se eu fosse um vídeo




sadness is a blessing / sadness is a pearl / sadness is my boyfriend / oh, sadness I'm your girl

As mãos.

Essa região desconhecida que nos aproxima e afasta ao mesmo tempo.

Perco-me na penumbra do que queria ter gritado e não pude.

O desejo resgata-nos do abismo,
mas também se ergue o que no admite consolo.

Palavras como pássaros na solidão do ar.


Lucía Estrada, in A Sul de Nenhum Norte

até ao esquecimento

Cansados de inventar palavras
de dar nome ao silêncio
para afugentar tristezas
Cansados de olhar para o céu
rogando que chova
Que a água ou o vento
tragam um gesto que nos devolva a vida
Cansados de pedir aos mortos
que encham as nossas horas
que inundem com as suas vozes o nosso leito obscuro
Cansados por fim de acreditar
em labirintos
Optamos por deixar de interrogar as esquinas
por ignorar promessas
Optamos por fim por essa eternidade
que é o esquecimento.


Martha Carolina Dávila, in A Sul de Nenhum Norte

se eu fosse um concerto

SOBRE UM BOSQUE QUE JULGAMOS ARDIDO

É inútil saber quanto teremos de esperar por um amor
quando a casa nos cai em cima
e os que estão vestidos continuam nus
com o riso de uma natureza que bebemos às golfadas.
É este o bosque da memória que julgamos ardido
onde o desejo de encontrar
te traz de volta ao que alguma vez roubaste
nesses sonhos
nesses poemas insuficientes
que não nos acontecerão agora
que nunca hão-de ser.


Giovanny Gómez, in A Sul de Nenhum Norte

ARTE POÉTICA

Não sei em que mentira devo acreditar.
Essa a que chamam palavra.
A palavra é um excesso
e todos param
para olhar essa estranha.
A mim só me doem as pernas,
sou um artista que procura definições
e não aprecio essa festa.
Como pede a morte
como pede o amor
a palavra precisa da sua nudez.
Vivi em tantas palavras sós.
São palavras ou sons, mulher?
Sentir nervos
sempre é um bom sinal.
Dizei aos leitores
que não é um poema suicida,
porque estou só a sair
em busca de uma primeira palavra
que esteja habitada.
Os pássaros viajam em busca do seu alimento
na cinza dos teus olhos.
Como pede a morte
como pede o amor
a palavra precisa da sua nudez.
Ali tenho de amar.


Gustavo Ortiz, in A Sul de Nenhum Norte

secret heart

© Aino Kannisto

cinco filmes de sonho

1.
Abelhas mortas- pressionadas como palavras nas páginas de um dicionário- voltam à vida.

2.
Jerusalém, começo do século 20: eu sou eu e também um pequeno vigarista e livreiro com um bico de lápis, seduzindo gerações de mulheres, querendo uma maquina fotográfica para tirar fotografias da vista da minha janela. A livraria é também um café e também o quarto no andar de cima da casa de Memere. Cortinas brancas da infância

3.
Secretárias, malas e estantes empilhadas umas em cima das outras com gavetas que abrem e fecham sozinhas, e pessoas pequeninas a sair e a entrar nelas e uns sobre os outros; uma pilha enorme de mobília a empilhar-se para sempre

4.
A morte disfarçada de um John Travolta envelhecido, em que ninguém repara, a dançar disco numa carruagem do metro. No outro lado do comboio dois homens batem-se em duelo usando peúgas como espadas

5.
Uma sala de aulas no meio dos pinheiros. Eu estou a tentar aprender uma língua nova- palavras novas para quando um melhor amigo te trair acidentalmente, ou para quando tens uma experiência irrepetível que nunca poderás contar a ninguém- mas as letras no quadro são indecifráveis - Y está ao meu lado, deitada sobre a secretária. Quando ela se levanta alguém ocupa a secretária dela, e quando eu me levanto eles ocupam a minha.


Kenneth Traynor, in A Sul de Nenhum Norte

demónio

Se há coisa com que nunca deixará de se surpreender é aquele intangível demónio gerado no ponto em que o involuntário de si se cruza com o acaso do mundo. Confunde-a, ludibria-a e tolda-lhe os movimentos, levando-a por vezes a fazer xeque-mate na sua própria parte do tabuleiro.
É um pequeno demónio perverso, descomprometido, que tanto se alimenta da intencionalidade pungente com que o procura a todo o custo nutrir, como se regala, escondido, com o lodo que ela oculta em si. Por isso, nos momentos em que é experiência no mundo – momentos em que o demónio mostra a sua inteireza – é por vezes traída: ao esperar que o demónio devolva as doces intenções com que o alimentou, ele, na sua dança louca, vomita a lama que secretamente bebeu.
Mas como pode pôr a culpa no demónio se ele nem deve respeito ao acaso do mundo e se dorme e bebe em si?


Helena Carvalho, in A Sul de Nenhum Norte


poppies in july

Little poppies, little hell flames,
Do you do no harm?

You flicker. I cannot touch you.
I put my hands among the flames. Nothing burns

And it exhausts me to watch you
Flickering like that, wrinkly and clear red, like the skin of a mouth.

A mouth just bloodied.
Little bloody skirts!

There are fumes I cannot touch.
Where are your opiates, your nauseous capsules?

If I could bleed, or sleep! -
If my mouth could marry a hurt like that!

Or your liquors seep to me, in this glass capsule,
Dulling and stilling.

But colorless. Colorless.


Sylvia Plath

wonderland of malice


Malice in Wonderland, Vince Collins, 1982

as dobras da colcha de seda

Descanso. Ser hóspede, por fim. Não satisfazer sempre os próprios desejos com mísero sustento. Não lançar a mão a tudo com gesto hostil; por uma vez deixar que tudo aconteça e saber: o que acontece é por bem. Também o ânimo precisa de estender-se de vez em quando ao comprido e enrolar-se em si próprio nas dobras de colchas de seda. Não ser sempre soldado.


Rainer Maria Rilke, A balada da vida e da morte do alferes Christoph Rilke

dias melhores

A mulher espera as noites e também os dias,
esperta o lume enquanto, esperta a espera.
Há umas quantas coisas que a prendem, coisas
que arrecadou para a vida e já não servem.
Quem serve é ela e serve a Deus desfiando o rosário
pelos que já lá estão.
Por aqui vai-se indo, vai-se levando a vida
para o outro lado enquanto se esperam dias melhores,
dias mecânicos, a labuta dos músculos, a cabeça em paz
e a noite cansada, os pensamentos cansados,
o sofrimento cansado só quer estender o corpo
até de manhã. Quando mal nunca pior,
o café quente, o pão acabado de fazer
como se fosse cedo e as mãos na sua azáfama
pudessem fazer os dias gloriosos as noites luminosas
com que sonhou e já não servem. Agora só a espera
e as coisas que foi arrecadando para a morte.


Rosa Alice Branco

behind doors

© Aino Kannisto

mulher: anatomia

A anatomia da mulher é intercadência ou cissão de árvore. Os seus seios, como dois pomos sazonais inaugurados no hemisfério do dorso, principiam-se com o acúleo do peito lactente no cedro da minha boca. O seio esquerdo tumesce cerúleo de tão azul, o diâmetro recua esfriado na bainha das nervuras. Os seus músculos textualizam-se de forma e som, hirtos, despedaçam a elasticidade cervical dos meus vértices. A pele gradua-se num esmalte vítreo de luz, fixa-se nas cavilhas que lhe prendem a argamassa à semelhança de um rosto. Na mulher, o físico verbaliza-se no desarranjo dos nervos, na mulher, a geometria é descontínua se a matéria se desfaz magra de resina. A anatomia da mulher é perfloração ou fissão de pedra. Os seus seios, como dois seixos salmourados nos ferros do peito, incham-se de sal na sucção dos meus beiços. A anatomia da mulher é aceleração de corpo subida à altura da expectativa mais distante. Mas a sua fisionomia é táctil, não possui matriz ou molde, enxuga-se na terra e só da terra o musgo lhe devolve outro princípio de mulher.


