richard Burton Roald Dahl Robert Creeley Robert Frost Roberto Bolaño Roberto Fernández Retamar Roberto Juarroz Robin Robertson Rod McKuen Roger Wolfe Ron Padgett Rosa Aliaga Ibañez Rosemarie Urquico Rubens Borba de Moraes Rudyard Kipling Russell Edson Ruth Stone Ryan Montanti Saiónji Sanekane Salman Rushdie Salvador Novo Sam Shepard Samuel Beckett Sandro Penna Santiago Nazarian Sei Shonagon Serge Gainsbourg Sharon Olds Shel Silverstein Silvia Chueire Silvia Ugidos Simone de Beauvoir Somerset Maugham Stephen Crane Stephen Wright Steve Mccaffery Stevie Smith Stuart Dischell Sue Goyette Susana Cabuchi Sylvia Plath T. S. Eliot Tai Fu Ku Tanya Davis Tati Bernard Tatianna Rei Moonshadow Tennessee Williams Thom Gunn Tiago Fabris Rendelli Tilly Strauss Tom Baker Tom Waits Toni Montesinos Gilbert Ulla Hahn Valentine de Saint-Point Vicente Aleixandre Victor Heringer Victor Prado Vincenzo Cardarelli Vinicius de Moraes Vladimir Maiakovski Vladimir Nabokov W. H. Auden Walt Whitman Warsan Shire William Blake William Butler Yeats William Carlos Williams William Shakespeare Winnie Meisler Winona Baker Wislawa Szymborska Yehuda Amichai Yohji Yamamoto Yoko Ono Yorgos Seferis Zee Avi

livraria

. A Sul de Nenhum Norte . . Granta . Adolfo Bioy Casares . Al Berto . Alexandre O'Neill . Algernon Blackwood . Ali Smith . Alice Munro . Alice Turvo . Almanaque do Dr. Thackery . Anaïs Nin . Anita Brookner . Ann Beattie . Annemarie Schwarzenbach . Anton Tchekhov . António Ferra . António Lobo Antunes . Arthur Miller . Boris Vian . Bret Easton Ellis . Carlos de Oliveira . Carson McCullers . Charles Bukowski . Chuck Palahniuk . Clarice Lispector . Conde de Lautréamont . Cormac McCarthy . Cristiane Lisbôa . Donald Barthelme . Doris Lessing . Dulce Maria Cardoso . Edith Wharton . Eileen Chang . Elena Ferrante . Enrique Vila-Matas . Erasmo de Roterdão . Ernest Hemingway . Ernesto Sampaio . F. Scott Fitzgerald . Fernando Pessoa . Flannery O'Connor . Florbela Espanca . Françoise Sagan . Franz Kafka . Frida Kahlo . Gabriel García Márquez . Gonçalo M. Tavares . Graça Pina de Morais . Gustave Flaubert . Guy de Maupassant . Harold Pinter . Haruki Murakami . Henri Michaux . Herberto Hélder . Hunter S. Thompson . Irene Lisboa . Irène Némirovsky . Italo Calvino . J. D. Salinger . Jack Kerouac . James Joyce . Jean Cocteau . Jean Genet . Jean Meckert . Jean-Paul Sartre . Jeffrey Eugenides . Jim Cartwright . Joan Didion . John Cheever . José Jorge Letria . José Saramago . Josep Pla . Julian Barnes . Julio Cortázar . Karen Blixen . Kate Chopin . Katherine Mansfield . Kurt Vonnegut . Lázaro Covadlo . Lillian Hellman . Luís de Sttau Monteiro . Luís Miguel Nava . Luiz Pacheco . Lydia Davis . Lygia Fagundes Telles . Malcolm Lowry . Manuel Hermínio Monteiro . Manuel Jorge Marmelo . Marcel Proust . Margaret Atwood . Marguerite Duras . Marguerite Yourcenar . Marina Tsvetáeva . Mário C. Brum . Mário-Henrique Leiria . Mark Lindquist . Marquis de Sade . Max Aub . Miguel Castro Henriques . Miguel Esteves Cardoso . Miguel Martins . Milan Kundera . Natalia Ginzburg . Neil Gaiman . Nick Cave . Norman Rush . Orhan Pamuk . Oscar Wilde . Paul Auster . Paulo Rodrigues Ferreira . Pedro Mexia . Penelope Fitzgerald . Pierre Louÿs . Rainer Maria Rilke . Rainer Werner Fassbinder . Raul Brandão . Ray Bradbury . Rebecca West . Regina Guimarães . Richard Yates . Roland Barthes . Roland Topor . Rolf Dieter Brinkmann . Rui Nunes . S. E. Hinton . Sam Shepard . Samuel Beckett . Sarah Kane . Sebastian Barry . Shirley Jackson . Stig Dagerman . Susan Sontag . Susana Moreira Marques . Sylvia Plath . Tennessee Williams . Teresa Veiga . Tom Baker . Truman Capote . valter hugo mãe . Vasco Gato . Vera Lagoa . Vergílio Ferreira . Virginia Woolf . Vladimir Nabokov . William Faulkner . Woody Allen . Yasunari Kawabata . Yukio Mishima .
page visitor counter

mariaravascosoares@gmail.com
ocinemadaoqueavidatira.tumblr.com