sadness is a blessing / sadness is a pearl / sadness is my boyfriend / oh, sadness I'm your girl
se eu fosse um vídeo
sadness is a blessing / sadness is a pearl / sadness is my boyfriend / oh, sadness I'm your girl
As mãos.
Essa região desconhecida que nos aproxima e afasta ao mesmo tempo.
Perco-me na penumbra do que queria ter gritado e não pude.
O desejo resgata-nos do abismo,
mas também se ergue o que no admite consolo.
Palavras como pássaros na solidão do ar.
Lucía Estrada, in A Sul de Nenhum Norte
Perco-me na penumbra do que queria ter gritado e não pude.
O desejo resgata-nos do abismo,
mas também se ergue o que no admite consolo.
Palavras como pássaros na solidão do ar.
Lucía Estrada, in A Sul de Nenhum Norte
até ao esquecimento
Cansados de inventar palavras
de dar nome ao silêncio
para afugentar tristezas
Cansados de olhar para o céu
rogando que chova
Que a água ou o vento
tragam um gesto que nos devolva a vida
Cansados de pedir aos mortos
que encham as nossas horas
que inundem com as suas vozes o nosso leito obscuro
Cansados por fim de acreditar
em labirintos
Optamos por deixar de interrogar as esquinas
por ignorar promessas
Optamos por fim por essa eternidade
que é o esquecimento.
Martha Carolina Dávila, in A Sul de Nenhum Norte
de dar nome ao silêncio
para afugentar tristezas
Cansados de olhar para o céu
rogando que chova
Que a água ou o vento
tragam um gesto que nos devolva a vida
Cansados de pedir aos mortos
que encham as nossas horas
que inundem com as suas vozes o nosso leito obscuro
Cansados por fim de acreditar
em labirintos
Optamos por deixar de interrogar as esquinas
por ignorar promessas
Optamos por fim por essa eternidade
que é o esquecimento.
Martha Carolina Dávila, in A Sul de Nenhum Norte
SOBRE UM BOSQUE QUE JULGAMOS ARDIDO
É inútil saber quanto teremos de esperar por um amor
quando a casa nos cai em cima
e os que estão vestidos continuam nus
com o riso de uma natureza que bebemos às golfadas.
É este o bosque da memória que julgamos ardido
onde o desejo de encontrar
te traz de volta ao que alguma vez roubaste
nesses sonhos
nesses poemas insuficientes
que não nos acontecerão agora
que nunca hão-de ser.
Giovanny Gómez, in A Sul de Nenhum Norte
quando a casa nos cai em cima
e os que estão vestidos continuam nus
com o riso de uma natureza que bebemos às golfadas.
É este o bosque da memória que julgamos ardido
onde o desejo de encontrar
te traz de volta ao que alguma vez roubaste
nesses sonhos
nesses poemas insuficientes
que não nos acontecerão agora
que nunca hão-de ser.
Giovanny Gómez, in A Sul de Nenhum Norte
ARTE POÉTICA
Não sei em que mentira devo acreditar.
Essa a que chamam palavra.
A palavra é um excesso
e todos param
para olhar essa estranha.
A mim só me doem as pernas,
sou um artista que procura definições
e não aprecio essa festa.
Como pede a morte
como pede o amor
a palavra precisa da sua nudez.
Vivi em tantas palavras sós.
São palavras ou sons, mulher?
Sentir nervos
sempre é um bom sinal.
Dizei aos leitores
que não é um poema suicida,
porque estou só a sair
em busca de uma primeira palavra
que esteja habitada.
Os pássaros viajam em busca do seu alimento
na cinza dos teus olhos.
Como pede a morte
como pede o amor
a palavra precisa da sua nudez.
Ali tenho de amar.
Gustavo Ortiz, in A Sul de Nenhum Norte
Essa a que chamam palavra.
A palavra é um excesso
e todos param
para olhar essa estranha.
A mim só me doem as pernas,
sou um artista que procura definições
e não aprecio essa festa.
Como pede a morte
como pede o amor
a palavra precisa da sua nudez.
Vivi em tantas palavras sós.
São palavras ou sons, mulher?
Sentir nervos
sempre é um bom sinal.
Dizei aos leitores
que não é um poema suicida,
porque estou só a sair
em busca de uma primeira palavra
que esteja habitada.
Os pássaros viajam em busca do seu alimento
na cinza dos teus olhos.
Como pede a morte
como pede o amor
a palavra precisa da sua nudez.
Ali tenho de amar.
Gustavo Ortiz, in A Sul de Nenhum Norte
cinco filmes de sonho
1.
Abelhas mortas- pressionadas como palavras nas páginas de um dicionário- voltam à vida.
2.
Jerusalém, começo do século 20: eu sou eu e também um pequeno vigarista e livreiro com um bico de lápis, seduzindo gerações de mulheres, querendo uma maquina fotográfica para tirar fotografias da vista da minha janela. A livraria é também um café e também o quarto no andar de cima da casa de Memere. Cortinas brancas da infância
3.
Secretárias, malas e estantes empilhadas umas em cima das outras com gavetas que abrem e fecham sozinhas, e pessoas pequeninas a sair e a entrar nelas e uns sobre os outros; uma pilha enorme de mobília a empilhar-se para sempre
4.
A morte disfarçada de um John Travolta envelhecido, em que ninguém repara, a dançar disco numa carruagem do metro. No outro lado do comboio dois homens batem-se em duelo usando peúgas como espadas
5.
Uma sala de aulas no meio dos pinheiros. Eu estou a tentar aprender uma língua nova- palavras novas para quando um melhor amigo te trair acidentalmente, ou para quando tens uma experiência irrepetível que nunca poderás contar a ninguém- mas as letras no quadro são indecifráveis - Y está ao meu lado, deitada sobre a secretária. Quando ela se levanta alguém ocupa a secretária dela, e quando eu me levanto eles ocupam a minha.
Kenneth Traynor, in A Sul de Nenhum Norte
Abelhas mortas- pressionadas como palavras nas páginas de um dicionário- voltam à vida.
2.
Jerusalém, começo do século 20: eu sou eu e também um pequeno vigarista e livreiro com um bico de lápis, seduzindo gerações de mulheres, querendo uma maquina fotográfica para tirar fotografias da vista da minha janela. A livraria é também um café e também o quarto no andar de cima da casa de Memere. Cortinas brancas da infância
3.
Secretárias, malas e estantes empilhadas umas em cima das outras com gavetas que abrem e fecham sozinhas, e pessoas pequeninas a sair e a entrar nelas e uns sobre os outros; uma pilha enorme de mobília a empilhar-se para sempre
4.
A morte disfarçada de um John Travolta envelhecido, em que ninguém repara, a dançar disco numa carruagem do metro. No outro lado do comboio dois homens batem-se em duelo usando peúgas como espadas
5.
Uma sala de aulas no meio dos pinheiros. Eu estou a tentar aprender uma língua nova- palavras novas para quando um melhor amigo te trair acidentalmente, ou para quando tens uma experiência irrepetível que nunca poderás contar a ninguém- mas as letras no quadro são indecifráveis - Y está ao meu lado, deitada sobre a secretária. Quando ela se levanta alguém ocupa a secretária dela, e quando eu me levanto eles ocupam a minha.
Kenneth Traynor, in A Sul de Nenhum Norte
demónio
Se há coisa com que nunca deixará de se surpreender é aquele intangível demónio gerado no ponto em que o involuntário de si se cruza com o acaso do mundo. Confunde-a, ludibria-a e tolda-lhe os movimentos, levando-a por vezes a fazer xeque-mate na sua própria parte do tabuleiro.
É um pequeno demónio perverso, descomprometido, que tanto se alimenta da intencionalidade pungente com que o procura a todo o custo nutrir, como se regala, escondido, com o lodo que ela oculta em si. Por isso, nos momentos em que é experiência no mundo – momentos em que o demónio mostra a sua inteireza – é por vezes traída: ao esperar que o demónio devolva as doces intenções com que o alimentou, ele, na sua dança louca, vomita a lama que secretamente bebeu.
Mas como pode pôr a culpa no demónio se ele nem deve respeito ao acaso do mundo e se dorme e bebe em si?
Helena Carvalho, in A Sul de Nenhum Norte
É um pequeno demónio perverso, descomprometido, que tanto se alimenta da intencionalidade pungente com que o procura a todo o custo nutrir, como se regala, escondido, com o lodo que ela oculta em si. Por isso, nos momentos em que é experiência no mundo – momentos em que o demónio mostra a sua inteireza – é por vezes traída: ao esperar que o demónio devolva as doces intenções com que o alimentou, ele, na sua dança louca, vomita a lama que secretamente bebeu.
Mas como pode pôr a culpa no demónio se ele nem deve respeito ao acaso do mundo e se dorme e bebe em si?
Helena Carvalho, in A Sul de Nenhum Norte
poppies in july
Little poppies, little hell flames,
Do you do no harm?
You flicker. I cannot touch you.
I put my hands among the flames. Nothing burns
And it exhausts me to watch you
Flickering like that, wrinkly and clear red, like the skin of a mouth.
A mouth just bloodied.
Little bloody skirts!
There are fumes I cannot touch.
Where are your opiates, your nauseous capsules?
If I could bleed, or sleep! -
If my mouth could marry a hurt like that!
Or your liquors seep to me, in this glass capsule,
Dulling and stilling.
But colorless. Colorless.
Sylvia Plath
Do you do no harm?
You flicker. I cannot touch you.
I put my hands among the flames. Nothing burns
And it exhausts me to watch you
Flickering like that, wrinkly and clear red, like the skin of a mouth.
A mouth just bloodied.
Little bloody skirts!
There are fumes I cannot touch.
Where are your opiates, your nauseous capsules?
If I could bleed, or sleep! -
If my mouth could marry a hurt like that!
Or your liquors seep to me, in this glass capsule,
Dulling and stilling.
But colorless. Colorless.
Sylvia Plath
as dobras da colcha de seda
Descanso. Ser hóspede, por fim. Não satisfazer sempre os próprios desejos com mísero sustento. Não lançar a mão a tudo com gesto hostil; por uma vez deixar que tudo aconteça e saber: o que acontece é por bem. Também o ânimo precisa de estender-se de vez em quando ao comprido e enrolar-se em si próprio nas dobras de colchas de seda. Não ser sempre soldado.
Rainer Maria Rilke, A balada da vida e da morte do alferes Christoph Rilke
Rainer Maria Rilke, A balada da vida e da morte do alferes Christoph Rilke
dias melhores
A mulher espera as noites e também os dias,
esperta o lume enquanto, esperta a espera.
Há umas quantas coisas que a prendem, coisas
que arrecadou para a vida e já não servem.
Quem serve é ela e serve a Deus desfiando o rosário
pelos que já lá estão.
Por aqui vai-se indo, vai-se levando a vida
para o outro lado enquanto se esperam dias melhores,
dias mecânicos, a labuta dos músculos, a cabeça em paz
e a noite cansada, os pensamentos cansados,
o sofrimento cansado só quer estender o corpo
até de manhã. Quando mal nunca pior,
o café quente, o pão acabado de fazer
como se fosse cedo e as mãos na sua azáfama
pudessem fazer os dias gloriosos as noites luminosas
com que sonhou e já não servem. Agora só a espera
e as coisas que foi arrecadando para a morte.
Rosa Alice Branco
esperta o lume enquanto, esperta a espera.
Há umas quantas coisas que a prendem, coisas
que arrecadou para a vida e já não servem.
Quem serve é ela e serve a Deus desfiando o rosário
pelos que já lá estão.
Por aqui vai-se indo, vai-se levando a vida
para o outro lado enquanto se esperam dias melhores,
dias mecânicos, a labuta dos músculos, a cabeça em paz
e a noite cansada, os pensamentos cansados,
o sofrimento cansado só quer estender o corpo
até de manhã. Quando mal nunca pior,
o café quente, o pão acabado de fazer
como se fosse cedo e as mãos na sua azáfama
pudessem fazer os dias gloriosos as noites luminosas
com que sonhou e já não servem. Agora só a espera
e as coisas que foi arrecadando para a morte.