Alice Turvo, in A Sul de Nenhum Norte

mulher: osso

A constituição da mulher é desconstrução de corpo, amor dividido em dois terços longos de osso, homem ou mulher intervalado nos tecidos da substância maior. O amor liquefaz-se nas estalactites da sua boca, suspenso no calcário da saliva, interpõe-se entre o eco e a claridade húmida da língua. Os seus maxilares movem-se como guindastes, a seco, mastigam os molares em cacos de tensão. A precisão textual de cada osso é atemporal, macera-se de dentes cerrados. O cálcio arde-lhe de vermelho se o amor se alarga em massa inflamável. À mulher, outra mulher cabe-lhe na ruptura das vértebras, caule que perfura o novelo inferior do pulmão. À mulher, outra mulher cabe-lhe no abcesso do peito, metal alcalino de degustação salina. Ao amor, essa mulher chega-lhe hermética, deposta de tendões que lhe segurem a carne na vertical. À palavra, pouco lhe importa o epicentro da sílaba ou a cerâmica da tónica. Ao amor, nunca lhe satisfaz a fractura do fonema ou a dentição do silêncio. No amor, a mulher vaza inteira se a serradura lhe lacera as dobradiças do corpo. Porque na mulher, o amor não é ruído seco ou opaco, é arritmia surda no ventrículo mais defeso.


Alice Turvo, in A Sul de Nenhum Norte

despair


Despair, Alex Prager, 2010

mulher: vagar

O vagar da mulher é dissemelhante do vagar dos homens e das coisas. O vagar da mulher contrai cada pretérito à milésima, ocupando cada milímetro pela sexagésima parte do segundo mais breve. O vagar de qualquer mulher dilata-se em mil partes desiguais a um todo. A mulher não executa a presença desmembrada das coisas, sem antes as invocar como domicílio próprio. A mulher segura de frente os edifícios caiados na tijoleira das costas, suporta as urbes fixas no eixo dos seus pulsos, faísca pelas luminárias ausentes de centelhas já extintas. O vagar da mulher nunca descuida a largura do antecedente, sem antes se esvaziar na obsessão intermitente do perímetro do verbo mais presente. A mulher é, igualmente e inteiramente mais mulher, na suspensão variável dos homens e das coisas. Os seus ângulos flectem-se na equidade ímpar das esperas. As suas mãos inclinam-se no ponto equidistante do vazio. A mulher cumpre o tempo a tempo inteiro, sem suprimir a duração menor da unidade. O vagar de cada mulher é célere e voluntário, e em tudo se apressa à lentidão demorada de um vaso caído.


Alice Turvo, in A Sul de Nenhum Norte

mulher: que não outra mulher

Há uma mulher dentro de mim que não é gramática decomposta nem acento circunflexo. Não é metáfora exagerada, nem vegetação espessa no limite da vírgula. Não é anáfora suada, nem rigor maiúsculo no recuo do parágrafo. Há uma mulher dentro de mim que não é periferia nem superfície transversal. Essa mulher que não outra mulher, esmaga-me as telhas no tecto da boca. Tenho-a calada e encavalitada debaixo das palavras mais fáceis de carcomer. Tenho-a cansada e regrada por cima das feridas menos custosas de sarar. Mas essa mulher que dentro de mim não me permite outra habitação que não esta, não me serena a vontade áspera de romper a madeira dos braços, de moer do úmero a lasca e da acha articular outro galho maior. Há uma mulher dentro de mim que não me reconhece como sua. Há uma mulher dentro de mim que míngua encolhida no cavo do medo. Há uma mulher dentro de mim que ama uma mulher insuficiente de si mesma.


Alice Turvo, in A Sul de Nenhum Norte

a linha do universo

Tudo cai, em constante proporção directa
à neve que se acumula no fundo;
Os Oceanos transbordaram, claros
Farinha para bolos e Tortas
De mel; As minhas abelhas
Vestem o pijama e dizem
Boa Noite - Até amanhã
Tenho medo porque o tempo existe;
Ás vezes por ser inventado, outras
Porque tudo cai - Até a Chuva
E palavras num poema
Cantado pela manhã turbulenta

Estou com dificuldades a acordar
Mas não receio a cidade a ruir,
Vamos brincar para os escombros.
Por baixo das pedras vive
Uma mulher que pintou a vagina de negro:
Está de luto pela Globalização
- Já ninguém deseja comer mais
Deste Pão, que Ronald Mcdonald
Distribui pelos fieis.

Tudo cai, amor,
Vamos cair também - De cabeça
Acordaremos assentes no fim do Universo.


Lígia Reyes, in A Sul de Nenhum Norte

real love

Meu amor madre-pérola,
Olha-nos, a desfazermos
Em ponto caramelo o corpo
Em nostalgia e folhas de Outono -
Rash-Rash - Como queimávamos os pés
Nesses passeios ínfimos
Pelas avenidas de uma cidade
Que chora um Rio: Descosíamos
Os botões, alinhavados às palavras
Da poesia e construíamos pontes.
Vamos remar a favor do mármore,
Não tenhas medo: Mil suicídios
Aconteceram quando eu parti,
E agora sobram cartas para lermos
Até ao fim da vida. Juntos
Venceremos o flogisto, acolheremos
Patriamente a vitória da cinzas,
Manjaremos tenras asas de fénix
Até nos esgotarmos num jardim belo
E uma chávena de chá ao fim da tarde.


Lígia Reyes, in A Sul de Nenhum Norte

se eu fosse um vídeo




my what big eyes you have / my what big hands you have / my what hot breath you have / my what sharp teeth you have 

a minha saia

A minha saia é debruada de
dentes brancos
— saia rodada com pregas
e esconderijos que se abrem
sobre os precipícios da infância

É uma saia alta como janelas
remendada pelas mãos cuidadosas dos amantes

Debaixo da minha saia há
uma caixa com botões e olhos
que encontrei no leito seco dos caminhos
há um girassol que me aquece
o farelo e o sal dos ossos
há uma colmeia e o crescente negro
da sombra a roçar os joelhos

Há o riso dos velhos

Som de cordas, velas de moinho,
fábulas e exércitos balançam
dentro da minha saia
quando danço

Debaixo da minha saia há também casas
onde recolho o vento, e delas se avista
o pescoço curvo de dois bois mansos
alisando o pasto

Rodo o corpo e a minha saia aponta para o sul
baixo-a para desenhar círculos na poeira
ergo-a para atravessar o rio
na hora em que
a maré sobe
sobe
sobe
sobe


Ana Duarte

the wolves

The wolves had tended her because they knew she was an imperfect wolf; we secluded her in animal privacy out of fear of her imperfection because it showed us what we might have been.


Angela Carter, Wolf-Alice

grief


Grief, Erwin Olaf, 2007

indecifrável - 1

Nem tudo foi dito, mas basta,
não são precisas mais palavras.
No silêncio cai sobre nós a
realidade, com todo o seu peso,
o seu mistério; e não o queremos
decifrar, com palavras sobretudo
não o queremos explicar. O que
não foi dito pertence-nos como
o destino inconfessável, como os
ossos dos joelhos, as dores de
cabeça ao fim da tarde quando
sopra o vento rude que vem do
deserto. Todos os destinos são
exemplares e é impossível
amarrá-los. As palavras nascem
do medo ou do tédio, talvez
do horror ao vazio. À toa
queremos entrar no edifício do
sentido, a casa estranha. E
entramos. Mas todos os destinos
são apenas uma versão caseira
da insensatez da existência.
Calar-se não é morrer. Na
sepultura do silêncio esconde-se,
discreta, a dignidade.


João Camilo, in A Sul de Nenhum Norte

boring

a inclinação para o amor. nas mulheres
a inteligência, evidentemente.
a linguagem não permite verbalizar tudo.
a mim só a cumplicidade me afecta. a
paixão que sentem por nós. mais uma.
aborreço-me, já disse. acaba tudo no lixo,
não é verdade? acumulou-se o tédio e a
pressão. alguma coisa se perdeu no minucioso
processo. alguns filmes tiveram uma profunda
intenção amorosa. não foi enquanto a idolatrava,
juro. batem tão perto um do outro os corações.
dói-me a cabeça. cansa-me ter de telefonar.
como ser assimilado pela linguagem? como
viver sem a literatura? é criminoso. odeio
ter copos e pratos. há cura para os males
que nos afligem? palavreado. em silêncio, sim,
em silêncio. detesto fazer as malas, arrumar livros.
dissimulada, santa, escorraçada. não quero
mudar de casa, já disse. onde fica à espera
de sair o que não encontrou uma porta ou uma
janela? o tédio do passado. lê-se nos olhos das
pessoas. memórias que não me interessam. e no
sofá de coiro preto, lembras-te? é uma questão,
no entanto, de nos sentirmos mais ou menos
antecipadamente abandonados. entre nós
e quem nos ama não há nada a escolher. fica-se
só por acaso. estou farto. não se pode arriscar.
eu sempre escolhi a mulher que devia. forçosamente,
alguma coisa se deteriorou. garfos e facas. oiço
música se me apetecer. gosto de alguma pintura.
gosto de trabalhar. há uma semana que estou
constipado. ilusões, só ilusões. já não sei se
dependo do que me impede de pensar. a percepção
tem influência em mim. amam-nos, não nos veneram.
nunca a desprezei. desse modo, quero dizer.
dependo do futuro? das montanhas e dos rios?
não há solução. não tenho força para me abandonar.
ninguém ama ninguém. ninguém. o amor é invisível.
o facto de vir a expirar o indizível, transforma-o? o
peso da censura. o que é que me fascina mais? o
telefone, ah o telefone, incessantemente. onde
estaríamos neste momento se? os corações a
amputar com uma faca. para cortarem a água, a
luz, o gás, sim, é isso. e para quê tanta canseira?
para quê ter mesas, cadeiras, camas? para onde
vai o remorso? pode dizer-se que temos saudades
do futuro? pode quando muito adivinhar-se,
pressentir-se, inventar-se. podia estar-me nas
tintas para tudo o que me vai acontecendo. porque
é que me incomodo a incomodar-me com tantas
perguntas? porque é que não paro de fumar?
porque estou sentado diante do computador a
escrever há horas? porque não temos saudades
do futuro? preciso de sair de casa. quando me
lembro disso. há alguma coisa lá fora que se
possa presenciar? estamos sós. reconstruction.
reconstruir sem parar. os buracos negros da
culpa. recordo algumas pessoas que foram
simpáticas comigo. no rosto pode sofrer-se
tudo isso. e nota-se. talvez. não a adorei sempre.
se eu não estivesse tão constipado. se eu não
fosse tímido, algumas hipóteses transformavam-se
em sucesso ou em fracasso. se eu soubesse, ah
se fosse possível. sei que sou amado. sem
terem, que eu saiba, razão particular para me
odiarem. ser feliz é ter falhado na vida, eu sei.
seria despropositado perceber o que se passa.
sim, sei e não sei tudo isso. só ela me conheceu,
penso eu de vez em quando. só me deixaram o
tédio como solução. a indiferença é enorme,
já se sabe. o que não se pode dizer. tantas
caixas de cartão para encher. tenho uma
pontaria afinada para escolher a mulher
que um dia deixará de me amar. todos os dias
penso no assunto. não é por falta de competência.
um amor inconfessável. e que nós temos de ignorar.
um dia. mas não me leva a desistir. uma catástrofe
abateu-se sobre a minha vida. veementemente,
ignorante ainda, espero pelo único acontecimento: o
amor. uma vez mais, a milésima. maldita gripe que. vou
cansar-me a pôr em ordem o que está desarrumado. whisky
em garrafas meias ou quase cheias. indícios e tanto pó.


João Camilo, in A Sul de Nenhum Norte

café mojo

Falar de cães ou da tarde de sol,
o tédio. Aonde ir morrer? Onde
esconder o cadáver da rapariga
de rosto impassível, tão branco
sempre, pureza, restos de pecados?
Confessa-te, ó mortal idílio da
juventude, ó. Não. Sonhos de
glória. Aplausos. Parvos. Se.
Bullshit. You motherfucker. Petit
con. Fantasma. Tanta dedicação.
Leave me alone. E a ópera, as
árias. Insistentes. Tu lembras-te?
De mim? E daquele pedaço de
paisagem com arbustos, ao sol?
Travagem brusca. Sem emoção.
Uma adolescente curiosa. Hey.
Blow job? Às oito. Nas escadas.
Traz o manual de filosofia. Sim?
Paixões. Úteis. Cem dólares. Uma
noite de hotel. Tinhas música e
havia champanhe. E os caracóis?
Do púbis nojento.You bastards
you are destroying the planet.
Lágrimas, crocodilos, a rata,
a serpente do paraíso. Corria
o rio nas minhas veias inchadas.
O herói do filme, o foragido do
crucifixo perseguia. Quem? E
tu silencioso. Morto. Imbecil.
O destino, rodas de borracha
silenciosas nos corredores do
hospital. As minhas pobres
entranhas. Deixaste-me lá, foste
à tua vida. Tão longe já. Veloz.
E a bruma, o deserto, o quadro
do pintor desconhecido. Azul
e vermelho. Primária, pecadora.
O único livro que eu podia ler.
E tu, tu queimaste-me no fogo
do meu delírio ardente. Eu deixei.
O amor, o amor, foda-se. Sorri
para a máquina fotográfica, anjo.
Nesse colchão de penas tão
usado, encardido. Nunca saí
de onde estou. Tu não virás e
eu. Quero lá saber. Fuck. Eu
não, eu juro. Eu em Espanha.
Inalterável sempre por dentro.
Perseguir o destino. De costas
viradas para o Inverno. A única
maçã verde. Morder nela. A minha
fome, a sede. Laranja caída da
árvore. Podridão. Fedor. Tentei,
não consegui. Bolor. Não a pude
abrir, onde estava a chave? Dá-
-me a tua mão fria. Os teus dedos
inesquecíveis. Intactos ainda.
Cidades tão desertas, túmulos
de paixões por terminar. Acabar
comigo e com os ideais de uma
existência luxuosa à beira-mar.
Infanticídios. Sangue inocente.
And you don't even remember
what happened. Poor you. You.
Tontinha das borbulhas. Do ódio,
sim, da incompreensão. Nada sei.
Nada direi. Nada confessaremos.
Luzes nas esquinas, reflexos,
nevoeiro, calçadas húmidas.
Gritos. Silêncio negro. Poço
sem fundo do aguilhão da dor.
Promessas. Masturba-te, é o que.
Incitam-te. Convidam. Abanava ao
vento. Naquela romaria de aldeia
cantavam, dançavam. As sombras.
E tu onde estavas, esquecida de mim,
a delirar de novo? Tu sabes que sem
mim. Não, não consegues. Tenta.
A amante infiel em casa bordava.
Tonta. Clara linda como o sol. Ó
mãe, infância incompreendida.
Na sombra, cantavas. Dócil. Sem
saberes a importância, o alcance.
Um dia. Mas não. Basta-te a ti
mesmo. Não contes. Ninguém.
As cores, ar, sussurros, beira-mar.
A medida, o metro, a regra, a lei.
O rosto rubro do terror. Sujo. E.
Algazarra popular. Embarcaste,
depois arrependeste-te. Rio acima,
rio abaixo. Ventre pútrido, infamado.
Inflamações. As bocas sorriam. Vi os
dentes brancos. De joelhos nus, tu ias.
Eu excitava-me com as minhas pernas
arrumadas no caixão, dentro das calças
para sempre mal vincadas. E tu nunca,
tu nunca confessarias que me tinhas
conhecido, traído. Tiveste vergonha
das minhas mãos, tu, pútrida donzela.
Do meu rosto. Do meu corpo. Tu. A que.
Meditaste? Ranho verde. Vendida. E eu.
Olhava. Chuva. O oceano, ondas
murmurando ao longe, nas estrelas.
Ou nas estradas. Ou nos comboios da
ordem falsamente restabelecida. Tudo é
ensaio, simulação, divulgação do erro.
And here we go again. Passar-te, ó puta,
a ferro. Embalsamar-te, que te amassem
no futuro, pernas bem abertas no colchão,
todas as. Todas as. Pagarias assim. Mas não.
Vidros partidos. Marcas? Que resíduos dos
meus dedos na tua pele se infectaram?
Tantos rostos. Se elas. Se eu. Sorri. Se
tu. Don’t flatter me, please. Your legs,
your beautiful legs esmigalhando-se
again contra o lençol das cortinas que
para atenuar a mancha nós. Oh. Sem
remorso. Sem. Sem recordação. Que
fizeste? Vem comigo. Estás talvez não
sei se perdoada por engano. Imagino.
Anda. Mexe-te. Abana-te. As pérolas
dos colares na varanda de madeira
do teu pescoço. Eu: não sei cantar.
Não sei ouvir. E o dia esplendoroso
ria-se da minha pena, da ausência
intrigante dos meus pensamentos.
Se não me odiassem. Se tu. Ninguém
regressa, nunca. O cão entre as mesas
do café abanava o rabo. Ser sem alma.
Amamos nas auto-estradas, assassinamos
a todas as horas de expediente normal.
A oposição nunca cairá. Infortúnios.
O alcance dos sonhos. Salva-me. E o
cão. Minúsculo, ridículo. Ela dava-lhe
beijinhos no focinho, chamava-lhe filho.
E eu tão só, nós tão sós. Milagres da
natureza morta. Uma história que se
possa resumir, recontar, recolher ou
queimar na vela do barco que pelas
ilhas ia ao sabor do vento. Correntes
de prata ligavam-nos ao fundo do mar.
Acenar. Olá. E a perdição e as vogais
poluídas pela tua garganta de cadela.
Não, eu não tenho pecados a confessar.
Não, nem remorsos, nem projécteis, nem
vapores de água arrefecidos na bruma
secreta das noites de vício, irrecuperáveis.
Quero emendá-las. Quero renegá-las. Eu
sei lá. O que quero. O que sinto. A dor.