Rosa Alice Branco
mulher: anatomia
A anatomia da mulher é intercadência ou cissão de árvore. Os seus seios, como dois pomos sazonais inaugurados no hemisfério do dorso, principiam-se com o acúleo do peito lactente no cedro da minha boca. O seio esquerdo tumesce cerúleo de tão azul, o diâmetro recua esfriado na bainha das nervuras. Os seus músculos textualizam-se de forma e som, hirtos, despedaçam a elasticidade cervical dos meus vértices. A pele gradua-se num esmalte vítreo de luz, fixa-se nas cavilhas que lhe prendem a argamassa à semelhança de um rosto. Na mulher, o físico verbaliza-se no desarranjo dos nervos, na mulher, a geometria é descontínua se a matéria se desfaz magra de resina. A anatomia da mulher é perfloração ou fissão de pedra. Os seus seios, como dois seixos salmourados nos ferros do peito, incham-se de sal na sucção dos meus beiços. A anatomia da mulher é aceleração de corpo subida à altura da expectativa mais distante. Mas a sua fisionomia é táctil, não possui matriz ou molde, enxuga-se na terra e só da terra o musgo lhe devolve outro princípio de mulher.
Alice Turvo, in A Sul de Nenhum Norte
Alice Turvo, in A Sul de Nenhum Norte
mulher: osso
A constituição da mulher é desconstrução de corpo, amor dividido em dois terços longos de osso, homem ou mulher intervalado nos tecidos da substância maior. O amor liquefaz-se nas estalactites da sua boca, suspenso no calcário da saliva, interpõe-se entre o eco e a claridade húmida da língua. Os seus maxilares movem-se como guindastes, a seco, mastigam os molares em cacos de tensão. A precisão textual de cada osso é atemporal, macera-se de dentes cerrados. O cálcio arde-lhe de vermelho se o amor se alarga em massa inflamável. À mulher, outra mulher cabe-lhe na ruptura das vértebras, caule que perfura o novelo inferior do pulmão. À mulher, outra mulher cabe-lhe no abcesso do peito, metal alcalino de degustação salina. Ao amor, essa mulher chega-lhe hermética, deposta de tendões que lhe segurem a carne na vertical. À palavra, pouco lhe importa o epicentro da sílaba ou a cerâmica da tónica. Ao amor, nunca lhe satisfaz a fractura do fonema ou a dentição do silêncio. No amor, a mulher vaza inteira se a serradura lhe lacera as dobradiças do corpo. Porque na mulher, o amor não é ruído seco ou opaco, é arritmia surda no ventrículo mais defeso.
Alice Turvo, in A Sul de Nenhum Norte
Alice Turvo, in A Sul de Nenhum Norte
mulher: vagar
O vagar da mulher é dissemelhante do vagar dos homens e das coisas. O vagar da mulher contrai cada pretérito à milésima, ocupando cada milímetro pela sexagésima parte do segundo mais breve. O vagar de qualquer mulher dilata-se em mil partes desiguais a um todo. A mulher não executa a presença desmembrada das coisas, sem antes as invocar como domicílio próprio. A mulher segura de frente os edifícios caiados na tijoleira das costas, suporta as urbes fixas no eixo dos seus pulsos, faísca pelas luminárias ausentes de centelhas já extintas. O vagar da mulher nunca descuida a largura do antecedente, sem antes se esvaziar na obsessão intermitente do perímetro do verbo mais presente. A mulher é, igualmente e inteiramente mais mulher, na suspensão variável dos homens e das coisas. Os seus ângulos flectem-se na equidade ímpar das esperas. As suas mãos inclinam-se no ponto equidistante do vazio. A mulher cumpre o tempo a tempo inteiro, sem suprimir a duração menor da unidade. O vagar de cada mulher é célere e voluntário, e em tudo se apressa à lentidão demorada de um vaso caído.
Alice Turvo, in A Sul de Nenhum Norte
Alice Turvo, in A Sul de Nenhum Norte
mulher: que não outra mulher
Há uma mulher dentro de mim que não é gramática decomposta nem acento circunflexo. Não é metáfora exagerada, nem vegetação espessa no limite da vírgula. Não é anáfora suada, nem rigor maiúsculo no recuo do parágrafo. Há uma mulher dentro de mim que não é periferia nem superfície transversal. Essa mulher que não outra mulher, esmaga-me as telhas no tecto da boca. Tenho-a calada e encavalitada debaixo das palavras mais fáceis de carcomer. Tenho-a cansada e regrada por cima das feridas menos custosas de sarar. Mas essa mulher que dentro de mim não me permite outra habitação que não esta, não me serena a vontade áspera de romper a madeira dos braços, de moer do úmero a lasca e da acha articular outro galho maior. Há uma mulher dentro de mim que não me reconhece como sua. Há uma mulher dentro de mim que míngua encolhida no cavo do medo. Há uma mulher dentro de mim que ama uma mulher insuficiente de si mesma.
Alice Turvo, in A Sul de Nenhum Norte
Alice Turvo, in A Sul de Nenhum Norte
a linha do universo
Tudo cai, em constante proporção directa
à neve que se acumula no fundo;
Os Oceanos transbordaram, claros
Farinha para bolos e Tortas
De mel; As minhas abelhas
Vestem o pijama e dizem
Boa Noite - Até amanhã
Tenho medo porque o tempo existe;
Ás vezes por ser inventado, outras
Porque tudo cai - Até a Chuva
E palavras num poema
Cantado pela manhã turbulenta
Estou com dificuldades a acordar
Mas não receio a cidade a ruir,
Vamos brincar para os escombros.
Por baixo das pedras vive
Uma mulher que pintou a vagina de negro:
Está de luto pela Globalização
- Já ninguém deseja comer mais
Deste Pão, que Ronald Mcdonald
Distribui pelos fieis.
Tudo cai, amor,
Vamos cair também - De cabeça
Acordaremos assentes no fim do Universo.
Lígia Reyes, in A Sul de Nenhum Norte
à neve que se acumula no fundo;
Os Oceanos transbordaram, claros
Farinha para bolos e Tortas
De mel; As minhas abelhas
Vestem o pijama e dizem
Boa Noite - Até amanhã
Tenho medo porque o tempo existe;
Ás vezes por ser inventado, outras
Porque tudo cai - Até a Chuva
E palavras num poema
Cantado pela manhã turbulenta
Estou com dificuldades a acordar
Mas não receio a cidade a ruir,
Vamos brincar para os escombros.
Por baixo das pedras vive
Uma mulher que pintou a vagina de negro:
Está de luto pela Globalização
- Já ninguém deseja comer mais
Deste Pão, que Ronald Mcdonald
Distribui pelos fieis.
Tudo cai, amor,
Vamos cair também - De cabeça
Acordaremos assentes no fim do Universo.
Lígia Reyes, in A Sul de Nenhum Norte
real love
Meu amor madre-pérola,
Olha-nos, a desfazermos
Em ponto caramelo o corpo
Em nostalgia e folhas de Outono -
Rash-Rash - Como queimávamos os pés
Nesses passeios ínfimos
Pelas avenidas de uma cidade
Que chora um Rio: Descosíamos
Os botões, alinhavados às palavras
Da poesia e construíamos pontes.
Vamos remar a favor do mármore,
Não tenhas medo: Mil suicídios
Aconteceram quando eu parti,
E agora sobram cartas para lermos
Até ao fim da vida. Juntos
Venceremos o flogisto, acolheremos
Patriamente a vitória da cinzas,
Manjaremos tenras asas de fénix
Até nos esgotarmos num jardim belo
E uma chávena de chá ao fim da tarde.
Lígia Reyes, in A Sul de Nenhum Norte
Olha-nos, a desfazermos
Em ponto caramelo o corpo
Em nostalgia e folhas de Outono -
Rash-Rash - Como queimávamos os pés
Nesses passeios ínfimos
Pelas avenidas de uma cidade
Que chora um Rio: Descosíamos
Os botões, alinhavados às palavras
Da poesia e construíamos pontes.
Vamos remar a favor do mármore,
Não tenhas medo: Mil suicídios
Aconteceram quando eu parti,
E agora sobram cartas para lermos
Até ao fim da vida. Juntos
Venceremos o flogisto, acolheremos
Patriamente a vitória da cinzas,
Manjaremos tenras asas de fénix
Até nos esgotarmos num jardim belo
E uma chávena de chá ao fim da tarde.
Lígia Reyes, in A Sul de Nenhum Norte
se eu fosse um vídeo
my what big eyes you have / my what big hands you have / my what hot breath you have / my what sharp teeth you have
a minha saia
A minha saia é debruada de
dentes brancos
— saia rodada com pregas
e esconderijos que se abrem
sobre os precipícios da infância
É uma saia alta como janelas
remendada pelas mãos cuidadosas dos amantes
Debaixo da minha saia há
uma caixa com botões e olhos
que encontrei no leito seco dos caminhos
há um girassol que me aquece
o farelo e o sal dos ossos
há uma colmeia e o crescente negro
da sombra a roçar os joelhos
Há o riso dos velhos
Som de cordas, velas de moinho,
fábulas e exércitos balançam
dentro da minha saia
quando danço
Debaixo da minha saia há também casas
onde recolho o vento, e delas se avista
o pescoço curvo de dois bois mansos
alisando o pasto
Rodo o corpo e a minha saia aponta para o sul
baixo-a para desenhar círculos na poeira
ergo-a para atravessar o rio
na hora em que
a maré sobe
sobe
sobe
sobe
Ana Duarte
dentes brancos
— saia rodada com pregas
e esconderijos que se abrem
sobre os precipícios da infância
É uma saia alta como janelas
remendada pelas mãos cuidadosas dos amantes
Debaixo da minha saia há
uma caixa com botões e olhos
que encontrei no leito seco dos caminhos
há um girassol que me aquece
o farelo e o sal dos ossos
há uma colmeia e o crescente negro
da sombra a roçar os joelhos
Há o riso dos velhos
Som de cordas, velas de moinho,
fábulas e exércitos balançam
dentro da minha saia
quando danço
Debaixo da minha saia há também casas
onde recolho o vento, e delas se avista
o pescoço curvo de dois bois mansos
alisando o pasto
Rodo o corpo e a minha saia aponta para o sul
baixo-a para desenhar círculos na poeira
ergo-a para atravessar o rio
na hora em que
a maré sobe
sobe
sobe
sobe
Ana Duarte
the wolves
The wolves had tended her because they knew she was an imperfect wolf; we secluded her in animal privacy out of fear of her imperfection because it showed us what we might have been.
Angela Carter, Wolf-Alice
Angela Carter, Wolf-Alice
indecifrável - 1
Nem tudo foi dito, mas basta,
não são precisas mais palavras.
No silêncio cai sobre nós a
realidade, com todo o seu peso,
o seu mistério; e não o queremos
decifrar, com palavras sobretudo
não o queremos explicar. O que
não foi dito pertence-nos como
o destino inconfessável, como os
ossos dos joelhos, as dores de
cabeça ao fim da tarde quando
sopra o vento rude que vem do
deserto. Todos os destinos são
exemplares e é impossível
amarrá-los. As palavras nascem
do medo ou do tédio, talvez
do horror ao vazio. À toa
queremos entrar no edifício do
sentido, a casa estranha. E
entramos. Mas todos os destinos
são apenas uma versão caseira
da insensatez da existência.
Calar-se não é morrer. Na
sepultura do silêncio esconde-se,
discreta, a dignidade.
João Camilo, in A Sul de Nenhum Norte
não são precisas mais palavras.
No silêncio cai sobre nós a
realidade, com todo o seu peso,
o seu mistério; e não o queremos
decifrar, com palavras sobretudo
não o queremos explicar. O que
não foi dito pertence-nos como
o destino inconfessável, como os
ossos dos joelhos, as dores de
cabeça ao fim da tarde quando
sopra o vento rude que vem do
deserto. Todos os destinos são
exemplares e é impossível
amarrá-los. As palavras nascem
do medo ou do tédio, talvez
do horror ao vazio. À toa
queremos entrar no edifício do
sentido, a casa estranha. E
entramos. Mas todos os destinos
são apenas uma versão caseira
da insensatez da existência.
Calar-se não é morrer. Na
sepultura do silêncio esconde-se,
discreta, a dignidade.
João Camilo, in A Sul de Nenhum Norte
boring
a inclinação para o amor. nas mulheres
a inteligência, evidentemente.
a linguagem não permite verbalizar tudo.
a mim só a cumplicidade me afecta. a
paixão que sentem por nós. mais uma.
aborreço-me, já disse. acaba tudo no lixo,
não é verdade? acumulou-se o tédio e a
pressão. alguma coisa se perdeu no minucioso
processo. alguns filmes tiveram uma profunda
intenção amorosa. não foi enquanto a idolatrava,
juro. batem tão perto um do outro os corações.
dói-me a cabeça. cansa-me ter de telefonar.
como ser assimilado pela linguagem? como
viver sem a literatura? é criminoso. odeio
ter copos e pratos. há cura para os males
que nos afligem? palavreado. em silêncio, sim,
em silêncio. detesto fazer as malas, arrumar livros.
dissimulada, santa, escorraçada. não quero
mudar de casa, já disse. onde fica à espera
de sair o que não encontrou uma porta ou uma
janela? o tédio do passado. lê-se nos olhos das
pessoas. memórias que não me interessam. e no
sofá de coiro preto, lembras-te? é uma questão,
no entanto, de nos sentirmos mais ou menos
antecipadamente abandonados. entre nós
e quem nos ama não há nada a escolher. fica-se
só por acaso. estou farto. não se pode arriscar.
eu sempre escolhi a mulher que devia. forçosamente,
alguma coisa se deteriorou. garfos e facas. oiço
música se me apetecer. gosto de alguma pintura.
gosto de trabalhar. há uma semana que estou
constipado. ilusões, só ilusões. já não sei se
dependo do que me impede de pensar. a percepção
tem influência em mim. amam-nos, não nos veneram.
nunca a desprezei. desse modo, quero dizer.
dependo do futuro? das montanhas e dos rios?
não há solução. não tenho força para me abandonar.
ninguém ama ninguém. ninguém. o amor é invisível.
o facto de vir a expirar o indizível, transforma-o? o
peso da censura. o que é que me fascina mais? o
telefone, ah o telefone, incessantemente. onde
estaríamos neste momento se? os corações a
amputar com uma faca. para cortarem a água, a
luz, o gás, sim, é isso. e para quê tanta canseira?
para quê ter mesas, cadeiras, camas? para onde
vai o remorso? pode dizer-se que temos saudades
do futuro? pode quando muito adivinhar-se,
pressentir-se, inventar-se. podia estar-me nas
tintas para tudo o que me vai acontecendo. porque
é que me incomodo a incomodar-me com tantas
perguntas? porque é que não paro de fumar?
porque estou sentado diante do computador a
escrever há horas? porque não temos saudades
do futuro? preciso de sair de casa. quando me
lembro disso. há alguma coisa lá fora que se
possa presenciar? estamos sós. reconstruction.
reconstruir sem parar. os buracos negros da
culpa. recordo algumas pessoas que foram
simpáticas comigo. no rosto pode sofrer-se
tudo isso. e nota-se. talvez. não a adorei sempre.
se eu não estivesse tão constipado. se eu não
fosse tímido, algumas hipóteses transformavam-se
em sucesso ou em fracasso. se eu soubesse, ah
se fosse possível. sei que sou amado. sem
terem, que eu saiba, razão particular para me
odiarem. ser feliz é ter falhado na vida, eu sei.
seria despropositado perceber o que se passa.
sim, sei e não sei tudo isso. só ela me conheceu,
penso eu de vez em quando. só me deixaram o
tédio como solução. a indiferença é enorme,
já se sabe. o que não se pode dizer. tantas
caixas de cartão para encher. tenho uma
pontaria afinada para escolher a mulher
que um dia deixará de me amar. todos os dias
penso no assunto. não é por falta de competência.
um amor inconfessável. e que nós temos de ignorar.
um dia. mas não me leva a desistir. uma catástrofe
abateu-se sobre a minha vida. veementemente,
ignorante ainda, espero pelo único acontecimento: o
amor. uma vez mais, a milésima. maldita gripe que. vou
cansar-me a pôr em ordem o que está desarrumado. whisky
em garrafas meias ou quase cheias. indícios e tanto pó.
João Camilo, in A Sul de Nenhum Norte
a inteligência, evidentemente.
a linguagem não permite verbalizar tudo.
a mim só a cumplicidade me afecta. a
paixão que sentem por nós. mais uma.
aborreço-me, já disse. acaba tudo no lixo,
não é verdade? acumulou-se o tédio e a
pressão. alguma coisa se perdeu no minucioso
processo. alguns filmes tiveram uma profunda
intenção amorosa. não foi enquanto a idolatrava,
juro. batem tão perto um do outro os corações.
dói-me a cabeça. cansa-me ter de telefonar.
como ser assimilado pela linguagem? como
viver sem a literatura? é criminoso. odeio
ter copos e pratos. há cura para os males
que nos afligem? palavreado. em silêncio, sim,
em silêncio. detesto fazer as malas, arrumar livros.
dissimulada, santa, escorraçada. não quero
mudar de casa, já disse. onde fica à espera
de sair o que não encontrou uma porta ou uma
janela? o tédio do passado. lê-se nos olhos das
pessoas. memórias que não me interessam. e no
sofá de coiro preto, lembras-te? é uma questão,
no entanto, de nos sentirmos mais ou menos
antecipadamente abandonados. entre nós
e quem nos ama não há nada a escolher. fica-se
só por acaso. estou farto. não se pode arriscar.
eu sempre escolhi a mulher que devia. forçosamente,
alguma coisa se deteriorou. garfos e facas. oiço
música se me apetecer. gosto de alguma pintura.
gosto de trabalhar. há uma semana que estou
constipado. ilusões, só ilusões. já não sei se
dependo do que me impede de pensar. a percepção
tem influência em mim. amam-nos, não nos veneram.
nunca a desprezei. desse modo, quero dizer.
dependo do futuro? das montanhas e dos rios?
não há solução. não tenho força para me abandonar.
ninguém ama ninguém. ninguém. o amor é invisível.
o facto de vir a expirar o indizível, transforma-o? o
peso da censura. o que é que me fascina mais? o
telefone, ah o telefone, incessantemente. onde
estaríamos neste momento se? os corações a
amputar com uma faca. para cortarem a água, a
luz, o gás, sim, é isso. e para quê tanta canseira?
para quê ter mesas, cadeiras, camas? para onde
vai o remorso? pode dizer-se que temos saudades
do futuro? pode quando muito adivinhar-se,
pressentir-se, inventar-se. podia estar-me nas
tintas para tudo o que me vai acontecendo. porque
é que me incomodo a incomodar-me com tantas
perguntas? porque é que não paro de fumar?
porque estou sentado diante do computador a
escrever há horas? porque não temos saudades
do futuro? preciso de sair de casa. quando me
lembro disso. há alguma coisa lá fora que se
possa presenciar? estamos sós. reconstruction.
reconstruir sem parar. os buracos negros da
culpa. recordo algumas pessoas que foram
simpáticas comigo. no rosto pode sofrer-se
tudo isso. e nota-se. talvez. não a adorei sempre.
se eu não estivesse tão constipado. se eu não
fosse tímido, algumas hipóteses transformavam-se
em sucesso ou em fracasso. se eu soubesse, ah
se fosse possível. sei que sou amado. sem
terem, que eu saiba, razão particular para me
odiarem. ser feliz é ter falhado na vida, eu sei.
seria despropositado perceber o que se passa.
sim, sei e não sei tudo isso. só ela me conheceu,
penso eu de vez em quando. só me deixaram o
tédio como solução. a indiferença é enorme,
já se sabe. o que não se pode dizer. tantas
caixas de cartão para encher. tenho uma
pontaria afinada para escolher a mulher
que um dia deixará de me amar. todos os dias
penso no assunto. não é por falta de competência.
um amor inconfessável. e que nós temos de ignorar.
um dia. mas não me leva a desistir. uma catástrofe
abateu-se sobre a minha vida. veementemente,
ignorante ainda, espero pelo único acontecimento: o
amor. uma vez mais, a milésima. maldita gripe que. vou
cansar-me a pôr em ordem o que está desarrumado. whisky
em garrafas meias ou quase cheias. indícios e tanto pó.
João Camilo, in A Sul de Nenhum Norte
café mojo
Falar de cães ou da tarde de sol,
o tédio. Aonde ir morrer? Onde
esconder o cadáver da rapariga
de rosto impassível, tão branco
sempre, pureza, restos de pecados?
Confessa-te, ó mortal idílio da
juventude, ó. Não. Sonhos de
glória. Aplausos. Parvos. Se.
Bullshit. You motherfucker. Petit
con. Fantasma. Tanta dedicação.
Leave me alone. E a ópera, as
árias. Insistentes. Tu lembras-te?
De mim? E daquele pedaço de
paisagem com arbustos, ao sol?
Travagem brusca. Sem emoção.
Uma adolescente curiosa. Hey.
Blow job? Às oito. Nas escadas.
Traz o manual de filosofia. Sim?
Paixões. Úteis. Cem dólares. Uma
noite de hotel. Tinhas música e
havia champanhe. E os caracóis?
Do púbis nojento.You bastards
you are destroying the planet.
Lágrimas, crocodilos, a rata,
a serpente do paraíso. Corria
o rio nas minhas veias inchadas.
O herói do filme, o foragido do
crucifixo perseguia. Quem? E
tu silencioso. Morto. Imbecil.
O destino, rodas de borracha
silenciosas nos corredores do
hospital. As minhas pobres
entranhas. Deixaste-me lá, foste
à tua vida. Tão longe já. Veloz.
E a bruma, o deserto, o quadro
do pintor desconhecido. Azul
e vermelho. Primária, pecadora.
O único livro que eu podia ler.
E tu, tu queimaste-me no fogo
do meu delírio ardente. Eu deixei.
O amor, o amor, foda-se. Sorri
para a máquina fotográfica, anjo.
Nesse colchão de penas tão
usado, encardido. Nunca saí
de onde estou. Tu não virás e
eu. Quero lá saber. Fuck. Eu
não, eu juro. Eu em Espanha.
Inalterável sempre por dentro.
Perseguir o destino. De costas
viradas para o Inverno. A única
maçã verde. Morder nela. A minha
fome, a sede. Laranja caída da
árvore. Podridão. Fedor. Tentei,
não consegui. Bolor. Não a pude
abrir, onde estava a chave? Dá-
-me a tua mão fria. Os teus dedos
inesquecíveis. Intactos ainda.
Cidades tão desertas, túmulos
de paixões por terminar. Acabar
comigo e com os ideais de uma
existência luxuosa à beira-mar.
Infanticídios. Sangue inocente.
And you don't even remember
what happened. Poor you. You.
Tontinha das borbulhas. Do ódio,
sim, da incompreensão. Nada sei.
Nada direi. Nada confessaremos.
Luzes nas esquinas, reflexos,
nevoeiro, calçadas húmidas.
Gritos. Silêncio negro. Poço
sem fundo do aguilhão da dor.
Promessas. Masturba-te, é o que.
Incitam-te. Convidam. Abanava ao
vento. Naquela romaria de aldeia
cantavam, dançavam. As sombras.
E tu onde estavas, esquecida de mim,
a delirar de novo? Tu sabes que sem
mim. Não, não consegues. Tenta.
A amante infiel em casa bordava.
Tonta. Clara linda como o sol. Ó
mãe, infância incompreendida.
Na sombra, cantavas. Dócil. Sem
saberes a importância, o alcance.
Um dia. Mas não. Basta-te a ti
mesmo. Não contes. Ninguém.
As cores, ar, sussurros, beira-mar.
A medida, o metro, a regra, a lei.
O rosto rubro do terror. Sujo. E.
Algazarra popular. Embarcaste,
depois arrependeste-te. Rio acima,
rio abaixo. Ventre pútrido, infamado.
Inflamações. As bocas sorriam. Vi os
dentes brancos. De joelhos nus, tu ias.
Eu excitava-me com as minhas pernas
arrumadas no caixão, dentro das calças
para sempre mal vincadas. E tu nunca,
tu nunca confessarias que me tinhas
conhecido, traído. Tiveste vergonha
das minhas mãos, tu, pútrida donzela.
Do meu rosto. Do meu corpo. Tu. A que.
Meditaste? Ranho verde. Vendida. E eu.
Olhava. Chuva. O oceano, ondas
murmurando ao longe, nas estrelas.
Ou nas estradas. Ou nos comboios da
ordem falsamente restabelecida. Tudo é
ensaio, simulação, divulgação do erro.