João Camilo, in A Sul de Nenhum Norte

No entanto hei-de falar-vos delas um dia, se me lembrar, se puder, das minhas estranhas dores, em pormenor, distinguindo entre os diferentes géneros, para maior clareza, as do entendimento, as do coração ou afectivas, as da alma (mais bonitas não há) e finalmente as do corpo propriamente dito, primeiro as internas ou latentes, depois as da superfície, começando pelo cabelo e couro cabeludo e descendo metodicamente, sem pressas, até aos adorados pés, lugar dos calos, cãibras, frieiras, joanetes, unhas encravadas, pústulas, gangrena, pé boto, pé de pato, pé-de-galo, pé-de-cabra, pé chato, pé de atleta e outras bizarrias. E, aos que tiverem a gentileza de me ouvir, falarei também, na mesma ocasião, de acordo com um sistema inventado já não me lembro por quem, daqueles instantes em que, sem se estar drogado, nem bêbado, nem em êxtase, não se sente nada.

Samuel Beckett

this is the part of the story i'd rather not tell

how at 13 I would lay awake at night deciding
which friend or family member would have to die
so that I might be aggrieved enough to be interesting,
so that I would have the permission to become more
withdrawn and mysterious and thus, more attractive.
I’d lay awake at night, plotting who it should be, how
it should go for the maximum impact. It would have
to be something epic so that I could become a rag doll
in his arms, bury my sweet face in the meaty expanse
of his 13-year-old chest and breathe deep the scent of his
Old Spice for my consolation. My malaise would surely
cause me to lose my appetite, and thus the tragic death
of my loved one would conveniently double as a diet plan.
In the version of the story where a masked gunman
breaks into our school and holds us all hostage, I am
always able to tackle him after he gets off a few
shots. One of them hits me non-fatally in the shoulder
and my current infatuation takes off his shirt to help
staunch the bleeding. I’m not sure how the story proceeds
from there because at this point in my dream I always
began to masturbate. I had determined that certain aunts
and cousins were important, but ultimately non-essential
enough to my daily life to be suitable options. Certain friends
had also been earmarked as acceptable, and I would update
my list with god each evening, playing through the
circumstances of their death and grieving each one with
actual tears so god might see what good choices I had made.
I didn’t want him to think I had cheaped out and picked a
distant relative or a secret enemy to exchange for my love’s
fulfillment. What kind of love would that be, anyway?

When it finally happened, there was no one but the floor
to fall into. Nothing but the gasping choke for my consolation.
I wouldn’t let anyone touch me. The sacrificial loved one?
My best friend with the crooked smile and first kiss around
the corner, her mother who kissed my head like a daughter,
her father who would fetch me midnight bowls of cereal,
her sister, getting ready to start college. The epic disaster?
An exploding plane.
To whom much is given, much is expected.
I no longer speak to god.
I love like I’d kill for it.


Emily Kagan Trenchard

é domingo hoje

mas nós não saímos

é o único dia
que não repetimos

e que dura menos

mas põe o teu rouge
que eu mudo a camisa
não como quem
de ilusão
precisa

tomaremos chá
leremos um pouco

e iremos à varanda
absortos


António Reis

o truman capote ensina:

You musn't give your heart to a wild thing. The more you do, the stronger they get, until they're strong enough to run into the woods or fly into a tree. And then to a higher tree and then to the sky.


Breakfast at Tiffany's

Não quero o vosso céu, companheiros,

as falsas promessas, os amigos fingidos,
as ruas cheias de beijos,
as mentiras de espelhos fugidios.
Quero rasgar o último selo,
a lua que não dá luz,
a noite em que não brilha nada.


Eeva-Liisa Manner

se eu fosse um vídeo

Tu queres sono: despe-te dos ruídos, e

os restos do dia, tira da tua boca
o punhal e o trânsito, sombras de
teus gritos, e roupas, choros, cordas e
também as faces que assomam sobre a
tua sonora forma de dar, e os outros corpos
que se deitam e se pisam, e as moscas
que sobrevoam o cadáver do teu pai, e a dor (não ouças)
que se prepara para carpir tua vigília, e os cantos que
esqueceram teus braços e tantos movimentos
que perdem teus silêncios, o os ventos altos
que não dormem, que te olham da janela
e em tua porta penetram como loucos
pois nada te abandona nem tu ao sono.


Ana Cristina César

If you like my poems let them

walk in the evening, a little behind you

Then people will say
"Along this road i saw a princess pass
on her way to meet her lover(it was
toward nightfall)with tall and ignorant servants."


E. E. Cummings

tropeço de ternura

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti


Alexandre O'Neill

ghosts for breakfast


Ghosts Before Breakfast, Hans Richter, 1927

só o verde fala neste tempo de silêncio

somos gastos pelos ruídos do lado de fora das árvores
espera, pensei em folhas e a primavera explodiu-me na boca


Maria Sousa

os teus seios

Sei os teus seios.
Sei-os de cor.

Para a frente, para cima,
Despontam, alegres, os teus seios.

Vitoriosos já,
Mas não ainda triunfais.

Quem comparou os seios que são teus
(Banal imagem) a colinas!

Com donaire avançam os teus seios,
Ó minha embarcação!

Porque não há
Padarias que em vez de pão nos deem seios
Logo pela manhã?

Quantas vezes
Interrogastes, ao espelho, os seios?

Tão tolos os teus seios! Toda a noite
Com inveja um do outro, toda a santa
Noite!

Quantos seios ficaram por amar?

Seios pasmados, seios lorpas, seios
Como barrigas de glutões!

Seios decrépitos e no entanto belos
Como o que já viveu e fez viver!

Seios inacessíveis e tão altos
Como um orgulho que há-de rebentar
Em deseperadas, quarentonas lágrimas...

Seios fortes como os da Liberdade
-Delacroix-guiando o Povo.