And here we go again. Passar-te, ó puta,
a ferro. Embalsamar-te, que te amassem
no futuro, pernas bem abertas no colchão,
todas as. Todas as. Pagarias assim. Mas não.
Vidros partidos. Marcas? Que resíduos dos
meus dedos na tua pele se infectaram?
Tantos rostos. Se elas. Se eu. Sorri. Se
tu. Don’t flatter me, please. Your legs,
your beautiful legs esmigalhando-se
again contra o lençol das cortinas que
para atenuar a mancha nós. Oh. Sem
remorso. Sem. Sem recordação. Que
fizeste? Vem comigo. Estás talvez não
sei se perdoada por engano. Imagino.
Anda. Mexe-te. Abana-te. As pérolas
dos colares na varanda de madeira
do teu pescoço. Eu: não sei cantar.
Não sei ouvir. E o dia esplendoroso
ria-se da minha pena, da ausência
intrigante dos meus pensamentos.
Se não me odiassem. Se tu. Ninguém
regressa, nunca. O cão entre as mesas
do café abanava o rabo. Ser sem alma.
Amamos nas auto-estradas, assassinamos
a todas as horas de expediente normal.
A oposição nunca cairá. Infortúnios.
O alcance dos sonhos. Salva-me. E o
cão. Minúsculo, ridículo. Ela dava-lhe
beijinhos no focinho, chamava-lhe filho.
E eu tão só, nós tão sós. Milagres da
natureza morta. Uma história que se
possa resumir, recontar, recolher ou
queimar na vela do barco que pelas
ilhas ia ao sabor do vento. Correntes
de prata ligavam-nos ao fundo do mar.
Acenar. Olá. E a perdição e as vogais
poluídas pela tua garganta de cadela.
Não, eu não tenho pecados a confessar.
Não, nem remorsos, nem projécteis, nem
vapores de água arrefecidos na bruma
secreta das noites de vício, irrecuperáveis.
Quero emendá-las. Quero renegá-las. Eu
sei lá. O que quero. O que sinto. A dor.
João Camilo, in A Sul de Nenhum Norte
o tédio. Aonde ir morrer? Onde
esconder o cadáver da rapariga
de rosto impassível, tão branco
sempre, pureza, restos de pecados?
Confessa-te, ó mortal idílio da
juventude, ó. Não. Sonhos de
glória. Aplausos. Parvos. Se.
Bullshit. You motherfucker. Petit
con. Fantasma. Tanta dedicação.
Leave me alone. E a ópera, as
árias. Insistentes. Tu lembras-te?
De mim? E daquele pedaço de
paisagem com arbustos, ao sol?
Travagem brusca. Sem emoção.
Uma adolescente curiosa. Hey.
Blow job? Às oito. Nas escadas.
Traz o manual de filosofia. Sim?
Paixões. Úteis. Cem dólares. Uma
noite de hotel. Tinhas música e
havia champanhe. E os caracóis?
Do púbis nojento.You bastards
you are destroying the planet.
Lágrimas, crocodilos, a rata,
a serpente do paraíso. Corria
o rio nas minhas veias inchadas.
O herói do filme, o foragido do
crucifixo perseguia. Quem? E
tu silencioso. Morto. Imbecil.
O destino, rodas de borracha
silenciosas nos corredores do
hospital. As minhas pobres
entranhas. Deixaste-me lá, foste
à tua vida. Tão longe já. Veloz.
E a bruma, o deserto, o quadro
do pintor desconhecido. Azul
e vermelho. Primária, pecadora.
O único livro que eu podia ler.
E tu, tu queimaste-me no fogo
do meu delírio ardente. Eu deixei.
O amor, o amor, foda-se. Sorri
para a máquina fotográfica, anjo.
Nesse colchão de penas tão
usado, encardido. Nunca saí
de onde estou. Tu não virás e
eu. Quero lá saber. Fuck. Eu
não, eu juro. Eu em Espanha.
Inalterável sempre por dentro.
Perseguir o destino. De costas
viradas para o Inverno. A única
maçã verde. Morder nela. A minha
fome, a sede. Laranja caída da
árvore. Podridão. Fedor. Tentei,
não consegui. Bolor. Não a pude
abrir, onde estava a chave? Dá-
-me a tua mão fria. Os teus dedos
inesquecíveis. Intactos ainda.
Cidades tão desertas, túmulos
de paixões por terminar. Acabar
comigo e com os ideais de uma
existência luxuosa à beira-mar.
Infanticídios. Sangue inocente.
And you don't even remember
what happened. Poor you. You.
Tontinha das borbulhas. Do ódio,
sim, da incompreensão. Nada sei.
Nada direi. Nada confessaremos.
Luzes nas esquinas, reflexos,
nevoeiro, calçadas húmidas.
Gritos. Silêncio negro. Poço
sem fundo do aguilhão da dor.
Promessas. Masturba-te, é o que.
Incitam-te. Convidam. Abanava ao
vento. Naquela romaria de aldeia
cantavam, dançavam. As sombras.
E tu onde estavas, esquecida de mim,
a delirar de novo? Tu sabes que sem
mim. Não, não consegues. Tenta.
A amante infiel em casa bordava.
Tonta. Clara linda como o sol. Ó
mãe, infância incompreendida.
Na sombra, cantavas. Dócil. Sem
saberes a importância, o alcance.
Um dia. Mas não. Basta-te a ti
mesmo. Não contes. Ninguém.
As cores, ar, sussurros, beira-mar.
A medida, o metro, a regra, a lei.
O rosto rubro do terror. Sujo. E.
Algazarra popular. Embarcaste,
depois arrependeste-te. Rio acima,
rio abaixo. Ventre pútrido, infamado.
Inflamações. As bocas sorriam. Vi os
dentes brancos. De joelhos nus, tu ias.
Eu excitava-me com as minhas pernas
arrumadas no caixão, dentro das calças
para sempre mal vincadas. E tu nunca,
tu nunca confessarias que me tinhas
conhecido, traído. Tiveste vergonha
das minhas mãos, tu, pútrida donzela.
Do meu rosto. Do meu corpo. Tu. A que.
Meditaste? Ranho verde. Vendida. E eu.
Olhava. Chuva. O oceano, ondas
murmurando ao longe, nas estrelas.
Ou nas estradas. Ou nos comboios da
ordem falsamente restabelecida. Tudo é
ensaio, simulação, divulgação do erro.
And here we go again. Passar-te, ó puta,
a ferro. Embalsamar-te, que te amassem
no futuro, pernas bem abertas no colchão,
todas as. Todas as. Pagarias assim. Mas não.
Vidros partidos. Marcas? Que resíduos dos
meus dedos na tua pele se infectaram?
Tantos rostos. Se elas. Se eu. Sorri. Se
tu. Don’t flatter me, please. Your legs,
your beautiful legs esmigalhando-se
again contra o lençol das cortinas que
para atenuar a mancha nós. Oh. Sem
remorso. Sem. Sem recordação. Que
fizeste? Vem comigo. Estás talvez não
sei se perdoada por engano. Imagino.
Anda. Mexe-te. Abana-te. As pérolas
dos colares na varanda de madeira
do teu pescoço. Eu: não sei cantar.
Não sei ouvir. E o dia esplendoroso
ria-se da minha pena, da ausência
intrigante dos meus pensamentos.
Se não me odiassem. Se tu. Ninguém
regressa, nunca. O cão entre as mesas
do café abanava o rabo. Ser sem alma.
Amamos nas auto-estradas, assassinamos
a todas as horas de expediente normal.
A oposição nunca cairá. Infortúnios.
O alcance dos sonhos. Salva-me. E o
cão. Minúsculo, ridículo. Ela dava-lhe
beijinhos no focinho, chamava-lhe filho.
E eu tão só, nós tão sós. Milagres da
natureza morta. Uma história que se
possa resumir, recontar, recolher ou
queimar na vela do barco que pelas
ilhas ia ao sabor do vento. Correntes
de prata ligavam-nos ao fundo do mar.
Acenar. Olá. E a perdição e as vogais
poluídas pela tua garganta de cadela.
Não, eu não tenho pecados a confessar.
Não, nem remorsos, nem projécteis, nem
vapores de água arrefecidos na bruma
secreta das noites de vício, irrecuperáveis.
Quero emendá-las. Quero renegá-las. Eu
sei lá. O que quero. O que sinto. A dor.
João Camilo, in A Sul de Nenhum Norte
No entanto hei-de falar-vos delas um dia, se me lembrar, se puder, das minhas estranhas dores, em pormenor, distinguindo entre os diferentes géneros, para maior clareza, as do entendimento, as do coração ou afectivas, as da alma (mais bonitas não há) e finalmente as do corpo propriamente dito, primeiro as internas ou latentes, depois as da superfície, começando pelo cabelo e couro cabeludo e descendo metodicamente, sem pressas, até aos adorados pés, lugar dos calos, cãibras, frieiras, joanetes, unhas encravadas, pústulas, gangrena, pé boto, pé de pato, pé-de-galo, pé-de-cabra, pé chato, pé de atleta e outras bizarrias. E, aos que tiverem a gentileza de me ouvir, falarei também, na mesma ocasião, de acordo com um sistema inventado já não me lembro por quem, daqueles instantes em que, sem se estar drogado, nem bêbado, nem em êxtase, não se sente nada.
Samuel Beckett
Samuel Beckett
this is the part of the story i'd rather not tell
how at 13 I would lay awake at night deciding
which friend or family member would have to die
so that I might be aggrieved enough to be interesting,
so that I would have the permission to become more
withdrawn and mysterious and thus, more attractive.
I’d lay awake at night, plotting who it should be, how
it should go for the maximum impact. It would have
to be something epic so that I could become a rag doll
in his arms, bury my sweet face in the meaty expanse
of his 13-year-old chest and breathe deep the scent of his
Old Spice for my consolation. My malaise would surely
cause me to lose my appetite, and thus the tragic death
of my loved one would conveniently double as a diet plan.
In the version of the story where a masked gunman
breaks into our school and holds us all hostage, I am
always able to tackle him after he gets off a few
shots. One of them hits me non-fatally in the shoulder
and my current infatuation takes off his shirt to help
staunch the bleeding. I’m not sure how the story proceeds
from there because at this point in my dream I always
began to masturbate. I had determined that certain aunts
and cousins were important, but ultimately non-essential
enough to my daily life to be suitable options. Certain friends
had also been earmarked as acceptable, and I would update
my list with god each evening, playing through the
circumstances of their death and grieving each one with
actual tears so god might see what good choices I had made.
I didn’t want him to think I had cheaped out and picked a
distant relative or a secret enemy to exchange for my love’s
fulfillment. What kind of love would that be, anyway?
When it finally happened, there was no one but the floor
to fall into. Nothing but the gasping choke for my consolation.
I wouldn’t let anyone touch me. The sacrificial loved one?
My best friend with the crooked smile and first kiss around
the corner, her mother who kissed my head like a daughter,
her father who would fetch me midnight bowls of cereal,
her sister, getting ready to start college. The epic disaster?
An exploding plane.
To whom much is given, much is expected.
I no longer speak to god.
I love like I’d kill for it.
Emily Kagan Trenchard
which friend or family member would have to die
so that I might be aggrieved enough to be interesting,
so that I would have the permission to become more
withdrawn and mysterious and thus, more attractive.
I’d lay awake at night, plotting who it should be, how
it should go for the maximum impact. It would have
to be something epic so that I could become a rag doll
in his arms, bury my sweet face in the meaty expanse
of his 13-year-old chest and breathe deep the scent of his
Old Spice for my consolation. My malaise would surely
cause me to lose my appetite, and thus the tragic death
of my loved one would conveniently double as a diet plan.
In the version of the story where a masked gunman
breaks into our school and holds us all hostage, I am
always able to tackle him after he gets off a few
shots. One of them hits me non-fatally in the shoulder
and my current infatuation takes off his shirt to help
staunch the bleeding. I’m not sure how the story proceeds
from there because at this point in my dream I always
began to masturbate. I had determined that certain aunts
and cousins were important, but ultimately non-essential
enough to my daily life to be suitable options. Certain friends
had also been earmarked as acceptable, and I would update
my list with god each evening, playing through the
circumstances of their death and grieving each one with
actual tears so god might see what good choices I had made.
I didn’t want him to think I had cheaped out and picked a
distant relative or a secret enemy to exchange for my love’s
fulfillment. What kind of love would that be, anyway?