Seios que vão à escola pra de lá saírem
Direitinhos pra casa...

Seios que deram o bom leite da vida
A vorazes filhos alheios!

Diz-se rijo dum seio que, vencido,
Acaba por vencer...

O amor excessivo dum poeta:
"E hei-de mandar fazer um almanaque
da pele encadernado do teu seio"

Retirar-me para uns seios que me esperam
Há tantos anos, fielmente, na província!

Arrulho de pequenos seios
No peitoril de uma janela
Aberta sobre a vida.

Botas, botirrafas
Pisando tudo, até os seios
Em que o amor se exalta e robustece!

Seios adivinhados, entrevistos,
Jamais possuídos, sempre desejados!

"Oculta, pois, oculta esses objectos
Altares onde fazem sacrifícios
Quantos os vêem com olhos indiscretos"

Raimundo Lúlio, a mulher casada
Que cortejastes, que perseguistes
Até entrares, a cavalo, pela igreja
Onde fora rezar,
Mudou-te a vida quando te mostrou
("É isto que amas?")
De repente a podridão do seio.

Mulheres dos limões a oferecerem
Fruta mais atrevida: inesperados seios...

Uma roda de velhos seios despeitados,
Rabujando,
A pretexto de chá...

Engolfo-me num seio até perder
Memória de quem sou...

Quantos seios devorou a guerra, quantos,
Depressa ou devagar, roubou à vida,
À alegria, ao amor e às gulosas
Bocas dos miúdos!

Pouso a cabeça no teu seio
E nenhum desejo me estremece a carne.

Vejo os teus seios, absortos
Sobre um pequeno ser.


Alexandre O'Neill

fragile love

Love is fragile - she was thinking - but perhaps the pieces are saved, the things that hovered on lips, that might have been said. The new love words, the tendernesses learned, are treasured up for the next lover.


F. Scott Fitzgerald, May Day

maria and her week of wonders

© Myrto Papadopoulos

a gaiola

Agora que regressei
a este quarto para ficar,
não me contes que a vida
continua lá fora,
não me tragas
a luz de outros voos.

Basta-me a sombra dos ramos
fingindo árvores nas cortinas;
tal como a ti
a águia libertada à porta
da mais indolente taberna ou
os cães recusando-se a morrer
de traição - todos esses perdões
em papel que vais guardando.

Ao centro do jardim (lembras-te?)
havia um poço
onde deitavam as laranjas
caídas ao chão
para se desfazerem
num silêncio mais doce.

Deixa-me ser também
apenas o caroço deste mundo,
que apodrece à nossa volta
e na minha carne.


Inês Dias, UM RAIO ARDENTE E PAREDES FRIAS

as minhas três irmãs

As minhas três irmãs estão sentadas
rochas de obsidiana preta.
Pela primeira vez, a esta luz, consigo ver quem são.

A minha primeira irmã está a coser o fato para a procissão.
Vai vestida de Senhora Transparente
e todos os seus nervos estarão à vista.

A minha segunda irmã também está a coser
sobre a ferida do peito, que nunca cicatrizou completamente.
Espera, enfim, aliviar este aperto no coração.

A minha terceira irmã está a contemplar

uma crosta vermelho-escura que a ocidente se estende ao longe sobre o mar.

Tem as meias rotas mas é formosa.


Adrienne Rich

a ciência de quase nada

O vício turvo de ter um coração
por tal se perde: a alma usada,
a língua astuta e a ciência de quase nada.


José Alberto Oliveira

abre a janela e sopra

do parapeito o sangue para entrar
a luz


José Ricardo Nunes

> nostalgia

Provavelmente
o que tinha a oferecer-lhe
era apenas a nostalgia.


João Camilo

heart shaped bruise

© Nan Goldin

unwritten poems

Somewhere unwritten poems wait,
like lonely lakes not seen by anyone.


Anna Kamienska in her notebook, 1968

Why did the chicken cross the road?

Plato: For the greater good.

Karl Marx: It was a historical inevitability.

Machiavelli: So that its subjects will view it with admiration, as a chicken which has the daring and courage to boldly cross the road, but also with fear, for whom among them has the strength to contend with such a paragon of avian virtue? In such a manner is the princely chicken's dominion maintained.

Hippocrates: Because of an excess of light pink gooey stuff in its pancreas.

Jacques Derrida: Any number of contending discourses may be discovered within the act of the chicken crossing the road, and each interpretation is equally valid as the authorial intent can never be discerned, because structuralism is DEAD, DAMMIT, DEAD!

Thomas de Torquemada: Give me ten minutes with the chicken and I'll find out.

Timothy Leary: Because that's the only kind of trip the Establishment would let it take.

Douglas Adams: Forty-two.

Nietzsche: Because if you gaze too long across the Road, the Road gazes also across you.

Oliver North: National Security was at stake.

B.F. Skinner: Because the external influences which had pervaded its sensorium from birth had caused it to develop in such a fashion that it would tend to cross roads, even while believing these actions to be of its own free will.

Carl Jung: The confluence of events in the cultural gestalt necessitated that individual chickens cross roads at this historical juncture, and therefore synchronicitously brought such occurrences into being.

Jean-Paul Sartre: In order to act in good faith and be true to itself, the chicken found it necessary to cross the road.

Ludwig Wittgenstein: The possibility of "crossing" was encoded into the objects "chicken" and "road", and circumstances came into being which caused the actualization of this potential occurrence.

Albert Einstein: Whether the chicken crossed the road or the road crossed the chicken depends upon your frame of reference.

Aristotle: To actualize its potential.

Buddha: If you ask this question, you deny your own chicken-nature.

Howard Cosell: It may very well have been one of the most astonishing events to grace the annals of history. An historic, unprecedented avian biped with the temerity to attempt such an herculean achievement formerly relegated to homo sapien pedestrians is truly a remarkable occurence.

Salvador Dali: The Fish.

Darwin: It was the logical next step after coming down from the trees.

Emily Dickinson: Because it could not stop for death.

Epicurus: For fun.

Ralph Waldo Emerson: It didn't cross the road; it transcended it.

Johann von Goethe: The eternal hen-principle made it do it.

Ernest Hemingway: To die. In the rain.

Werner Heisenberg: We are not sure which side of the road the chicken was on, but it was moving very fast.

David Hume: Out of custom and habit.

Jack Nicholson: 'Cause it [censored] wanted to. That's the [censored] reason.

Pyrrho the Skeptic: What road?

Ronald Reagan: I forget.

John Sununu: The Air Force was only too happy to provide the transportation, so quite understandably the chicken availed himself of the opportunity.

The Sphinx: You tell me.

Mr. T.: If you saw me coming you'd cross the road too!

Henry David Thoreau: To live deliberately ... and suck all the marrow out of life.

Mark Twain: The news of its crossing has been greatly exaggerated.

Molly Yard: It was a hen!

Zeno of Elea: To prove it could never reach the other side.

Chaucer: So priketh hem nature in hir corages.

Wordsworth: To wander lonely as a cloud.

The Godfather: I didn't want its mother to see it like that.

Keats: Philosophy will clip a chicken's wings.

Blake: To see heaven in a wild fowl.

Othello: Jealousy.

Dr. Johnson: Sir, had you known the Chicken for as long as I have, you would not so readily enquire, but feel rather the Need to resist such a public Display of your own lamentable and incorrigible Ignorance.

Mrs. Thatcher: This chicken's not for turning.

Supreme Soviet: There has never been a chicken in this photograph.

Oscar Wilde: Why, indeed? One's social engagements whilst in town ought never expose one to such barbarous inconvenience - although, perhaps, if one must cross a road, one may do far worse than to cross it as the chicken in question.

Kafka: Hardly the most urgent enquiry to make of a low-grade insurance clerk who woke up that morning as a hen.

Swift: It is, of course, inevitable that such a loathsome, filth-ridden and degraded creature as Man should assume to question the actions of one in all respects his superior.

Macbeth: To have turned back were as tedious as to go o'er.

Whitehead: Clearly, having fallen victim to the fallacy of misplaced concreteness.

Freud: An die andere Seite zu kommen. (Much laughter.)

Hamlet: That is not the question.

Donne: It crosseth for thee.

Pope: It was mimicking my Lord Hervey.

Constable: To get a better view.

Yeats: She was following the Faeries that sang to her to come away with them from the dull, bucolic comfort of the farmyard to the waters and the wild.

Shelley: 'Tis a metaphor for the pursuits of man: though 'twas deemed an extraordinary occurrence at the time, still it brought little to bear on the great scheme of time and history, and was ultimately fruitless and forgotten.

Tolkien: Chickens are respectable folk, and well thought of. They never go on any adventures or do anything unexpected. One fine spring day, as the chicken wandered contentedly around the farmyard, clucking and pecking and enjoying herself immensely, there appeared a Wizard and thirteen Dwarves who were in need of a chicken to share in their adventure. Reluctantly she joined their party, and with them crossed the road into the great Unknown, muttering about how rude the Dwarves were to take her away on such short notice, without even giving her time to brush her feathers or fetch her hat.

loucura medicada

Uma vez fui a um médico.
- Doutor, estou louco. - disse. - Devo estar louco.
- Tem loucos na família? - perguntou o médico. - Alcoólicos, sifilíticos?
- Sim, senhor. O pior. Loucos, alcoólicos, sifilíticos, místicos, prostitutas, homossexuais. estarei louco?
O médico tinha sentido de humor, e receitou-me barbitúricos.


Herberto Hélder, Os Passos em Volta

o tamanho da sua solidão

Vi logo o tamanho da sua solidão: tinha o tamanho do mundo. Ela era a criatura mais só do mundo. E a sua história apareceu - simples, tenebrosa - entre as nossas duas cervejas. Todas as histórias pessoais são simples e tenebrosas. Não me comovi. Comovido já eu estava: com as coisas, comigo, com a chuva sobre a cidade. Talvez houvesse uma irónica alegoria em nós os dois ali sentados diante dos belos copos frios, compreendendo ambos tão facilmente o que nos acontecia e iria acontecer que não tínhamos pressa. Poderíamos morrer ali mesmo. Esperávamos.


Herberto Helder, Os Passos em Volta

acorda-se às quatro da manhã num quarto vazio

Enfim, às vezes já não consigo arrumar tudo isso. Porque, sabe?, acorda-se às quatro da manhã num quarto vazio, acende-se um cigarro... Está a ver? A pequena luz do fósforo levanta de repente a massa das sombras, a camisa caída sobre a cadeira ganha um volume impossível, a nossa vida... compreende?... a nossa vida, a vida inteira, está ali como... como um acontecimento excessivo...


Herberto Hélder, Os Passos em Volta

à noite

À noite tive um sonho incómodo onde se representavam umas escadas de pedra; do cimo delas, eu fazia um sinal imperceptível de despedida a alguém que se afastava em baixo. Atravessei portas que se abriam e fechavam à minha passagem sem eu lhes tocar. Depois senti-me cair de um telhado que lentamente se inclinava e por onde eu ia rolando. Havia um pântano no fundo, e mergulhei nele. Durante o sono, a mão direita agarrava um punhado de brasas. Acordei bruscamente e acendi a luz. A mancha alargara; uma outra, ainda mais intensa, enchia-me a palma da mão.


Herberto Hélder, Os Passos em Volta

um amor ímpar

Como eu gostei de ti, claro
gostaram de ti outros. E outros tantos
no futuro gostarão de ti assim.
Como não amar com idêntico rancor
a tua voz desfeita, avançada a noite,
a tua furiosa adição à tristeza,
o teu velho amor aos velhos chapéus?
Seria insensato não te amar,
e a nossa insensatez, que é bem famosa,
nada tem a ver com este assunto.
O que me tira o sono nesta altura
- especialmente quando penso
que serias incapaz de algo tão nobre -
é que o amor se esqueça de me matar,
pois se reparo que não serei eterno,
nada mais elegante me ocorre,
nenhum veneno tão afortunado,
para dar um final a esta comédia.
Do mesmo modo queria que o amor
- e não digo o meu amor, pois é sabido
que já não é o que era noutros tempos -
ulcerasse a tua alma até a arruinar toda.
De certeza que te agradaria
exibir este final, que agora te ofereço,
como mais um dos teus velhos chapéus.
Desconfia deste galardão:
estamos concebidos teimosamente,
és invulnerável a algo tão puro.
Quando muito retomarás o teu voo
até ao selvagem rebordo de um copo
e eu não alcanço sempre essas alturas.
O amor é ímpar, e tu e eu exactos.
Como eu gostei de ti, estás a ver,
gostaram de ti outros. Mas duvido
que alguém fosse tão parecido contigo:
inconstante e falaz, e desejoso
de ser ímpar. Talvez como o amor.


Carlos Marzal

women who lie alone at midnight

spurting unjutified tears,
the kind that run sideways
never reaching the mouth,
the kind you cannot swallow


Mary Ruefle

I wasn't going to shoot

The Strange Love of Martha Ivers, Lewis Milestone, 1946


 I wasn't going to wait and see.

procura-se companheira/o

para relacionamento poético sério.
apenas se exige que saiba dizer que o surrealismo
é coisa para ter morrido no século xx.


David Teles Pereira

sunday afternoon

© Lise Sarfati, Christine

bicharoco

E o sol de julho talvez nada te diga, mas a mim anda-me a arranhar as feridas, anda-me a moer as comichões, anda-me a foder as olheiras, anda-me a tentar poupar-te, a ver se te curas, a ver se te levantas, a ver se vais ali à cozinha fazer-me um chá, mesmo que não tenha folhas, desde que te esqueças de ter dor

E eu
já não estou só bicharoco
eu lembrei-me da música e sacudi três notas
por ti
viste, bicharoco, era tão simples
andamos para aqui


Manuel Cintra

essa doente sensação

Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão, puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação.


Nuno Júdice

existe um momento

pouco importa qual
em que se reúnem ao acaso
diante de nós
todas as condições de uma vida
desesperada


José Tolentino Mendonça

ninguém lhe diz

Tirava os quadros da parede. Voltava a pendura-los. Olhava. Mas quem lhe diz que visse. Repetia a mesma faixa do disco. Escutava. Mas quem lhe diz que ouvisse. Queria chegar a uma conclusão, isto podemos afirmar sem dúvida. Mas quem lhe diz que houvese. E quem lhe diz que fizesse diferença haver ou não haver. E quem lhe diz que todo o caminho não fosse exactamente não chegar. Ninguém lhe diz. De facto, ninguém lhe diz.