When it finally happened, there was no one but the floor
to fall into. Nothing but the gasping choke for my consolation.
I wouldn’t let anyone touch me. The sacrificial loved one?
My best friend with the crooked smile and first kiss around
the corner, her mother who kissed my head like a daughter,
her father who would fetch me midnight bowls of cereal,
her sister, getting ready to start college. The epic disaster?
An exploding plane.
To whom much is given, much is expected.
I no longer speak to god.
I love like I’d kill for it.
Emily Kagan Trenchard
é domingo hoje
mas nós não saímos
é o único dia
que não repetimos
e que dura menos
mas põe o teu rouge
que eu mudo a camisa
não como quem
de ilusão
precisa
tomaremos chá
leremos um pouco
e iremos à varanda
absortos
António Reis
é o único dia
que não repetimos
e que dura menos
mas põe o teu rouge
que eu mudo a camisa
não como quem
de ilusão
precisa
tomaremos chá
leremos um pouco
e iremos à varanda
absortos
António Reis
o truman capote ensina:
You musn't give your heart to a wild thing. The more you do, the stronger they get, until they're strong enough to run into the woods or fly into a tree. And then to a higher tree and then to the sky.
Breakfast at Tiffany's
Breakfast at Tiffany's
Não quero o vosso céu, companheiros,
as falsas promessas, os amigos fingidos,
as ruas cheias de beijos,
as mentiras de espelhos fugidios.
Quero rasgar o último selo,
a lua que não dá luz,
a noite em que não brilha nada.
Eeva-Liisa Manner
as ruas cheias de beijos,
as mentiras de espelhos fugidios.
Quero rasgar o último selo,
a lua que não dá luz,
a noite em que não brilha nada.
Eeva-Liisa Manner
Tu queres sono: despe-te dos ruídos, e
os restos do dia, tira da tua boca
o punhal e o trânsito, sombras de
teus gritos, e roupas, choros, cordas e
também as faces que assomam sobre a
tua sonora forma de dar, e os outros corpos
que se deitam e se pisam, e as moscas
que sobrevoam o cadáver do teu pai, e a dor (não ouças)
que se prepara para carpir tua vigília, e os cantos que
esqueceram teus braços e tantos movimentos
que perdem teus silêncios, o os ventos altos
que não dormem, que te olham da janela
e em tua porta penetram como loucos
pois nada te abandona nem tu ao sono.
Ana Cristina César
o punhal e o trânsito, sombras de
teus gritos, e roupas, choros, cordas e
também as faces que assomam sobre a
tua sonora forma de dar, e os outros corpos
que se deitam e se pisam, e as moscas
que sobrevoam o cadáver do teu pai, e a dor (não ouças)
que se prepara para carpir tua vigília, e os cantos que
esqueceram teus braços e tantos movimentos
que perdem teus silêncios, o os ventos altos
que não dormem, que te olham da janela
e em tua porta penetram como loucos
pois nada te abandona nem tu ao sono.
Ana Cristina César
If you like my poems let them
walk in the evening, a little behind you
Then people will say
"Along this road i saw a princess pass
on her way to meet her lover(it was
toward nightfall)with tall and ignorant servants."
E. E. Cummings
Then people will say
"Along this road i saw a princess pass
on her way to meet her lover(it was
toward nightfall)with tall and ignorant servants."
E. E. Cummings
tropeço de ternura
Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti
Alexandre O'Neill
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti
Alexandre O'Neill
só o verde fala neste tempo de silêncio
somos gastos pelos ruídos do lado de fora das árvores
espera, pensei em folhas e a primavera explodiu-me na boca
Maria Sousa
espera, pensei em folhas e a primavera explodiu-me na boca
Maria Sousa
os teus seios
Sei os teus seios.
Sei-os de cor.
Para a frente, para cima,
Despontam, alegres, os teus seios.
Vitoriosos já,
Mas não ainda triunfais.
Quem comparou os seios que são teus
(Banal imagem) a colinas!
Com donaire avançam os teus seios,
Ó minha embarcação!
Porque não há
Padarias que em vez de pão nos deem seios
Logo pela manhã?
Quantas vezes
Interrogastes, ao espelho, os seios?
Tão tolos os teus seios! Toda a noite
Com inveja um do outro, toda a santa
Noite!
Quantos seios ficaram por amar?
Seios pasmados, seios lorpas, seios
Como barrigas de glutões!
Seios decrépitos e no entanto belos
Como o que já viveu e fez viver!
Seios inacessíveis e tão altos
Como um orgulho que há-de rebentar
Em deseperadas, quarentonas lágrimas...
Seios fortes como os da Liberdade
-Delacroix-guiando o Povo.
Seios que vão à escola pra de lá saírem
Direitinhos pra casa...
Seios que deram o bom leite da vida
A vorazes filhos alheios!
Diz-se rijo dum seio que, vencido,
Acaba por vencer...
O amor excessivo dum poeta:
"E hei-de mandar fazer um almanaque
da pele encadernado do teu seio"
Retirar-me para uns seios que me esperam
Há tantos anos, fielmente, na província!
Arrulho de pequenos seios
No peitoril de uma janela
Aberta sobre a vida.
Botas, botirrafas
Pisando tudo, até os seios
Em que o amor se exalta e robustece!
Seios adivinhados, entrevistos,
Jamais possuídos, sempre desejados!
"Oculta, pois, oculta esses objectos
Altares onde fazem sacrifícios
Quantos os vêem com olhos indiscretos"
Raimundo Lúlio, a mulher casada
Que cortejastes, que perseguistes
Até entrares, a cavalo, pela igreja
Onde fora rezar,
Mudou-te a vida quando te mostrou
("É isto que amas?")
De repente a podridão do seio.
Mulheres dos limões a oferecerem
Fruta mais atrevida: inesperados seios...
Uma roda de velhos seios despeitados,
Rabujando,
A pretexto de chá...
Engolfo-me num seio até perder
Memória de quem sou...
Quantos seios devorou a guerra, quantos,
Depressa ou devagar, roubou à vida,
À alegria, ao amor e às gulosas
Bocas dos miúdos!
Pouso a cabeça no teu seio
E nenhum desejo me estremece a carne.
Vejo os teus seios, absortos
Sobre um pequeno ser.
Alexandre O'Neill
Sei-os de cor.
Para a frente, para cima,
Despontam, alegres, os teus seios.
Vitoriosos já,
Mas não ainda triunfais.
Quem comparou os seios que são teus
(Banal imagem) a colinas!
Com donaire avançam os teus seios,
Ó minha embarcação!
Porque não há
Padarias que em vez de pão nos deem seios
Logo pela manhã?
Quantas vezes
Interrogastes, ao espelho, os seios?
Tão tolos os teus seios! Toda a noite
Com inveja um do outro, toda a santa
Noite!
Quantos seios ficaram por amar?
Seios pasmados, seios lorpas, seios
Como barrigas de glutões!
Seios decrépitos e no entanto belos
Como o que já viveu e fez viver!
Seios inacessíveis e tão altos
Como um orgulho que há-de rebentar
Em deseperadas, quarentonas lágrimas...
Seios fortes como os da Liberdade
-Delacroix-guiando o Povo.
Seios que vão à escola pra de lá saírem
Direitinhos pra casa...
Seios que deram o bom leite da vida
A vorazes filhos alheios!
Diz-se rijo dum seio que, vencido,
Acaba por vencer...
O amor excessivo dum poeta:
"E hei-de mandar fazer um almanaque
da pele encadernado do teu seio"
Retirar-me para uns seios que me esperam
Há tantos anos, fielmente, na província!
Arrulho de pequenos seios
No peitoril de uma janela
Aberta sobre a vida.
Botas, botirrafas
Pisando tudo, até os seios
Em que o amor se exalta e robustece!
Seios adivinhados, entrevistos,
Jamais possuídos, sempre desejados!
"Oculta, pois, oculta esses objectos
Altares onde fazem sacrifícios
Quantos os vêem com olhos indiscretos"
Raimundo Lúlio, a mulher casada
Que cortejastes, que perseguistes
Até entrares, a cavalo, pela igreja
Onde fora rezar,
Mudou-te a vida quando te mostrou
("É isto que amas?")
De repente a podridão do seio.
Mulheres dos limões a oferecerem
Fruta mais atrevida: inesperados seios...
Uma roda de velhos seios despeitados,
Rabujando,
A pretexto de chá...
Engolfo-me num seio até perder
Memória de quem sou...
Quantos seios devorou a guerra, quantos,
Depressa ou devagar, roubou à vida,
À alegria, ao amor e às gulosas
Bocas dos miúdos!
Pouso a cabeça no teu seio
E nenhum desejo me estremece a carne.
Vejo os teus seios, absortos
Sobre um pequeno ser.
Alexandre O'Neill
fragile love
Love is fragile - she was thinking - but perhaps the pieces are saved, the things that hovered on lips, that might have been said. The new love words, the tendernesses learned, are treasured up for the next lover.
F. Scott Fitzgerald, May Day
F. Scott Fitzgerald, May Day
a gaiola
Agora que regressei
a este quarto para ficar,
não me contes que a vida
continua lá fora,
não me tragas
a luz de outros voos.
Basta-me a sombra dos ramos
fingindo árvores nas cortinas;
tal como a ti
a águia libertada à porta
da mais indolente taberna ou
os cães recusando-se a morrer
de traição - todos esses perdões
em papel que vais guardando.
Ao centro do jardim (lembras-te?)
havia um poço
onde deitavam as laranjas
caídas ao chão
para se desfazerem
num silêncio mais doce.
Deixa-me ser também
apenas o caroço deste mundo,
que apodrece à nossa volta
e na minha carne.
Inês Dias, UM RAIO ARDENTE E PAREDES FRIAS
a este quarto para ficar,
não me contes que a vida
continua lá fora,
não me tragas
a luz de outros voos.
Basta-me a sombra dos ramos
fingindo árvores nas cortinas;
tal como a ti
a águia libertada à porta
da mais indolente taberna ou
os cães recusando-se a morrer
de traição - todos esses perdões
em papel que vais guardando.
Ao centro do jardim (lembras-te?)
havia um poço
onde deitavam as laranjas
caídas ao chão
para se desfazerem
num silêncio mais doce.
Deixa-me ser também
apenas o caroço deste mundo,
que apodrece à nossa volta
e na minha carne.
Inês Dias, UM RAIO ARDENTE E PAREDES FRIAS
as minhas três irmãs
As minhas três irmãs estão sentadas
rochas de obsidiana preta.
Pela primeira vez, a esta luz, consigo ver quem são.
A minha primeira irmã está a coser o fato para a procissão.
Vai vestida de Senhora Transparente
e todos os seus nervos estarão à vista.
A minha segunda irmã também está a coser
sobre a ferida do peito, que nunca cicatrizou completamente.
Espera, enfim, aliviar este aperto no coração.
A minha terceira irmã está a contemplar
uma crosta vermelho-escura que a ocidente se estende ao longe sobre o mar.
Tem as meias rotas mas é formosa.
Adrienne Rich
rochas de obsidiana preta.
Pela primeira vez, a esta luz, consigo ver quem são.
A minha primeira irmã está a coser o fato para a procissão.
Vai vestida de Senhora Transparente
e todos os seus nervos estarão à vista.
A minha segunda irmã também está a coser
sobre a ferida do peito, que nunca cicatrizou completamente.
Espera, enfim, aliviar este aperto no coração.
A minha terceira irmã está a contemplar
uma crosta vermelho-escura que a ocidente se estende ao longe sobre o mar.
Tem as meias rotas mas é formosa.
Adrienne Rich
a ciência de quase nada
O vício turvo de ter um coração
por tal se perde: a alma usada,
a língua astuta e a ciência de quase nada.
José Alberto Oliveira
por tal se perde: a alma usada,
a língua astuta e a ciência de quase nada.
José Alberto Oliveira
unwritten poems
Somewhere unwritten poems wait,
like lonely lakes not seen by anyone.
Anna Kamienska in her notebook, 1968
like lonely lakes not seen by anyone.
Anna Kamienska in her notebook, 1968
Why did the chicken cross the road?
Plato: For the greater good.
Karl Marx: It was a historical inevitability.
Machiavelli: So that its subjects will view it with admiration, as a chicken which has the daring and courage to boldly cross the road, but also with fear, for whom among them has the strength to contend with such a paragon of avian virtue? In such a manner is the princely chicken's dominion maintained.
Hippocrates: Because of an excess of light pink gooey stuff in its pancreas.
Jacques Derrida: Any number of contending discourses may be discovered within the act of the chicken crossing the road, and each interpretation is equally valid as the authorial intent can never be discerned, because structuralism is DEAD, DAMMIT, DEAD!
Thomas de Torquemada: Give me ten minutes with the chicken and I'll find out.
Timothy Leary: Because that's the only kind of trip the Establishment would let it take.
Douglas Adams: Forty-two.
Nietzsche: Because if you gaze too long across the Road, the Road gazes also across you.
Oliver North: National Security was at stake.
B.F. Skinner: Because the external influences which had pervaded its sensorium from birth had caused it to develop in such a fashion that it would tend to cross roads, even while believing these actions to be of its own free will.
Carl Jung: The confluence of events in the cultural gestalt necessitated that individual chickens cross roads at this historical juncture, and therefore synchronicitously brought such occurrences into being.
Jean-Paul Sartre: In order to act in good faith and be true to itself, the chicken found it necessary to cross the road.
Ludwig Wittgenstein: The possibility of "crossing" was encoded into the objects "chicken" and "road", and circumstances came into being which caused the actualization of this potential occurrence.
Albert Einstein: Whether the chicken crossed the road or the road crossed the chicken depends upon your frame of reference.
Aristotle: To actualize its potential.
Buddha: If you ask this question, you deny your own chicken-nature.
Howard Cosell: It may very well have been one of the most astonishing events to grace the annals of history. An historic, unprecedented avian biped with the temerity to attempt such an herculean achievement formerly relegated to homo sapien pedestrians is truly a remarkable occurence.
Salvador Dali: The Fish.
Darwin: It was the logical next step after coming down from the trees.
Emily Dickinson: Because it could not stop for death.
Epicurus: For fun.
Ralph Waldo Emerson: It didn't cross the road; it transcended it.
Johann von Goethe: The eternal hen-principle made it do it.
Ernest Hemingway: To die. In the rain.
Werner Heisenberg: We are not sure which side of the road the chicken was on, but it was moving very fast.
David Hume: Out of custom and habit.
Jack Nicholson: 'Cause it [censored] wanted to. That's the [censored] reason.
Pyrrho the Skeptic: What road?
Ronald Reagan: I forget.
John Sununu: The Air Force was only too happy to provide the transportation, so quite understandably the chicken availed himself of the opportunity.
The Sphinx: You tell me.
Mr. T.: If you saw me coming you'd cross the road too!
Henry David Thoreau: To live deliberately ... and suck all the marrow out of life.
Mark Twain: The news of its crossing has been greatly exaggerated.
Molly Yard: It was a hen!
Zeno of Elea: To prove it could never reach the other side.
Chaucer: So priketh hem nature in hir corages.
Wordsworth: To wander lonely as a cloud.
The Godfather: I didn't want its mother to see it like that.
Keats: Philosophy will clip a chicken's wings.
Blake: To see heaven in a wild fowl.
Othello: Jealousy.
Dr. Johnson: Sir, had you known the Chicken for as long as I have, you would not so readily enquire, but feel rather the Need to resist such a public Display of your own lamentable and incorrigible Ignorance.
Mrs. Thatcher: This chicken's not for turning.
Supreme Soviet: There has never been a chicken in this photograph.
Oscar Wilde: Why, indeed? One's social engagements whilst in town ought never expose one to such barbarous inconvenience - although, perhaps, if one must cross a road, one may do far worse than to cross it as the chicken in question.
Kafka: Hardly the most urgent enquiry to make of a low-grade insurance clerk who woke up that morning as a hen.
Swift: It is, of course, inevitable that such a loathsome, filth-ridden and degraded creature as Man should assume to question the actions of one in all respects his superior.
Macbeth: To have turned back were as tedious as to go o'er.
Whitehead: Clearly, having fallen victim to the fallacy of misplaced concreteness.
Freud: An die andere Seite zu kommen. (Much laughter.)
Hamlet: That is not the question.
Donne: It crosseth for thee.
Pope: It was mimicking my Lord Hervey.
Constable: To get a better view.
Yeats: She was following the Faeries that sang to her to come away with them from the dull, bucolic comfort of the farmyard to the waters and the wild.
Shelley: 'Tis a metaphor for the pursuits of man: though 'twas deemed an extraordinary occurrence at the time, still it brought little to bear on the great scheme of time and history, and was ultimately fruitless and forgotten.
Tolkien: Chickens are respectable folk, and well thought of. They never go on any adventures or do anything unexpected. One fine spring day, as the chicken wandered contentedly around the farmyard, clucking and pecking and enjoying herself immensely, there appeared a Wizard and thirteen Dwarves who were in need of a chicken to share in their adventure. Reluctantly she joined their party, and with them crossed the road into the great Unknown, muttering about how rude the Dwarves were to take her away on such short notice, without even giving her time to brush her feathers or fetch her hat.
Karl Marx: It was a historical inevitability.
Machiavelli: So that its subjects will view it with admiration, as a chicken which has the daring and courage to boldly cross the road, but also with fear, for whom among them has the strength to contend with such a paragon of avian virtue? In such a manner is the princely chicken's dominion maintained.
Hippocrates: Because of an excess of light pink gooey stuff in its pancreas.
Jacques Derrida: Any number of contending discourses may be discovered within the act of the chicken crossing the road, and each interpretation is equally valid as the authorial intent can never be discerned, because structuralism is DEAD, DAMMIT, DEAD!
Thomas de Torquemada: Give me ten minutes with the chicken and I'll find out.
Timothy Leary: Because that's the only kind of trip the Establishment would let it take.
Douglas Adams: Forty-two.
Nietzsche: Because if you gaze too long across the Road, the Road gazes also across you.
Oliver North: National Security was at stake.
B.F. Skinner: Because the external influences which had pervaded its sensorium from birth had caused it to develop in such a fashion that it would tend to cross roads, even while believing these actions to be of its own free will.
Carl Jung: The confluence of events in the cultural gestalt necessitated that individual chickens cross roads at this historical juncture, and therefore synchronicitously brought such occurrences into being.
Jean-Paul Sartre: In order to act in good faith and be true to itself, the chicken found it necessary to cross the road.
Ludwig Wittgenstein: The possibility of "crossing" was encoded into the objects "chicken" and "road", and circumstances came into being which caused the actualization of this potential occurrence.
Albert Einstein: Whether the chicken crossed the road or the road crossed the chicken depends upon your frame of reference.
Aristotle: To actualize its potential.
Buddha: If you ask this question, you deny your own chicken-nature.
Howard Cosell: It may very well have been one of the most astonishing events to grace the annals of history. An historic, unprecedented avian biped with the temerity to attempt such an herculean achievement formerly relegated to homo sapien pedestrians is truly a remarkable occurence.
Salvador Dali: The Fish.
Darwin: It was the logical next step after coming down from the trees.
Emily Dickinson: Because it could not stop for death.
Epicurus: For fun.
Ralph Waldo Emerson: It didn't cross the road; it transcended it.
Johann von Goethe: The eternal hen-principle made it do it.
Ernest Hemingway: To die. In the rain.
Werner Heisenberg: We are not sure which side of the road the chicken was on, but it was moving very fast.
David Hume: Out of custom and habit.
Jack Nicholson: 'Cause it [censored] wanted to. That's the [censored] reason.
Pyrrho the Skeptic: What road?
Ronald Reagan: I forget.
John Sununu: The Air Force was only too happy to provide the transportation, so quite understandably the chicken availed himself of the opportunity.
The Sphinx: You tell me.
Mr. T.: If you saw me coming you'd cross the road too!
Henry David Thoreau: To live deliberately ... and suck all the marrow out of life.
Mark Twain: The news of its crossing has been greatly exaggerated.
Molly Yard: It was a hen!
Zeno of Elea: To prove it could never reach the other side.
Chaucer: So priketh hem nature in hir corages.
Wordsworth: To wander lonely as a cloud.
The Godfather: I didn't want its mother to see it like that.
Keats: Philosophy will clip a chicken's wings.
Blake: To see heaven in a wild fowl.
Othello: Jealousy.
Dr. Johnson: Sir, had you known the Chicken for as long as I have, you would not so readily enquire, but feel rather the Need to resist such a public Display of your own lamentable and incorrigible Ignorance.
Mrs. Thatcher: This chicken's not for turning.
Supreme Soviet: There has never been a chicken in this photograph.
Oscar Wilde: Why, indeed? One's social engagements whilst in town ought never expose one to such barbarous inconvenience - although, perhaps, if one must cross a road, one may do far worse than to cross it as the chicken in question.
Kafka: Hardly the most urgent enquiry to make of a low-grade insurance clerk who woke up that morning as a hen.
Swift: It is, of course, inevitable that such a loathsome, filth-ridden and degraded creature as Man should assume to question the actions of one in all respects his superior.
Macbeth: To have turned back were as tedious as to go o'er.
Whitehead: Clearly, having fallen victim to the fallacy of misplaced concreteness.
Freud: An die andere Seite zu kommen. (Much laughter.)
Hamlet: That is not the question.
Donne: It crosseth for thee.
Pope: It was mimicking my Lord Hervey.
Constable: To get a better view.
Yeats: She was following the Faeries that sang to her to come away with them from the dull, bucolic comfort of the farmyard to the waters and the wild.
Shelley: 'Tis a metaphor for the pursuits of man: though 'twas deemed an extraordinary occurrence at the time, still it brought little to bear on the great scheme of time and history, and was ultimately fruitless and forgotten.
Tolkien: Chickens are respectable folk, and well thought of. They never go on any adventures or do anything unexpected. One fine spring day, as the chicken wandered contentedly around the farmyard, clucking and pecking and enjoying herself immensely, there appeared a Wizard and thirteen Dwarves who were in need of a chicken to share in their adventure. Reluctantly she joined their party, and with them crossed the road into the great Unknown, muttering about how rude the Dwarves were to take her away on such short notice, without even giving her time to brush her feathers or fetch her hat.
loucura medicada
Uma vez fui a um médico.
- Doutor, estou louco. - disse. - Devo estar louco.
- Tem loucos na família? - perguntou o médico. - Alcoólicos, sifilíticos?
- Sim, senhor. O pior. Loucos, alcoólicos, sifilíticos, místicos, prostitutas, homossexuais. estarei louco?
O médico tinha sentido de humor, e receitou-me barbitúricos.
Herberto Hélder, Os Passos em Volta
- Doutor, estou louco. - disse. - Devo estar louco.
- Tem loucos na família? - perguntou o médico. - Alcoólicos, sifilíticos?
- Sim, senhor. O pior. Loucos, alcoólicos, sifilíticos, místicos, prostitutas, homossexuais. estarei louco?
O médico tinha sentido de humor, e receitou-me barbitúricos.
Herberto Hélder, Os Passos em Volta
o tamanho da sua solidão
Vi logo o tamanho da sua solidão: tinha o tamanho do mundo. Ela era a criatura mais só do mundo. E a sua história apareceu - simples, tenebrosa - entre as nossas duas cervejas. Todas as histórias pessoais são simples e tenebrosas. Não me comovi. Comovido já eu estava: com as coisas, comigo, com a chuva sobre a cidade. Talvez houvesse uma irónica alegoria em nós os dois ali sentados diante dos belos copos frios, compreendendo ambos tão facilmente o que nos acontecia e iria acontecer que não tínhamos pressa. Poderíamos morrer ali mesmo. Esperávamos.
Herberto Helder, Os Passos em Volta
Herberto Helder, Os Passos em Volta
acorda-se às quatro da manhã num quarto vazio
Enfim, às vezes já não consigo arrumar tudo isso. Porque, sabe?, acorda-se às quatro da manhã num quarto vazio, acende-se um cigarro... Está a ver? A pequena luz do fósforo levanta de repente a massa das sombras, a camisa caída sobre a cadeira ganha um volume impossível, a nossa vida... compreende?... a nossa vida, a vida inteira, está ali como... como um acontecimento excessivo...