Jorge Roque

se eu fosse um vídeo

poemário daqui

A. M. Pires Cabral Abel Neves Adília Lopes Adolfo Casais Monteiro Agustina Bessa-Luís Al Berto Albano Martins Alberto Pimenta Alexandra Malheiro Alexandre Nave Alexandre O'Neill Alice Turvo Alice Vieira Almada Negreiros Américo António Lindeza Diogo Ana Bessa Carvalho Ana C. Ana Caeiro Ana Cristina César Ana Duarte Ana Hatherly Ana Luísa Amaral Ana Marques Gastão Ana Martins Marques Ana Paula Inácio Ana Salomé Ana Tecedeiro Ana Teresa Pereira Ana Tinoco André Tomé Andreia C. Faria Angélica Freitas Ângelo de Lima Aníbal Fernandes António Amaral Tavares António Botto António Dacosta António Franco Alexandre António Gancho António Gedeão António Gregório António José Forte António Manuel Pires Cabral António Maria Lisboa António Mega Ferreira António Osório António Pedro António Quadros Ferro António Ramos Pereira António Ramos Rosa António Rebordão Navarro António Reis António S. Ribeiro Armando Baptista-Bastos Armando Silva Carvalho Artur do Cruzeiro Seixas Bénédicte Houart Bruno Béu Bruno Sousa Villar Camilo Castelo Branco Camilo Pessanha Carlos Alberto Machado Carlos Bessa Carlos de Oliveira Carlos Eurico da Costa Carlos Mota de Oliveira Carlos Poças Falcão Carlos Soares Casimiro de Brito Catarina Nunes de Almeida Cesário Verde Cláudia R. Sampaio Cruzeiro Seixas Daniel Faria Daniel Filipe David Mourão-Ferreira David Teles Pereira Delfim Lopes Dulce Maria Cardoso Eastwood da Silva Eduarda Chiote Egito Gonçalves Ernesto Sampaio Eugénio de Andrade Eugénio Lisboa Fernando Assis Pacheco Fernando Esteves Pinto Fernando Lemos Fernando Pessoa Fernando Pinto do Amaral Fiama Hasse Pais Brandão Filipa Leal Filipe Homem Fonseca Florbela Espanca Frederico Pedreira gil t. sousa Golgona Anghel Gonçalo M. Tavares Helder Moura Pereira Helena Carvalho Helga Moreira Hélia Correia Henrique Manuel Bento Fialho Henrique Risques Pereira Herberto Hélder Inês Dias Inês Fonseca Santos Inês Lourenço Isabel Meyrelles Joana Morais Varela Joana Serrado João Almeida João Bénard da Costa João Cabral de Melo Neto João Camilo João Damasceno João Ferreira Oliveira João Habitualmente João Luís Barreto Guimarães João Maia João Manuel Ribeiro João Miguel Henriques João Pacheco João Pereira Coutinho João Rodrigues João Vasco Coelho Joaquim Manuel Magalhães Joaquim Pessoa Jorge Carrera Andrade Jorge de Sena Jorge Gomes Miranda Jorge Melícias Jorge Roque Jorge Sousa Braga José Agostinho Baptista José Alberto Oliveira José Amaro Dionísio José António Franco José Cardoso Pires José Carlos Barros José Carlos Soares José Efe José Gomes Ferreira José Manuel de Vasconcelos José Mário Silva José Miguel Silva José Pascoal José Ricardo Nunes José Rui Teixeira José Saramago José Sebag José Tolentino Mendonça Judith Teixeira Leitão de Barros Leonor Castro Nunes Luís Miguel Nava Luís Quintais Luiza Neto Jorge Madalena de Castro Campos Mafalda Gomes Manuel A. Domingos Manuel António Pina Manuel Cintra Manuel da Silva Ramos Manuel de Castro Manuel de Freitas Manuel Fúria Manuel Gusmão Marcelino Vespeira Margarida Vale de Gato Maria Ângela Alvim Maria Azenha Maria do Rosário Pedreira Maria Gabriela Llansol Maria João Lopes Fernandes Maria Judite de Carvalho Maria Keil Maria Mergulhão Maria Sousa Maria Teresa Horta Maria Velho da Costa Mário Cesariny Mário Contumélias Mário de Sá-Carneiro Mário Dionísio Mário Quintana Mário Rui de Oliveira Mário-Henrique Leiria Marta Chaves Matilde Campilho Mendes de Carvalho Miguel Cardoso Miguel Martins Miguel Sousa Tavares Miguel Torga Miguel-Manso Nuno Araújo Nuno Bragança Nuno Júdice Nuno Moura Nuno Ramos Nuno Travanca Patrícia Baltazar Paulo José Miranda Pedro Jordão Pedro Loureiro Pedro Mexia Pedro Oom Pedro Santo Tirso Pedro Sena-Lino Pedro Tamen Pedro Tiago Piedade Araujo Sol Raquel Nobre Guerra Raquel Serejo Martins Raul de Carvalho Raul Malaquias Marques Regina Guimarães Reinaldo Ferreira Renata Correia Botelho Ricardo Adolfo Rosa Alice Branco Rosa Maria Martelo Rui Almeida Rui Baião Rui Caeiro Rui Cóias Rui Costa Rui Knopfli Rui Lage Rui Manuel Amaral Rui Nunes Rui Pedro Gonçalves Rui Pires Cabral Rute Mota Ruy Belo Ruy Cinatti Ruy Ventura Samuel Úria Sandra Andrade Sandra Costa Sebastião Alba Sílvio Mendes Soares de Passos Sofia Crespo Sofia Leal Sophia de Mello Breyner Andresen Tatiana Faia Teixeira de Pascoaes Teresa Balté Teresa M. G. Jardim Tiago Araújo Tiago Gomes valter hugo mãe Vasco Gato Vasco Graça Moura Vítor Nogueira Yvette K. Centeno