Herberto Hélder, Os Passos em Volta
Herberto Hélder, Os Passos em Volta
à noite
À noite tive um sonho incómodo onde se representavam umas escadas de pedra; do cimo delas, eu fazia um sinal imperceptível de despedida a alguém que se afastava em baixo. Atravessei portas que se abriam e fechavam à minha passagem sem eu lhes tocar. Depois senti-me cair de um telhado que lentamente se inclinava e por onde eu ia rolando. Havia um pântano no fundo, e mergulhei nele. Durante o sono, a mão direita agarrava um punhado de brasas. Acordei bruscamente e acendi a luz. A mancha alargara; uma outra, ainda mais intensa, enchia-me a palma da mão.
Herberto Hélder, Os Passos em Volta
Herberto Hélder, Os Passos em Volta
um amor ímpar
Como eu gostei de ti, claro
gostaram de ti outros. E outros tantos
no futuro gostarão de ti assim.
Como não amar com idêntico rancor
a tua voz desfeita, avançada a noite,
a tua furiosa adição à tristeza,
o teu velho amor aos velhos chapéus?
Seria insensato não te amar,
e a nossa insensatez, que é bem famosa,
nada tem a ver com este assunto.
O que me tira o sono nesta altura
- especialmente quando penso
que serias incapaz de algo tão nobre -
é que o amor se esqueça de me matar,
pois se reparo que não serei eterno,
nada mais elegante me ocorre,
nenhum veneno tão afortunado,
para dar um final a esta comédia.
Do mesmo modo queria que o amor
- e não digo o meu amor, pois é sabido
que já não é o que era noutros tempos -
ulcerasse a tua alma até a arruinar toda.
De certeza que te agradaria
exibir este final, que agora te ofereço,
como mais um dos teus velhos chapéus.
Desconfia deste galardão:
estamos concebidos teimosamente,
és invulnerável a algo tão puro.
Quando muito retomarás o teu voo
até ao selvagem rebordo de um copo
e eu não alcanço sempre essas alturas.
O amor é ímpar, e tu e eu exactos.
Como eu gostei de ti, estás a ver,
gostaram de ti outros. Mas duvido
que alguém fosse tão parecido contigo:
inconstante e falaz, e desejoso
de ser ímpar. Talvez como o amor.
Carlos Marzal
gostaram de ti outros. E outros tantos
no futuro gostarão de ti assim.
Como não amar com idêntico rancor
a tua voz desfeita, avançada a noite,
a tua furiosa adição à tristeza,
o teu velho amor aos velhos chapéus?
Seria insensato não te amar,
e a nossa insensatez, que é bem famosa,
nada tem a ver com este assunto.
O que me tira o sono nesta altura
- especialmente quando penso
que serias incapaz de algo tão nobre -
é que o amor se esqueça de me matar,
pois se reparo que não serei eterno,
nada mais elegante me ocorre,
nenhum veneno tão afortunado,
para dar um final a esta comédia.
Do mesmo modo queria que o amor
- e não digo o meu amor, pois é sabido
que já não é o que era noutros tempos -
ulcerasse a tua alma até a arruinar toda.
De certeza que te agradaria
exibir este final, que agora te ofereço,
como mais um dos teus velhos chapéus.
Desconfia deste galardão:
estamos concebidos teimosamente,
és invulnerável a algo tão puro.
Quando muito retomarás o teu voo
até ao selvagem rebordo de um copo
e eu não alcanço sempre essas alturas.
O amor é ímpar, e tu e eu exactos.
Como eu gostei de ti, estás a ver,
gostaram de ti outros. Mas duvido
que alguém fosse tão parecido contigo:
inconstante e falaz, e desejoso
de ser ímpar. Talvez como o amor.
Carlos Marzal
women who lie alone at midnight
spurting unjutified tears,
the kind that run sideways
never reaching the mouth,
the kind you cannot swallow
Mary Ruefle
the kind that run sideways
never reaching the mouth,
the kind you cannot swallow
Mary Ruefle
procura-se companheira/o
para relacionamento poético sério.
apenas se exige que saiba dizer que o surrealismo
é coisa para ter morrido no século xx.
David Teles Pereira
apenas se exige que saiba dizer que o surrealismo
é coisa para ter morrido no século xx.
David Teles Pereira
bicharoco
E o sol de julho talvez nada te diga, mas a mim anda-me a arranhar as feridas, anda-me a moer as comichões, anda-me a foder as olheiras, anda-me a tentar poupar-te, a ver se te curas, a ver se te levantas, a ver se vais ali à cozinha fazer-me um chá, mesmo que não tenha folhas, desde que te esqueças de ter dor
E eu
já não estou só bicharoco
eu lembrei-me da música e sacudi três notas
por ti
viste, bicharoco, era tão simples
andamos para aqui
Manuel Cintra
E eu
já não estou só bicharoco
eu lembrei-me da música e sacudi três notas
por ti
viste, bicharoco, era tão simples
andamos para aqui
Manuel Cintra
essa doente sensação
Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão, puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação.
Nuno Júdice
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação.
Nuno Júdice
existe um momento
pouco importa qual
em que se reúnem ao acaso
diante de nós
todas as condições de uma vida
desesperada
José Tolentino Mendonça
em que se reúnem ao acaso
diante de nós
todas as condições de uma vida
desesperada
José Tolentino Mendonça
ninguém lhe diz
Tirava os quadros da parede. Voltava a pendura-los. Olhava. Mas quem lhe diz que visse. Repetia a mesma faixa do disco. Escutava. Mas quem lhe diz que ouvisse. Queria chegar a uma conclusão, isto podemos afirmar sem dúvida. Mas quem lhe diz que houvese. E quem lhe diz que fizesse diferença haver ou não haver. E quem lhe diz que todo o caminho não fosse exactamente não chegar. Ninguém lhe diz. De facto, ninguém lhe diz.
Jorge Roque
Jorge Roque
Subscrever:
Mensagens (Atom)
Arquivo
~
poemário daqui
A. M. Pires Cabral
Abel Neves
Adília Lopes
Adolfo Casais Monteiro
Agustina Bessa-Luís
Al Berto
Albano Martins
Alberto Pimenta
Alexandra Malheiro
Alexandre Nave
Alexandre O'Neill
Alice Turvo
Alice Vieira
Almada Negreiros
Américo António Lindeza Diogo
Ana Bessa Carvalho
Ana C.
Ana Caeiro
Ana Cristina César
Ana Duarte
Ana Hatherly
Ana Luísa Amaral
Ana Marques Gastão
Ana Martins Marques
Ana Paula Inácio
Ana Salomé
Ana Tecedeiro
Ana Teresa Pereira
Ana Tinoco
André Tomé
Andreia C. Faria
Angélica Freitas
Ângelo de Lima
Aníbal Fernandes
António Amaral Tavares
António Botto
António Dacosta
António Franco Alexandre
António Gancho
António Gedeão
António Gregório
António José Forte
António Manuel Pires Cabral
António Maria Lisboa
António Mega Ferreira
António Osório
António Pedro
António Quadros Ferro
António Ramos Pereira
António Ramos Rosa
António Rebordão Navarro
António Reis
António S. Ribeiro
Armando Baptista-Bastos
Armando Silva Carvalho
Artur do Cruzeiro Seixas
Bénédicte Houart
Bruno Béu
Bruno Sousa Villar
Camilo Castelo Branco
Camilo Pessanha
Carlos Alberto Machado
Carlos Bessa
Carlos de Oliveira
Carlos Eurico da Costa
Carlos Mota de Oliveira
Carlos Poças Falcão
Carlos Soares
Casimiro de Brito
Catarina Nunes de Almeida
Cesário Verde
Cláudia R. Sampaio
Cruzeiro Seixas
Daniel Faria
Daniel Filipe
David Mourão-Ferreira
David Teles Pereira
Delfim Lopes
Dulce Maria Cardoso
Eastwood da Silva
Eduarda Chiote
Egito Gonçalves
Ernesto Sampaio
Eugénio de Andrade
Eugénio Lisboa
Fernando Assis Pacheco
Fernando Esteves Pinto
Fernando Lemos
Fernando Pessoa
Fernando Pinto do Amaral
Fiama Hasse Pais Brandão
Filipa Leal
Filipe Homem Fonseca
Florbela Espanca
Frederico Pedreira
gil t. sousa
Golgona Anghel
Gonçalo M. Tavares
Helder Moura Pereira
Helena Carvalho
Helga Moreira
Hélia Correia
Henrique Manuel Bento Fialho
Henrique Risques Pereira
Herberto Hélder
Inês Dias
Inês Fonseca Santos
Inês Lourenço
Isabel Meyrelles
Joana Morais Varela
Joana Serrado
João Almeida
João Bénard da Costa
João Cabral de Melo Neto
João Camilo
João Damasceno
João Ferreira Oliveira
João Habitualmente
João Luís Barreto Guimarães
João Maia
João Manuel Ribeiro
João Miguel Henriques
João Pacheco
João Pereira Coutinho
João Rodrigues
João Vasco Coelho
Joaquim Manuel Magalhães
Joaquim Pessoa
Jorge Carrera Andrade
Jorge de Sena
Jorge Gomes Miranda
Jorge Melícias
Jorge Roque
Jorge Sousa Braga
José Agostinho Baptista
José Alberto Oliveira
José Amaro Dionísio
José António Franco
José Cardoso Pires
José Carlos Barros
José Carlos Soares
José Efe
José Gomes Ferreira
José Manuel de Vasconcelos
José Mário Silva
José Miguel Silva
José Pascoal
José Ricardo Nunes
José Rui Teixeira
José Saramago
José Sebag
José Tolentino Mendonça
Judith Teixeira
Leitão de Barros
Leonor Castro Nunes
Luís Miguel Nava
Luís Quintais
Luiza Neto Jorge
Madalena de Castro Campos
Mafalda Gomes
Manuel A. Domingos
Manuel António Pina
Manuel Cintra
Manuel da Silva Ramos
Manuel de Castro
Manuel de Freitas
Manuel Fúria
Manuel Gusmão
Marcelino Vespeira
Margarida Vale de Gato
Maria Ângela Alvim
Maria Azenha
Maria do Rosário Pedreira
Maria Gabriela Llansol
Maria João Lopes Fernandes
Maria Judite de Carvalho
Maria Keil
Maria Mergulhão
Maria Sousa
Maria Teresa Horta
Maria Velho da Costa
Mário Cesariny
Mário Contumélias
Mário de Sá-Carneiro
Mário Dionísio
Mário Quintana
Mário Rui de Oliveira
Mário-Henrique Leiria
Marta Chaves
Matilde Campilho
Mendes de Carvalho
Miguel Cardoso
Miguel Martins
Miguel Sousa Tavares
Miguel Torga
Miguel-Manso
Nuno Araújo
Nuno Bragança
Nuno Júdice
Nuno Moura
Nuno Ramos
Nuno Travanca
Patrícia Baltazar
Paulo José Miranda
Pedro Jordão
Pedro Loureiro
Pedro Mexia
Pedro Oom
Pedro Santo Tirso
Pedro Sena-Lino
Pedro Tamen
Pedro Tiago
Piedade Araujo Sol
Raquel Nobre Guerra
Raquel Serejo Martins
Raul de Carvalho