poemário dali

A. E. Housman Abbas Kiarostami Abel Feu Adelaide Ivánova Adélia Prado Adrienne Rich Agota Kristof Al Purdy Alberto Tugues Alda Merini Aldous Huxley Alejandra Pizarnik Alejandro Jodorowsky Alexander Demidov Alfredo Veiravé Alice Walker Allen Ginsberg Amalia Bautista Amiri Baraka Amy Lowell Amy M. Homes Ana Merino André Breton Andrés Trapiello Angela Carter Anis Mojgani Anna Akhmatova Anna Kamienska Anne Carson Anne Perrier Anne Sexton Antonia Pozzi Antonin Artaud Antonio Gamoneda Antonio Orihuela Antonio Pérez Morte Antonio Sáez Delgado Arnold Lobel Arseny Tarkovsky Arthur Rimbaud Basilio Sánchez Benjamín Prado Bernard-Marie Koltès Billy Collins Boris Vian Brett Elizabeth Jenkins Brian Andreas Brian Patten Carl Phillips Carl Sandburg Carlos Drummond de Andrade Carlos Edmundo de Ory Carlos Marzal Carmen Gloria Berríos Carol Ann Duffy Cecília Meireles Cesare Pavese Charles Baudelaire Charles Bukowski Charles Dana Gibson Charles M. Schulz Chen Bolan Christoph Wilhelm Aigner Clarice Lispector Constantino Cavafy Corey Zeller Countee Cullen Cristopher Painter Cristovam Pavia Czesław Miłosz Damien Sevhac Daniel Clowes Daniel Francoy Daniel Pennac Daphne Gottlieb David Bowie David Lagmanovich David Lehman Delia Brown Delmore Schwarts Derek Walcott Derrick Brown Diamanda Galás Diane Ackerman Djuna Barnes Don Herold Dorianne Laux Dorothea Lasky Dorothy Parker Douglas Huebler Dylan Thomas E. E. Cummings E. Ethelbert Miller E. M. Cioran Edgar Allan Poe Edna O'Brien Eduarda Chiote Eduardo Bechara Eeva-Liisa Manner Egito Gonçalves Eleanor Farjeon Elías Moro Elie Wiesel Elis Regina Elizabeth Bishop Elizabeth Ross Taylor Else Lasker-Schuler Elsie Wood Emily Dickinson Emily Kagan Trenchard Erin Dorsey Eunice de Souza Fabiano Calixto Federico Díaz-Granados Federico García Lorca Félix Grande Fernando Arrabal Fernando Caio de Abreu Fernando Echevarría Fernando Gandra Ferreira Gular Forough Farrokhzad Francisco Madariaga Frank O'Hara Frederico Pedreira G. K. Chesterton Gabriel Celaya Geir Gulliksen Georges Bataille Gerrit Komrij Giánnis Ritsos Giovanny Gómez Glória Gervitz Gottfried Benn Guillaume Apollinaire Günter Kunert Gustavo Adolfo Bécquer Gustavo Ortiz H. P. Lovecraft Hal Sirowitz Hans-Ulrich Treichel Harold Pinter Harvey Shapiro Heiner Müller Heinrich Heine Helen Mort Henri Béhar Henri Michaux Henry Rollins Hermann Hesse Hilda Hilst Hilde Domin Hoa Nguyen Hugh Mackay Hugo von Hofmannsthal Hugo Williams Ingeborg Bachmann Ingmar Heytze Isabel Meyrelles Isabelle McNeill J. M. Fonollosa J. R. R. Tolkien Jack Gilbert Jack Kerouac Jack Winter Jacques Lacan Jacques Prévert James L. White James Rogers James Tate Jane Hirshfield Janet Frame Jean Baudrillard Jean Day Jeanette Winterson Jenny Joseph Jenny Schecter Jesús Llorente Jim Carroll Joan Julier Buck Joan Margarit Jodi Picoult Johann Wolfgang Goethe Johannes Bobrowski John Ashbery John Giorno John Keats John Mateer John Updike Jonathan Littell Jonathan Safran Foer Jonathan Swift Jorge Amado Jorge Luis Borges José Eduardo Agualusa José Gardeazabal José Mateos Joseph Brodsky Joseph Cervavolo József Attila Juan José Millás Juan Ramón Jiménez Judith Herzberg Junko Takahashi Justine Hermitage Katerina Angheláki-Rooke Kathy Acker Kendra Grant Kenneth Patchen Kenneth Traynor Kosntandinos Kavafis Kristina H. Langston Hughes Larissa Szporluk Lauren Mendinueta Laurie Anderson Lawrence Ferlinghetti Lêdo Ivo Leila Miccolis Leonard Cohen Leonardo Chioda Leonardo Da Vinci Leopoldo María Panero Lewis Carroll liam ryan Lígia Reyes Lord Byron Lou Andreas-Salomé Lou Reed Louis Aragon Louis Buisseret Lourdes Espínola Lucía Estrada Luis Alberto de Cuenca Luís Filipe Parrado Luis García Montero Malcolm Lowry Manoel de Barros Manuel Arana Marco Mackaaij Margaret Atwood María Sánchez Marianne Boruch Mariano Peyrou Marin Sorescu Marina Colasanti Martha Carolina Dávila Martin Amis Mary Elizabeth Frye Mary Jo Salter Mary Oliver Mary Ruefle Max Porter Medlar Lucan & Durian Gray Melissa Witcombe Mia Couto Michael Drayton Michel Carpassou Michel Houellebecq Miguel de Cervantes Miriam Reyes Mitch Albom Morgan Parker Muhammad al-Maghut Muriel Rukeyser Natsume Soseki Neil Gaiman Nicanor Parra Nichita Stanescu Nicole Blackman Nina Rizzi Octavio Paz Olga Orozco Omar Khayyam Osho Otávio Campos Pablo Fidalgo Lareo Pablo García Casado Pablo Neruda Pat Boran Patricia Beer Patti Smith Paul Éluard Paul Géraldy Paul Theroux Paulo Leminski Pentti Saaritsa Per Aage Brandt Pere Gimferrer Philip Larkin Philip Roth Philippe Wollney Pia Tafdrup Pier Paolo Pasolini Pierre Reverdy Piotr Sommer Rafael Alberti Rainer Maria Rilke Ramón Gómez de la Serna Raúl Gustavo Aguirre Raymond Carver Raymond Queneau Reinaldo Ferreira Reiner Kunze Richard Brautigan Richard Burton Roald Dahl Robert Creeley Robert Frost Roberto Bolaño Roberto Fernández Retamar Roberto Juarroz Robin Robertson Rod McKuen Roger Wolfe Ron Padgett Rosa Aliaga Ibañez Rosemarie Urquico Rubens Borba de Moraes Rudyard Kipling Russell Edson Ruth Stone Ryan Montanti Saiónji Sanekane Salman Rushdie Salvador Novo Sam Shepard Samuel Beckett Sandro Penna Santiago Nazarian Sei Shonagon Serge Gainsbourg Sharon Olds Shel Silverstein Silvia Chueire Silvia Ugidos Simone de Beauvoir Somerset Maugham Stephen Crane Stephen Wright Steve Mccaffery Stevie Smith Stuart Dischell Sue Goyette Susana Cabuchi Sylvia Plath T. S. Eliot Tai Fu Ku Tanya Davis Tati Bernard Tatianna Rei Moonshadow Tennessee Williams Thom Gunn Tiago Fabris Rendelli Tilly Strauss Tom Baker Tom Waits Toni Montesinos Gilbert Ulla Hahn Valentine de Saint-Point Vicente Aleixandre Victor Heringer Victor Prado Vincenzo Cardarelli Vinicius de Moraes Vladimir Maiakovski Vladimir Nabokov W. H. Auden Walt Whitman Warsan Shire William Blake William Butler Yeats William Carlos Williams William Shakespeare Winnie Meisler Winona Baker Wislawa Szymborska Yehuda Amichai Yohji Yamamoto Yoko Ono Yorgos Seferis Zee Avi

livraria

. A Sul de Nenhum Norte . . Granta . Adolfo Bioy Casares . Al Berto . Alexandre O'Neill . Algernon Blackwood . Ali Smith . Alice Munro . Alice Turvo . Almanaque do Dr. Thackery . Anaïs Nin . Anita Brookner . Ann Beattie . Annemarie Schwarzenbach . Anton Tchekhov . António Ferra . António Lobo Antunes . Arthur Miller . Boris Vian . Bret Easton Ellis . Carlos de Oliveira . Carson McCullers . Charles Bukowski . Chuck Palahniuk . Clarice Lispector . Conde de Lautréamont . Cormac McCarthy . Cristiane Lisbôa . Donald Barthelme . Doris Lessing . Dulce Maria Cardoso . Edith Wharton . Eileen Chang . Elena Ferrante . Enrique Vila-Matas . Erasmo de Roterdão . Ernest Hemingway . Ernesto Sampaio . F. Scott Fitzgerald . Fernando Pessoa . Flannery O'Connor . Florbela Espanca . Françoise Sagan . Franz Kafka . Frida Kahlo . Gabriel García Márquez . Gonçalo M. Tavares . Graça Pina de Morais . Gustave Flaubert . Guy de Maupassant . Harold Pinter . Haruki Murakami . Henri Michaux . Herberto Hélder . Hunter S. Thompson . Irene Lisboa . Irène Némirovsky . Italo Calvino . J. D. Salinger . Jack Kerouac . James Joyce . Jean Cocteau . Jean Genet . Jean Meckert . Jean-Paul Sartre . Jeffrey Eugenides . Jim Cartwright . Joan Didion . John Cheever . José Jorge Letria . José Saramago . Josep Pla . Julian Barnes . Julio Cortázar . Karen Blixen . Kate Chopin . Katherine Mansfield . Kurt Vonnegut . Lázaro Covadlo . Lillian Hellman . Luís de Sttau Monteiro . Luís Miguel Nava . Luiz Pacheco . Lydia Davis . Lygia Fagundes Telles . Malcolm Lowry . Manuel Hermínio Monteiro . Manuel Jorge Marmelo . Marcel Proust . Margaret Atwood . Marguerite Duras . Marguerite Yourcenar . Marina Tsvetáeva . Mário C. Brum . Mário-Henrique Leiria . Mark Lindquist . Marquis de Sade . Max Aub . Miguel Castro Henriques . Miguel Esteves Cardoso . Miguel Martins . Milan Kundera . Natalia Ginzburg . Neil Gaiman . Nick Cave . Norman Rush . Orhan Pamuk . Oscar Wilde . Paul Auster . Paulo Rodrigues Ferreira . Pedro Mexia . Penelope Fitzgerald . Pierre Louÿs . Rainer Maria Rilke . Rainer Werner Fassbinder . Raul Brandão . Ray Bradbury . Rebecca West . Regina Guimarães . Richard Yates . Roland Barthes . Roland Topor . Rolf Dieter Brinkmann . Rui Nunes . S. E. Hinton . Sam Shepard . Samuel Beckett . Sarah Kane . Sebastian Barry . Shirley Jackson . Stig Dagerman . Susan Sontag . Susana Moreira Marques . Sylvia Plath . Tennessee Williams . Teresa Veiga . Tom Baker . Truman Capote . valter hugo mãe . Vasco Gato . Vera Lagoa . Vergílio Ferreira . Virginia Woolf . Vladimir Nabokov . William Faulkner . Woody Allen . Yasunari Kawabata . Yukio Mishima .
page visitor counter

mariaravascosoares@gmail.com
ocinemadaoqueavidatira.tumblr.com