Raul Malaquias Marques
Regina Guimarães
Reinaldo Ferreira
Renata Correia Botelho
Ricardo Adolfo
Rosa Alice Branco
Rosa Maria Martelo
Rui Almeida
Rui Baião
Rui Caeiro
Rui Cóias
Rui Costa
Rui Knopfli
Rui Lage
Rui Manuel Amaral
Rui Nunes
Rui Pedro Gonçalves
Rui Pires Cabral
Rute Mota
Ruy Belo
Ruy Cinatti
Ruy Ventura
Samuel Úria
Sandra Andrade
Sandra Costa
Sebastião Alba
Sílvio Mendes
Soares de Passos
Sofia Crespo
Sofia Leal
Sophia de Mello Breyner Andresen
Tatiana Faia
Teixeira de Pascoaes
Teresa Balté
Teresa M. G. Jardim
Tiago Araújo
Tiago Gomes
valter hugo mãe
Vasco Gato
Vasco Graça Moura
Vítor Nogueira
Yvette K. Centeno
poemário dali
A. E. Housman
Abbas Kiarostami
Abel Feu
Adelaide Ivánova
Adélia Prado
Adrienne Rich
Agota Kristof
Al Purdy
Alberto Tugues
Alda Merini
Aldous Huxley
Alejandra Pizarnik
Alejandro Jodorowsky
Alexander Demidov
Alfredo Veiravé
Alice Walker
Allen Ginsberg
Amalia Bautista
Amiri Baraka
Amy Lowell
Amy M. Homes
Ana Merino
André Breton
Andrés Trapiello
Angela Carter
Anis Mojgani
Anna Akhmatova
Anna Kamienska
Anne Carson
Anne Perrier
Anne Sexton
Antonia Pozzi
Antonin Artaud
Antonio Gamoneda
Antonio Orihuela
Antonio Pérez Morte
Antonio Sáez Delgado
Arnold Lobel
Arseny Tarkovsky
Arthur Rimbaud
Basilio Sánchez
Benjamín Prado
Bernard-Marie Koltès
Billy Collins
Boris Vian
Brett Elizabeth Jenkins
Brian Andreas
Brian Patten
Carl Phillips
Carl Sandburg
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Edmundo de Ory
Carlos Marzal
Carmen Gloria Berríos
Carol Ann Duffy
Cecília Meireles
Cesare Pavese
Charles Baudelaire
Charles Bukowski
Charles Dana Gibson
Charles M. Schulz
Chen Bolan
Christoph Wilhelm Aigner
Clarice Lispector
Constantino Cavafy
Corey Zeller
Countee Cullen
Cristopher Painter
Cristovam Pavia
Czesław Miłosz
Damien Sevhac
Daniel Clowes
Daniel Francoy
Daniel Pennac
Daphne Gottlieb
David Bowie
David Lagmanovich
David Lehman
Delia Brown
Delmore Schwarts
Derek Walcott
Derrick Brown
Diamanda Galás
Diane Ackerman
Djuna Barnes
Don Herold
Dorianne Laux
Dorothea Lasky
Dorothy Parker
Douglas Huebler
Dylan Thomas
E. E. Cummings
E. Ethelbert Miller
E. M. Cioran
Edgar Allan Poe
Edna O'Brien
Eduarda Chiote
Eduardo Bechara
Eeva-Liisa Manner
Egito Gonçalves
Eleanor Farjeon
Elías Moro
Elie Wiesel
Elis Regina
Elizabeth Bishop
Elizabeth Ross Taylor
Else Lasker-Schuler
Elsie Wood
Emily Dickinson
Emily Kagan Trenchard
Erin Dorsey
Eunice de Souza
Fabiano Calixto
Federico Díaz-Granados
Federico García Lorca
Félix Grande
Fernando Arrabal
Fernando Caio de Abreu
Fernando Echevarría
Fernando Gandra
Ferreira Gular
Forough Farrokhzad
Francisco Madariaga
Frank O'Hara
Frederico Pedreira
G. K. Chesterton
Gabriel Celaya
Geir Gulliksen
Georges Bataille
Gerrit Komrij
Giánnis Ritsos
Giovanny Gómez
Glória Gervitz
Gottfried Benn
Guillaume Apollinaire
Günter Kunert
Gustavo Adolfo Bécquer
Gustavo Ortiz
H. P. Lovecraft
Hal Sirowitz
Hans-Ulrich Treichel
Harold Pinter
Harvey Shapiro
Heiner Müller
Heinrich Heine
Helen Mort
Henri Béhar
Henri Michaux
Henry Rollins
Hermann Hesse
Hilda Hilst
Hilde Domin
Hoa Nguyen
Hugh Mackay
Hugo von Hofmannsthal
Hugo Williams
Ingeborg Bachmann
Ingmar Heytze
Isabel Meyrelles
Isabelle McNeill
J. M. Fonollosa
J. R. R. Tolkien
Jack Gilbert
Jack Kerouac
Jack Winter
Jacques Lacan
Jacques Prévert
James L. White
James Rogers
James Tate
Jane Hirshfield
Janet Frame
Jean Baudrillard
Jean Day
Jeanette Winterson
Jenny Joseph
Jenny Schecter
Jesús Llorente
Jim Carroll
Joan Julier Buck
Joan Margarit
Jodi Picoult
Johann Wolfgang Goethe
Johannes Bobrowski
John Ashbery
John Giorno
John Keats
John Mateer
John Updike
Jonathan Littell
Jonathan Safran Foer
Jonathan Swift
Jorge Amado
Jorge Luis Borges
José Eduardo Agualusa
José Gardeazabal
José Mateos
Joseph Brodsky
Joseph Cervavolo
József Attila
Juan José Millás
Juan Ramón Jiménez
Judith Herzberg
Junko Takahashi
Justine Hermitage
Katerina Angheláki-Rooke
Kathy Acker
Kendra Grant
Kenneth Patchen
Kenneth Traynor
Kosntandinos Kavafis
Kristina H.
Langston Hughes
Larissa Szporluk
Lauren Mendinueta
Laurie Anderson
Lawrence Ferlinghetti
Lêdo Ivo
Leila Miccolis
Leonard Cohen
Leonardo Chioda
Leonardo Da Vinci
Leopoldo María Panero
Lewis Carroll
liam ryan
Lígia Reyes
Lord Byron
Lou Andreas-Salomé
Lou Reed
Louis Aragon
Louis Buisseret
Lourdes Espínola
Lucía Estrada
Luis Alberto de Cuenca
Luís Filipe Parrado
Luis García Montero
Malcolm Lowry
Manoel de Barros
Manuel Arana
Marco Mackaaij
Margaret Atwood
María Sánchez
Marianne Boruch
Mariano Peyrou
Marin Sorescu
Marina Colasanti
Martha Carolina Dávila
Martin Amis
Mary Elizabeth Frye
Mary Jo Salter
Mary Oliver
Mary Ruefle
Max Porter
Medlar Lucan & Durian Gray
Melissa Witcombe
Mia Couto
Michael Drayton
Michel Carpassou
Michel Houellebecq
Miguel de Cervantes
Miriam Reyes
Mitch Albom
Morgan Parker
Muhammad al-Maghut
Muriel Rukeyser
Natsume Soseki
Neil Gaiman
Nicanor Parra
Nichita Stanescu
Nicole Blackman
Nina Rizzi
Octavio Paz
Olga Orozco
Omar Khayyam
Osho
Otávio Campos
Pablo Fidalgo Lareo
Pablo García Casado
Pablo Neruda
Pat Boran
Patricia Beer
Patti Smith
Paul Éluard
Paul Géraldy
Paul Theroux
Paulo Leminski
Pentti Saaritsa
Per Aage Brandt
Pere Gimferrer
Philip Larkin
Philip Roth
Philippe Wollney
Pia Tafdrup
Pier Paolo Pasolini
Pierre Reverdy
Piotr Sommer
Rafael Alberti
Rainer Maria Rilke
Ramón Gómez de la Serna
Raúl Gustavo Aguirre
Raymond Carver
Raymond Queneau
Reinaldo Ferreira
Reiner Kunze
Richard Brautigan
Richard Burton
Roald Dahl
Robert Creeley
Robert Frost
Roberto Bolaño
Roberto Fernández Retamar
Roberto Juarroz
Robin Robertson
Rod McKuen
Roger Wolfe
Ron Padgett
Rosa Aliaga Ibañez
Rosemarie Urquico
Rubens Borba de Moraes
Rudyard Kipling
Russell Edson
Ruth Stone
Ryan Montanti
Saiónji Sanekane
Salman Rushdie
Salvador Novo
Sam Shepard
Samuel Beckett
Sandro Penna
Santiago Nazarian
Sei Shonagon
Serge Gainsbourg
Sharon Olds
Shel Silverstein
Silvia Chueire
Silvia Ugidos
Simone de Beauvoir
Somerset Maugham
Stephen Crane
Stephen Wright
Steve Mccaffery
Stevie Smith
Stuart Dischell
Sue Goyette
Susana Cabuchi
Sylvia Plath
T. S. Eliot
Tai Fu Ku
Tanya Davis
Tati Bernard
Tatianna Rei Moonshadow
Tennessee Williams
Thom Gunn
Tiago Fabris Rendelli
Tilly Strauss
Tom Baker
Tom Waits
Toni Montesinos Gilbert
Ulla Hahn
Valentine de Saint-Point
Vicente Aleixandre
Victor Heringer
Victor Prado
Vincenzo Cardarelli
Vinicius de Moraes
Vladimir Maiakovski
Vladimir Nabokov
W. H. Auden
Walt Whitman
Warsan Shire
William Blake
William Butler Yeats
William Carlos Williams
William Shakespeare
Winnie Meisler
Winona Baker
Wislawa Szymborska
Yehuda Amichai
Yohji Yamamoto
Yoko Ono
Yorgos Seferis
Zee Avi
livraria
. A Sul de Nenhum Norte .
. Granta .
Adolfo Bioy Casares .
Al Berto .
Alexandre O'Neill .
Algernon Blackwood .
Ali Smith .
Alice Munro .
Alice Turvo .
Almanaque do Dr. Thackery .
Anaïs Nin .
Anita Brookner .
Ann Beattie .
Annemarie Schwarzenbach .
Anton Tchekhov .
António Ferra .
António Lobo Antunes .
Arthur Miller .
Boris Vian .
Bret Easton Ellis .
Carlos de Oliveira .
Carson McCullers .
Charles Bukowski .
Chuck Palahniuk .
Clarice Lispector .
Conde de Lautréamont .
Cormac McCarthy .
Cristiane Lisbôa .
Donald Barthelme .
Doris Lessing .
Dulce Maria Cardoso .
Edith Wharton .
Eileen Chang .
Elena Ferrante .
Enrique Vila-Matas .
Erasmo de Roterdão .
Ernest Hemingway .
Ernesto Sampaio .
F. Scott Fitzgerald .
Fernando Pessoa .
Flannery O'Connor .
Florbela Espanca .
Françoise Sagan .
Franz Kafka .
Frida Kahlo .
Gabriel García Márquez .
Gonçalo M. Tavares .
Graça Pina de Morais .
Gustave Flaubert .
Guy de Maupassant .
Harold Pinter .
Haruki Murakami .
Henri Michaux .
Herberto Hélder .
Hunter S. Thompson .
Irene Lisboa .
Irène Némirovsky .
Italo Calvino .
J. D. Salinger .
Jack Kerouac .
James Joyce .
Jean Cocteau .
Jean Genet .
Jean Meckert .
Jean-Paul Sartre .
Jeffrey Eugenides .
Jim Cartwright .
Joan Didion .
John Cheever .
José Jorge Letria .
José Saramago .
Josep Pla .
Julian Barnes .
Julio Cortázar .
Karen Blixen .
Kate Chopin .
Katherine Mansfield .
Kurt Vonnegut .
Lázaro Covadlo .
Lillian Hellman .
Luís de Sttau Monteiro .
Luís Miguel Nava .
Luiz Pacheco .
Lydia Davis .
Lygia Fagundes Telles .
Malcolm Lowry .
Manuel Hermínio Monteiro .
Manuel Jorge Marmelo .
Marcel Proust .
Margaret Atwood .
Marguerite Duras .
Marguerite Yourcenar .
Marina Tsvetáeva .
Mário C. Brum .
Mário-Henrique Leiria .
Mark Lindquist .
Marquis de Sade .
Max Aub .
Miguel Castro Henriques .
Miguel Esteves Cardoso .
Miguel Martins .
Milan Kundera .
Natalia Ginzburg .
Neil Gaiman .
Nick Cave .
Norman Rush .
Orhan Pamuk .
Oscar Wilde .
Paul Auster .
Paulo Rodrigues Ferreira .
Pedro Mexia .
Penelope Fitzgerald .
Pierre Louÿs .
Rainer Maria Rilke .
Rainer Werner Fassbinder .
Raul Brandão .
Ray Bradbury .
Rebecca West .
Regina Guimarães .
Richard Yates .
Roland Barthes .
Roland Topor .
Rolf Dieter Brinkmann .
Rui Nunes .
S. E. Hinton .
Sam Shepard .
Samuel Beckett .
Sarah Kane .
Sebastian Barry .
Shirley Jackson .
Stig Dagerman .
Susan Sontag .
Susana Moreira Marques .
Sylvia Plath .
Tennessee Williams .
Teresa Veiga .
Tom Baker .
Truman Capote .
valter hugo mãe .
Vasco Gato .
Vera Lagoa .
Vergílio Ferreira .
Virginia Woolf .
Vladimir Nabokov .
William Faulkner .
Woody Allen .
Yasunari Kawabata .
Yukio Mishima .